22 - Acasos de recuperações

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A culpa era um sentimento corrosivo.

Sem dúvidas, uma das piores sensações existentes. Sentir isso e tentar não afundar no buraco do próprio peito que a culpa cavou profundamente é difícil, desgastante e completamente cansativo.

Wei Wuxian podia dizer que em boa parte da sua vida sentiu uma culpa por existir, mesmo sem entender exatamente o porquê, mas era uma bagagem que ele parecia carregar desde muito tempo atrás. Era inexplicável.

Agora, depois de quase perder A-Yuan, a culpa estava se aprofundando tão fundo em seu peito que ele achava difícil respirar.

Lan WangJi estava limpando seus ferimentos com tanta cautela que Wei Wuxian quase ficava na dúvida se ele estava mesmo mexendo nos machucados. Era confortante demais ser cuidado, a única pessoa que fazia isso com ele era sua irmã.

"Lan Zhan, você já limpou pés de crianças assim?" - começou a conversar para quebrar o gelo. Era o que fazia de melhor.

"Já." - o pediatra respondeu sem olhá-lo, concentrado em desinfectar seus machucados. Teve que um ardeu tanto que Wei Wuxian não conseguiu segurar um gemido dolorido.

"Aiii!" - fez uma careta de dor. - "Tem certeza que passar isso é necessário, Lan Zhan?" - se referiu ao medicamento.

"Sim, para não infeccionar." - respondeu compenetrado, mantendo o tom impassível.

"Você fala como se isso fosse um machucado gravíssimo." - debochou. Na mesma hora que ele disse isso, Lan WangJi mostrou um caco de vidro que tinha tirado do seu pé com uma expressão séria.

Wei Wuxian torceu a cara, não querendo ceder. - "Não é grande coisa."

O médico o ignorou e, obviamente, permaneceu fazendo seu trabalho.

"Quando vamos poder ver A-Yuan?" - indagou preocupado.

"Daqui a pouco."

"Ele deve está com fome." - suspirou. - "Se bem que deve está dormindo despreocupado. Aquele menino só sabe dormir."

Lan WangJi passou para inspecionar seu outro pé, apenas ouvindo o que ele tinha a dizer.

"Agora eu que estou com fome, Lan Zhan." - colocou as mãos por trás da cabeça da maca que estava deitado.

"Mn."

"Lan Zhan, eu tô muito tempo parado. Você tá perto aí?" - queria muito sair.

"Mn." - foi vago.

Wei Wuxian bufou e numa atitude um pouco atrevida, ele se moveu bruscamente e jogou seu corpo para cima, buscando se movimentar.

Para sua surpresa, Lan WangJi agarrou sua panturrilha com uma mão o impedindo de se levantar e o puxou para mais perto de si novamente.

O tatuador se engasgou com a própria saliva, impactado com o gesto e com a força do homem.

O médico o encarou firmemente. - "Não se mexa."

Em pensamentos um pouco distantes dali, Wei Wuxian imaginou o médico agarrando seus calcanhares em outro cenário e de um modo completamente diferente.

Alguém bateu na porta e Lan WangJi permitiu que a pessoa entrasse. Era Lan Xichen.

"Boa noite!" - já era de noite? Wei Wuxian nem viu o tempo passar. - "Vim vê-los. Soube do que aconteceu com A-Yuan." - seu semblante tão comumente gentil estava pesaroso.

Lan WangJi e Wei Wuxian olharam para ele sem saberem o que falar, estavam tão preocupados como o oncologista.

Vendo o estado dos dois, Lan Xichen procurou ser positivo. - "Eu fui verificá-lo, ele está muito bem. Sei que é difícil, mas não se preocupem tanto."

UM BEBÊ EM MINHA PORTA | wangxianOnde as histórias ganham vida. Descobre agora