29 - Acasos de conseguir respirar depois de muito tempo submerso

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Quinze anos atrás

"Engole o choro, Wei Wuxian." - Yu Yizhan disse com desprezo quando ele se cortou com uma faca enquanto preparava seu lanche. A criança tentou fazer o que foi mandado, mas a dor era tão forte que não conseguiu, os soluços saíam sem controle. - "Onde já se viu um homem chorar desse jeito, não aja como moleque."

Ele não estava agindo como moleque, pensou chorando, estava doendo de verdade. Estava saindo muito sangue da sua mão.

"Mas o que está acontecendo..." - Jiang Yanli falava enquanto entrava na cozinha assustada por ter ouvido os gritos da sua mãe mais altos que o normal. - "A-Xian." - foi a vez dela gritar desesperada quando viu a mão do irmão coberta de um líquido vermelho assustador. - "O que aconteceu?" - perguntou angustiada enquanto pegava um pano de prato em cima do balcão, estancando o sangramento do irmão que chorava muito.

"Eu...me...cortei, shijie. Descul...pa" - dizia aos soluços.

"Por que você foi mexer com faca? Já disse que é para me chamar quando for fazer seus lanches." - perguntou pesarosa.

"Pelo amor de Deus, Yanli." - sua mãe resmungou irritada, levantando da cadeira que estava sentada e levou seu prato até a pia como se nada demais estivesse acontecendo. - "Isso é um corte supérfluo, não precisa de tanto drama." - praguejou, então olhou para Wei Wuxian com aquele típico olhar de indiferença. - "Ele já é bem grandinho para realizar as próprias refeições, precisa aprender." - começou a falar diretamente com o garoto. - "Engole o choro, Wei Wuxian, você está patético. Não fique chorando assim na frente das pessoas e ,muito menos, por algo tão ridículo. Se não é forte o suficiente para aguentar um corte de nada, como vai suportar as dificuldades da vida?"

E então, Wei Wuxian fez o que ela mandou: engoliu o choro.

Não somente naquele momento, mas em todos os outros. Para que chorar? Qual a utilidade?

Depois disso, tudo que ele fez foi engolir o choro e seguir em frente, mesmo com o nó insuportável na garganta.

Tinha que ser mais forte que isso.

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Dois anos atrás

"Você está bem, Wei Ying?" - Lan WangJi gentilmente perguntou quando viu Wei Wuxian encostado em uma janela que se localizava no final do corredor, a visão de fora do vidro não era nada boa: tinha prédios sujos e fios embolados, mas de alguma forma Wei Wuxian sentiu uma sensação de reconhecimento àquela sujeira, tanto que não se importava com mais nada além de observá-la de forma imersiva. Pertenceu àquela visão quebrada.

"Estou, Lan Zhan. Por que não estaria?" - deu um gole no álcool que estava tomando, sem tirar os olhos da janela. Não sabia se poderia desabar olhando nos olhos dourados e profundos de Lan WangJi, então evitou.

Engoliu o choro.

Lan WangJi não respondeu nada, apenas continuou o observando por um longo tempo. Por algum motivo, Wei Wuxian sabia que o outro tinha noção que ele estava mentindo. Entretanto, diferente de outros, Lan WangJi não forçou e ficou em silêncio.

Somente suspirou e encostou-se na parede na sua frente, fazendo-o companhia e isso significou tanto para ele...

Não saberia dizer por quanto tempo continuaram ali apenas encarando a visão horrorosa da janela do prédio duvidoso que moravam, mas com ele ali, Wei Wuxian não se sentiu sozinho e fazia tanto tempo que ele não se sentia assim.

UM BEBÊ EM MINHA PORTA | wangxianOnde as histórias ganham vida. Descobre agora