Capítulo 3

355 6 1
                                    

     Thud. Thud. Thud.

      Charlie acordou assustada, desorientada. Algo estava a bater à sua porta, tentando forçar a sua entrada.

      "Oh, por amor de deus," disse Jessica mal humorada, e Charlie piscou e sentou-se.

      Certo. O motel. Hurricane. Alguém estava a bater à porta. Enquanto Jessica foi atender, Charlie saiu da cama e olhou para o relógio. Eram 10:00 da manhã. Ela olhou pela janela para o novo dia brilhante. Ela tinha dormido pior que o habitual, não pesadelos, mas sonhos escuros que ela não conseguia praticamente lembrar, coisas que lhe ficaram para além do fundo da mente, imagens que ela não conseguia apanhar.

      "Charlieeeee!" alguém estava a berrar. Charlie foi até à porta e encontrou-se imediatamente envolvida num abraço, os seus braços carnudos de Marla agarrando-a como um torniquete. Charlie abraçou-a de volta, mais apertado do que ela pretendia. Quando Marla largou, ela recuou, sorridente. Os humores de Marla eram sempre tão intensos que eram contagiosos, espalhando-se para quem quer que esteja no seu caminhos. Quando ela estava triste, um manto caiu em todos os seus amigos, o sol escondido atrás da sua nuvem. Quando ela estava feliz, como agora, era impossível evitar a elevação da sua alegria. Ela estava sempre ofegante, sempre ligeiramente dispersa, sempre dando a impressão que estava atrasada, apesar de quase nunca estar. Marla estava a usar uma blusa solta vermelho-escuro, e ficava-lhe bem, destacando a sua pele clara e cabelo castanho-escuro.

       Charlie manteve um melhor contato com Marla do que os outros. Marla era o tipo que tornava fácil permanecer amiga, mesmo à distância. Até mesmo em criança ela estava sempre a enviar cartas e postais, implacável se Charlie não respondesse a cada um. Ela era resolutamente positiva e assumia que toda a gente gostava dela a não ser que deixassem claro o contrário, usando os palavrões adequados. Charlie admirava isso nela---ela própria, embora não seja tímida, estava sempre calculando: Aquela pessoa gosta de mim? Estarão apenas a ser educados? Como é que as pessoas diferenciam? Marla tinha vindo visitá-la uma vez quando tinham doze. Ela tinha encantado a tia de Charlie e fez amigos rápidos com os seus amigos da escola enquanto ainda deixava bem claro que ela era amiga de Charlie, e ela estava ali só para ver Charlie.

      O gigante sorriso de Marla tornou-se sério enquanto ela estudava Charlie, espreitando-a como se tentasse localizar as diferenças desde a última vez que se viram. "Estás pálida como sempre." Ela agarrou as mãos de Charlie. "E estás toda húmida. Nunca te aqueces?" Ela largou as mãos de Charlie e procedeu a estudar o quarto do motel cética, como se não se soubesse exatamente o que era.  

     "É a suíte de luxo," disse Jessica sem expressão enquanto procurava por algo na sua mala. O seu cabelo estava espetado para todas as direções, e Charlie reprimiu um sorriso. Era bom ver algo em Jessica em desordem por uma vez. Jessica encontrou a sua escova e segurou-a triunfantemente. "Ha! Toma lá, frisado matinal!"

      "Entra," disse Charlie, apercebendo-se que ela e Marla ainda estavam à entrada, a porta toda aberta. Marla assentiu. 

       "Um segundo. JASON!" ela gritou pela porta. Ninguém apareceu. "JASON!"

       Um jovem rapaz veio a trotar da estrada. Ele era pequeno e magro, pele mais escura que a da sua meia-irmã. A sua T-shirt do Batman e calções pretos eram feitas para alguém do dobro do seu tamanho. O seu cabelo estava cortado junto à cabeça, e os seus braços e pernas estavam manchados de terra. 

       "Estavas a brincar na estrada?" demandou Marla.

       "Não?" disse ele.

       "Sim, estavas. Não faças isso. Se fores morto, Mãe vai-me culpar. Entra." Marla empurrou o seu irmão caçula para dentro e abanou a cabeça.

(1) Five Nights at Freddy's: Olhos Prateados (PT-PT)Where stories live. Discover now