𝑽𝒊𝒏𝒏𝒊𝒆 𝑯𝒂𝒄𝒌𝒆𝒓 6

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VINNIE HACKER

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VINNIE HACKER

Fiquei no escritório da HackerHouse o máximo de tempo que pude. A maioria dos meus empregados tinha ido embora às sete e, quando olhei para o relógio, eram nove e meia.

Meu celular começou a vibrar, e o nome do Bryce apareceu na tela. Eu ignorei a chamada, mas isso não impediu meu melhor amigo de me mandar uma mensagem na mesma hora.

Bryce: Vai pra casa, Vince.

Eu teria dito que o fato de eu estar ignorando as ligações dele não era nada pessoal, mas estaria mentindo. Desde o acidente, Bryce ligava para ver como eu estava todo santo dia, e eu basicamente o ignorava todo santo dia. Eu estava cansado de mentir para ele, de dizer que estava bem, quando não estava. Estava cansado de ouvir a preocupação na voz dele. Estava cansado da preocupação dele.

Então, mergulhei no trabalho e assim continuei todos os dias até que o último funcionário fosse embora do escritório.

Quando voltei para casa, a menina que chamamos para tomar conta das meninas estava dormindo no sofá. Era uma jovem de 17 anos que Claire contratava nos dias em que não tínhamos babá. Fui até ela e a acordei.

Eu me senti um bosta por ser tão tarde, considerando que ela tinha aula pela manhã.

- Ei, acorde - falei, dando um tapinha em seu ombro.

Eu não me lembrava do nome dela, porque eu era desses babacas que esquecem o nome das pessoas, não importa quantas vezes eu as encontre.

Ela se ergueu um pouco e bocejou.

- Ah, oi, Sr. Hacker.

- Olá. Pode ir para casa agora - avisei.

Ela bocejou novamente.

- Está bem. As meninas se comportaram bem essa noite. Mas a Lorelai não quis tirar as asinhas de borboleta de jeito nenhum, então está dormindo com elas. E a Karla está... Bem, o senhor sabe... Karla.

Por mais estranho que fosse, eu entendia exatamente o que ela queria dizer.

Peguei a carteira e tirei uma nota. Ela balançou a cabeça.

- Ah, não. A Claire já me pagou.

- Aceite um pouco mais, por termos chamado você em cima da hora.

Os olhos dela se arregalaram.

- Mas o senhor está me dando cem dólares.

- É, estou ciente disso. Obrigado pelo seu tempo, hã...

- Madison. - Ela sorriu, dizendo seu nome como sempre precisava fazer. - Igual à capital do Wisconsin.

- Certo. Madison. Boa noite.

Ela foi embora e eu expirei pesadamente. Era sempre bom quando não havia mais ninguém por perto.

Depois de me servir de um copo de uísque com gelo, fiz minhas duas paradas da noite. Primeiro, Lorelai.

O quartinho dela era coberto com seus desenhos. Ela puxara os talentos artísticos da mãe, isso era certo. Sua respiração era silenciosa enquanto ela dormia profundamente com o corpo todo encolhido como uma bola. Fui até ela, como fazia todas as noites, e tirei as asas de borboleta. Ela grunhiu e se debateu um pouco antes de voltar a dormir.

Durante o dia, ela era agitada. Não parava de falar um minuto sequer, e tinha muita energia. À noite, porém, ela era a personificação da tranquilidade. Sua respiração era sempre suave e silenciosa.

Eu me ajoelhei ao lado dela e coloquei seu cabelo atrás da orelha. Dei um beijo em sua testa antes de seguir para o quarto da Karla.

Ela também estava dormindo, mas com o iPhone ao lado e os fones cobrindo as orelhas. Sempre que eu ia dar uma olhada na Karla, a primeira coisa que fazia era checar sua pulsação. Sua respiração era muito mais pesada que a da irmã mais nova e, às vezes, eu podia jurar que as pausas pareciam longas demais.

Ou talvez fosse apenas minha cabeça preocupada.

Karla Lynn Hacker nasceu prematura, três semanas antes do previsto. Ela ficou na UTI durante cinco semanas, sofrendo com problemas respiratórios. Houve um momento em que não sabíamos se ela sobreviveria, mas, desde o primeiro dia, minha menina foi uma guerreira. Quando Nicole e eu a trouxemos para casa, eu fiquei sentado ao lado do berço dela por semanas, tomando conta de suas respirações. Cada inspiração e cada expiração estavam marcadas na minha mente. E eu dormia no chão ao lado do berço todas as noites, para garantir que os pulmões dela ainda estavam se enchendo e se esvaziando em um ritmo normal.

No acidente, dez meses atrás, um pulmão dela havia sido perfurado, o que fez com que ela passasse a ter dificuldades respiratórias. Embora o pulmão tivesse se recuperado, eu não conseguia deixar de sentir medo. Por isso, todas as noites, eu verificava a respiração dela. Eu também me condenava toda vez que ela perdia uma inspiração. Se não tivesse sido pelo meu erro, ela não estaria sofrendo tanto.

Se meus olhos estivessem focados na estrada...

Meu cérebro divagava para o pior dia da minha vida. Eu não tinha controle sobre meus próprios pensamentos.

Removi os fones da Karla, então me sentei no pé da cama e os coloquei na minha própria cabeça. Ela ouvia a mesma coisa toda noite, o que significava que eu também o fazia.

Fechei os olhos enquanto a gravação tocava.
"Eu te amo, Karla, minha linda", dizia o áudio na voz da Nicole, repetidamente.

Eu te amo, Karla, minha linda. Eu te amo, Karla, minha linda. Eu te amo, Karla, minha linda...

A voz da minha esposa ecoava no mais lindo loop. Retorci os dedos e baixei a cabeça enquanto ouvia as palavras dela.

Quando ficou pesado demais, eu coloquei os fones de volta nas orelhas de Karla, dei um beijo em sua testa e fui para o meu quarto.

Eu me sentei em meu quarto escuro, sem nenhum som além do tique-taque do relógio na parede. O tempo estava passando, e minha mente trabalhava contra mim.

As palavras ainda pairavam em minha mente quando fechei bem os olhos e me deitei para tentar dormir. Mas o sono nunca vinha fácil.
Eu odiava fechar os olhos, porque, sempre que o fazia, via o rosto da Nicole.

Pesadelos não eram nada em comparação com a cruel realidade. Meus dias agora eram difíceis, mas minhas lembranças eram o que mais me fazia sofrer.

- Vinnie... - disse a voz dela sussurrada para mim.

Eu me virei para a direita e vi a testa da Nicole encostada no airbag inflado. Seus olhos estavam repletos de medo e pânico.

Balancei a cabeça, abrindo os olhos. Esfreguei as mãos no rosto, tentando afastar aquele pesadelo da vida real da minha mente. Não havia um único dia em que eu não me culpasse por não ter entendido melhor qual era o estado da minha esposa naquele carro. Não se passava um único dia em que eu não me lembrasse de cada erro que tinha cometido aquela noite.

Então, fui para o escritório que tinha montado em casa. Sabia que o sono não iria chegar tão cedo, então continuei trabalhando sem parar para tentar aliviar o peso que era minha própria alma.

Por volta da uma da manhã, meu celular apitou.

Bryce: Vai dormir, cara.

Tentei ao máximo atender ao pedido dele aquela noite, mas, mesmo assim, como em todas as noites, eu falhei.










𝐍𝐨𝐬𝐬𝐨 𝐑𝐞𝐞𝐧𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨 | ⱽⁱⁿⁿⁱᵉ ᴴᵃᶜᵏᵉʳ ツWhere stories live. Discover now