Ameixeira

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Ochako está se sentindo uma princesa.

A casa nas termas da família Todoroki parece algo saído de um filme de época sobre nobres na era Meiji, é simplesmente maravilhosa e a deixou morrendo de vergonha ao ser recebida pela governanta da casa, que a tratou com o mesmo nível de respeito destinado aos donos da propriedade, sendo que ela está aqui como empregada também, tecnicamente.

— Seus aposentos serão ao lado do mestre Shouto. — a senhora a conduziu até um dos quartos e indicou onde ficava o do Todoroki, são bem próximos mesmo, divididos por apenas uma porta, faz sentido considerando que ela está aqui como guarda-costas pessoal dele. Mas mesmo assim, é meio... hã... um pouco constrangedor saber que tem um rapaz a poucos metros de onde ela dorme.

Isso vindo da garota que teve que morder a língua pra não convidar o Kirishima a passar a noite com ela no dia anterior. Ochako queria muito, muito mesmo, que ele ficasse, mas várias coisas a impediram, o fato de ter que acordar cedo no dia seguinte, o colchão velho cheio de ácaros e que range a qualquer movimento menos suave, a possibilidade de ela acabar dormindo pouco ou nada com ele ali ao seu lado... não ia dar certo. Ou ia dar certo até demais, a jovem precisa botar a cabeça no lugar e não se deixar levar pelo desejo de estar com ele onde e como quiser, o Kirishima é um cara incrível, mas tem seus próprios demônios pra enfrentar — a história mal-resolvida com o Tetsutetsu e com uma garota aí que tem muito jeito de ser a Mina, não que ela vá inquiri-lo sobre isso — Ochako não pode ficar se agarrando com alguém que tem essa certa fragilidade emocional, ela não quer que ele pense que só está sendo usado, jamais se perdoaria se o Kirishima passasse a pensar assim, ela gosta muito dele e fica muito feliz de tê-lo como amigo, ali tão pertinho de casa, e os momentos que passam juntos, mesmo quando inesperados como o da lavanderia são algo pelo qual ela sempre deseja. Ochako precisa tomar cuidado pra não ferir os sentimentos dele, ou os seus, nesse processo.

— Eita, Uraraka-chan! Tá tudo bem? Não gostou da comida, foi? — o senhor Natsuo a traz de volta para a realidade. Que vergonha, ela tava vegetando bem no meio do suntuoso almoço que foi servido agora há pouco, depois que todos se instalaram em seus quartos.

— Não, de maneira nenhuma! Está tudo maravilhoso! — ela tenta não babar diante de todas as opções.

— Tem mochi, você viu? — o Todoroki aponta com o hashi, fazendo-a sorrir, sua paixão por mochi é tão conhecida que até ele sabe. Ochako se serve timidamente, perguntando-se para onde vai essa comida toda que claramente não vai ser consumida inteiramente.

— Então... Fuyumi-san, como vão seus alunos? — ela puxa assunto, não suportando o silêncio.

— Ah, muito bem! O Hinata-kun aprendeu a ler, fica lendo tudo que vê pela frente! — elas sorriem, Ochako se lembra de alguns dos alunos que viu de relance nos dias em que acompanhou a moça de cabelos brancos no trabalho dela como professora — Ele ficou mais feliz em aprender a ler do que em ter despertado a individualidade.

— Hahaha, eu entendo, também fiquei mais contente com aprender a ler do que com as bolinhas que apareceram nos meus dedos — ela balança as mãos — Agora elas são mais redondinhas, mas quando eu era criança, eram mais compridas, pareciam aquelas almofadinhas das patas dos gatos, né? Aí eu achava que minha individualidade ia me transformar em um gato, todo dia acordava e corria pro banheiro pra procurar orelhas ou um rabo.

— Você ficaria bem com orelhas de gato. — o Todoroki declara como se estivesse oferecendo um argumento imbatível em um debate. Ochako cora e se sente encolher, ainda mais envergonhada quando o Natsuo dá risada.

— Pô, Shouto! Levou um tempão pra moça ficar à vontade e você deixa ela sem jeito assim?

— Ah, não foi minha intenção. Desculpe.

Aqui ao LadoWhere stories live. Discover now