Capítulo 1

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2018

KAROL

Segunda feira, 06:30 a.m

Acordo com um barulho insuportável em meus ouvidos. Era meu despertador. Precisava estar na escola as 08:00.

Levanto e vou tomar banho. Minha cabeça está doendo muito, talvez seja as bebidas que tomei ontem a noite. Amo ser professora, mas esse trabalho as vezes é tão cansativo. A única coisa que me segura nessa cidade é a mensagem deixada na minha parede a 1 mês atrás. "Eu sei onde está sua filha".

Pego as chaves do carro e entro nele. Olho para o banco do passageiro e vejo uma pilha de papéis. Eram os trabalhos que era para eu ter corrigido ontem. Ligo o carro e vou em direção da escola. Chego na escola e ando em direção da porta de entrada. Começo a olhar ao redor. E é o mesmo cenário que vejo sempre. Nada muda na cidade de Greenbow.

Entro na escola e escuto uma voz alta e irritada.

      - Senhorita Karol.

      - Sim?

Era o Sr. Ben. O diretor da escola.

     - Espero que não tenha enchido a cara de novo.

     - Não se preocupe. Não fiz isso ainda.

     - Chega de suas gracinhas. Estou recebendo reclamações de pais de alunos dizendo que você não dá aula direito.

     - Não tenho culpa que o jeito que dou aula incomoda essa gente.

     - Tente mudar pelo menos um pouco. Certo?

Não.

     - Certo.

Sr. Ben não era uma pessoa ruim, só era chato na maioria das vezes. Ele era um homem gordo e careca. E tinha um grande bigode. Sempre estava com uma camisa listrada e uma calça jeans.

     Entro na sala do 9° ano. Todos os alunos estão em seus celulares. Alguns se sentam quando eu entro, mas alguns nem ligam e continuam a conversar e mexer nos celulares.

Passo pela sala e chego no quadro. Dentro da bolsa, pego um giz e começo a escrever no quadro negro. Assim que terminei, olho para trás e vejo que apenas 3 alunos de 20 estão copiando. Pego o apagador e bato com força no quadro. Todo olham para mim.

     - Guardem os celulares agora.

Todos fingem guardar e continuam mexendo. Eu percebo na hora, mas não faço nada. Apenas começo a explicar o conteúdo.

Apenas ensino para quem quer aprender. Essa era a frase que minha mãe falava.

Depois de um tempo, o sinal toca e me retiro da sala.

     - Oi.

Me viro para trás e vejo Mary, minha amiga que também era professora.

     - Olá, o que conta?

     - Nada. E você? Alguma notícia sobre a mensagem deixada pra você?

     - Não. Infelizmente.

Tivemos uma conversa bem longa. Quando finamente chegou o horário de ir embora, estava saindo da escola quando escuto umas risadas. Caminho em direção delas, então chego em uma área restrita da escola. Era uma grande sala onde era feito aulas de natação. Mas foi fechada depois que um corpo foi encontrado boiando na piscina. A sala estava uma imundice, nem parecia fazer parte de uma escola. A água estava tão suja que nem o fundo era possível de se ver. Então eu vejo três adolescentes cercando outro aluno. Um deles estava segurando uma sacola preta.

     - O quê está acontecendo aqui?

Eu grito. Os três adolescentes soltam a sacola e saem correndo. Chego perto e vejo quem estava deitado no chão. Era Thiago. Um dos alunos do 7° ano.

     - O quê fizeram com você?

Falo enquanto levanto ele.

     - Eles estavam tentando jogar aquilo em mim.

     - O quê tem aqui dentro?

Do nada, uma cobra sai de dentro da sacola.

     - Tira isso de perto de mim.

Grita Thiago.

     - Ok.

Pego a conta e coloco dentro da sacola de novo.

     - Thiago, quem era eles?

Ele não me responde. Olho para trás e ele não está mais ali. Saiu correndo. Ele não precisava falar nada. Eu sabia quem tinha feito isso.

     - Merda.

Olho para a sacola com a cobra dentro. Volto para o carro e saio.

     Antes de ir para casa. Eu tinha que passar pelo bosque e deixar a cobra lá. Quando cheguei, soltei a cobra no bosque. Olhei em volta, e uma memória passa pela minha cabeça. Minha filha tinha apenas 10 anos quando entrou nesse bosque. Ela entrou para nunca mais voltar.

     Era eu e ela. Íamos fazer um piquenique ali. Então ela viu um pássaro que achou muito interessante. Ela amava observar pássaros. Eliza era loira, nesse dia estava usando uma roupa azul clara. E umas sandálias. Assim que ela viu o pássaro, ela entrou para dentro do bosque para tentar tirar uma foto dele. Mas ela estava demorando muito. Então liguei para ela. Não me atendeu. Tentei de novo e nada.

     Na 3° tentativa, entrei para dentro do bosque. E escutei o som do toque do celular dela. Caminhei na direção da música, e achei. Não Ela, e sim seu celular no chão.

     -ELIZA.

     Gritei desesperada. Mas o que me respondia era apenas o silêncio. A noite caiu e nada de Eliza voltar. Voltei para o local do piquenique, e vi uma boneca estranha deixada em cima da toalha. Não lembro de Eliza trazer uma para cá. Pego e jogo fora.

     Relato o que aconteceu com a polícia. Mas não deu em nada. Isso já faz mais de 2 meses. E nenhum rastro de Eliza foi encontrado. Minha vida estava indo de mal a pior. Não pensava em mais nada, só em Eliza. Então um dia, acordei e fui escovar os dentes, escuto alguém correndo dentro de minha casa. E depois a janela se fecha. Pego a espingarda que uso para autodefesa e vou até a sala. Nada anormal. Até eu olhar para as paredes.

    EU SEI ONDE ESTÁ SUA FILHA

Depois disso, tenho esperança de minha filha está viva. E é isso que me move até agora.

Acabei me perdendo em meus pensamentos. Pego a sacola e jogo no lixo. Entro no carro, assim que pego a chave. A janela do meu lado se quebra. Solto um grito e olho para a janela e vejo uma caveira. Uma caveira de um animal. Era uma pessoa usando um capuz preto com uma caveira de animal. Ele levanta as mãos e vejo um Machado. Ligo o carro a tempo e acelero, ele ainda consegue acertar o vidro do banco de trás.

     Meu carro está em alta velocidade. Meu coração está na boca. Quando estou saindo do bosque, vejo uma vã preta atrás de mim. Veio uma curva repentina, e sem querer saio da pista. O carro desligou, a vã já está quase ao meu lado. Desço do carro e corro.

A vã já não está me seguindo. Mas continuo correndo. Depois de um sufoco, estou em casa.

AS BONECAS Onde histórias criam vida. Descubra agora