Capítulo 20 - Morre um amigo

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Os dias negros para o Marina estavam apenas começando. A batalha com Ares viera muito a calhar para velhos inimigos do reino dos mares, e a disputa de poder estava longe de ter um fim.

Após oitocentos anos de aparente calmaria - bem, não tão calma assim para os que carregavam o fardo de pertencerem a mesma espécie de Heiya e seu marido, mas ainda assim, perto da estrondosa tentativa de golpe, não deixava de ser uma espécie de calmaria - tudo mergulharia no completo caos.

Heiya e Apogêon, agora liderados por um impiedoso e cruel Yoon, não tiveram dificuldades de adentrar o território de Poseidon em sua ausência. As dicas de cada passagem e cada túnel marítimo que davam direito nas entranhas do palácio estavam muito bem decoradas pelos três. O filho deles, primo de Yoon e Lys, os enviara as plantas antes de partir com a tropa para Chernobyl.

Para Yoon foi bem difícil matar o primeiro que cruzou seu caminho, algo ou alguém parecia gritar tão alto em sua cabeça que ele mal conseguia raciocinar, mas Heiya segurou seu pulso e o ajudou a enfiar a espada bem fundo no guarda à sua frente e depois de ver as cores vívidas se esvaindo aos poucos do olhar do homem, ficou mais fácil. Prazeroso, talvez?

E assim, um após o outro, os guardas do palácio foram caindo e caindo e caindo, manchando de sangue os chãos de mármore perolado do luxuoso local.

Foi com a espada gotejando sangue e os pés descalços, deixando viscosas pegadas vermelhas por seu trajeto, que chegaram os três as portas da imensa sala do trono. Hora e lugar favoreciam a desgraça, e um desavisado ex general estava caminhando direto para seu fatídico destino.

T, não mais General T, estava voltando uma última vez para despedir-se das paredes repletas de quadros que retratavam os triunfos do deus dos mares. Na maioria ele estivera ao seu lado e tinha orgulho da época em que poderia afirmar que seu senhor era justo.

A cabeça baixa e os longos cabelos negros cobriam parcialmente a visão do sereiano e não seria mentira dizer que as lágrimas embaçavam sua visão. Ele estava tão imenso em seus pensamentos saudosos que não estranhou o pesado silêncio que recaía sobre o palácio.

Assim que adentrou a sala do trono, seus olhos vislumbraram um borrão sentado no lugar de Poseidon, e então, rapidamente ele tratou de secar as lágrimas para que a visão clareasse.

Yoon sorriu de lado, aos pés dele jaziam mortos todos os guardas da jóias dos mares que ali ficavam dispostas. Um amontoado mórbido era tudo o que restava dos companheiros. A boca do sereiano T se entreabriu em uma exclamação vazia, ia ensaiar uma pergunta. Mas qual? "Quem é você? O que quer aqui? Como entrou?"

Mas nada disso foi necessário porque Apogêon entrou na frente de Yoon, desviando a atenção para si. Seu sorriso cínico foi de imediato reconhecido pelo rapaz.

Às suas costas a familiar voz de mulher soprou em seu ouvido.

- Meu plano original era que sua irmã visse isso, e seus amiguinhos também, mas não temos tempo...

Antes que pronunciasse o nome dela, a ponta da espada surgiu pela frente de seu abdome. Heiya acabara de transpassá-lo pelas costas.

T pensou: " Ah! Como sempre ela ataca pelas costas!"

- Você nunca mereceu ser um sereiano, - disse Apogêon enquanto o via sangrar - vergonha do nosso povo! - ele agarrou os longos cabelos de T e cortou-os, segurando o pesado chumaço negro à frente de sua vítima sacudindo-o. - Eu quis tanto ver essa sua cara idiota se contorcendo pela agonia da morte... Isso me dá tanto prazer. - o homem puxou o ar entre os dentes num gemido de satisfação. - Isso aqui, - ele mais uma vez balançou as mechas - eu mostrarei a sua irmãzinha antes de matá-la, mas primeiro ela vai me satisfazer de todas as formas mais devassas que você possa imaginar... - passou a língua pelos lábios - Pode imaginar seu amigo, noivo de sua irmã, me vendo cavalga-la?

Poseidon (Autora: Sra.Jeon)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora