Capítulo 15 - O Rapto da Sereia

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Submundo

Os portões do Submundo se sacudiram e o Rio Estige se revolveu em ondas furiosas. Os lamentos das almas que penavam ali calaram-se com medo da fúria de seu senhor. O deus do domínio dos mortos arrebentou a entrada do seu próprio castelo fazendo as enormes portas de ferro derreterem-se, transformando-as em uma pilha contorcida de metal fundido.

O ser negro que tentava a todo custo tomar sua mulher ainda estava sobre ela. Perséfone se contorcia tentando afastar a criatura que estava em forma humana, mas mantinhas a enormes garras negras, que provocavam rasgos em sua pele branca, conforme ela lutava contra a investidas nojentas. Seus gritos cessaram ao ver a figura aterradora de seu marido adentrar a sala onde estava. O homem envolto em fumaça negra exibia asas igualmente negras e um enorme bidente de bronze afiado, em sua mão esquerda.

Os olhos dele completamente pretos em suas órbitas, encontraram os azuis cheios de lágrimas dela. Primeiro ele franziu o cenho ao percorrer o olhar sobre o estado deplorável de sua esposa, sentindo um nó doloroso se formar em sua garganta. E depois, com um urro assustador ele arrancou o espectro de cima dela com apenas uma das mãos, a energia que o envolvia era tão intensa que o peso era nulo para ele.

O homem de aparência sinistra foi jogado contra o teto cortinado de vermelho da sala e caiu em seguida com um baque alto no chão na frente de Hades. Seus dentes pontiagudos como serras se ergueram num rosnado contra seu próprio senhor, demonstrando que o instinto animalesco o dominava por completo.

Hades olhou mais uma vez para sua esposa encolhida no canto com pernas e braços sangrando. O abdome exibia arranhões através do tecido rasgado e o pescoço estava repleto de marcas de mordidas esféricas, exatamente como o formato da boca de verme do ser a seus pés.

- Como ousa tocar a minha mulher, ser imundo?! - berrou na cara do espectro que se encolheu parando na hora de rosnar. Se Hades causava medo estando calmo, quando estava com ódio causava pavor.

Seu pé esquerdo pousou na garganta da criatura que se contorceu com o peso de sua bota de ferro. O espectro tossiu sangue e puxou o ar tentando respirar.

- Vai pagar por cada corte, cada gota de sangue dela, cada digital imunda sua no corpo que só eu posso tocar! - Ele disse entre os dentes e de alguma forma aquilo foi mais assustador que o grito.

A criatura guinchou sentindo o peso do pé de seu senhor lhe esmagar o tórax, quando Hades ergueu a perna e a afundou com vontade nas costelas do lado direito do ser. O barulho de ossos esmigalhando foi audível e ecoou na sala. Perséfone fechou os olhos e virou o rosto, quando o sangue escuro jorrou das perfurações de ossos da costela estilhaçada do espectro.

- Pernas... - Ele enfiou o bidente na articulação entre coxa e tronco e torceu a arma, puxando-a lentamente, arrancando o membro direito. Depois fez o mesmo com o esquerdo. - Braços... - Hades soltou o bidente e agarrou com as próprias mãos ambos os braços do espectro e puxou-os para lados opostos, ouvindo satisfeito o som das carnes e músculos se desprendendo do tronco.

A poça viscosa que se formava no tapete da sala só aumentava. O ser já agonizava quase não emitindo mais sons, além de alguns gemidos esparsos. Se fosse qualquer outra espécie, já teria morrido.

- Agora vamos dar um passeio... - Ele agarrou o que restava da criatura pelo pescoço e sumiu, reaparecendo no topo da torre mais alta da Morada dos Mortos.

Perséfone se levantou cambaleante e muito dolorida e usando o restante de suas forças seguiu o rastro do marido, encontrando-o no topo do castelo.

Hades ergueu as asas negras e ordenou que todos os espectros e almas e criaturas a seu serviço se reunissem abaixo dos muros do castelo. Seu vulto grandioso e o poder assustador causado pelo ódio de ver sua mulher ferida fazia sua energia negra circular entre eles causando uma opressão tão grande que todos tremiam ajoelhados perante sua presença. Era como se o luto de todos os mortos do mundo estivesse concentrado num só lugar, tornando a atmosfera dolorosa demais até para se respirar. Todas as flores do Olimpo murcharam, e as árvores frondosas do Bosque das Ninfas ficaram marrons e apodreceram com a toxicidade da energia que vertia dos subterrâneos do mundo em direção ao topo dele.

Poseidon (Autora: Sra.Jeon)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora