Aqui ao Lado

Uma pergunta - Parte 1

Eijirou revira os olhos pelo que deve ser a milésima vez. Não há muitas coisas no mundo que ele odeie, mas isso aqui está entre elas.

“Isso aqui”, no caso, é o caos que vira sua vida quando o leilão de arrecadação para a ONG Salve uma Vida se aproxima, é a pior semana do ano desde que ele tem 10 anos, foi quando a tia Nadeshiko começou a se reaproximar da família e decidiu que adorava seu único sobrinho. Desde então, ele é obrigado a participar desse evento desnecessariamente pomposo, foi a única condição que ela impôs em troca de sempre apoiá-lo em qualquer que fosse sua escolha profissional no futuro. Quando EIjirou anunciou que mudara de ideia de novo e tentaria entrar na U.A. depois de concluir o Fundamental, os pais dele não ficaram exatamente contentes com a notícia, nenhum dos dois achavam que combinava muito com ele e até dava pra entender porquê, já que Eijirou nunca contou sobre o incidente com a Mina e sempre deu a entender que sua admiração pelo Crimson Riot  era do tipo “Ah, ele é um herói daora, gostaria de conhecê-lo um dia!” e não do tipo “Eu quero ser como ele um dia!”. A tia Nadeshiko também pareceu um pouco desapontada, ela talvez achasse que carregá-lo pra baixo e pra cima nesses eventos chiques o fariam se apaixonar por esse universo da hotelaria e dos negócios, o que jamais aconteceu. Então ela comentou “Ouvi dizer que as taxas de inscrição e de manutenção na U.A. são bem caras”, sacou um cheque da carteira brilhosa dela e o desejou boa sorte.

Então ele deve muito à tia Nadeshiko. Financeiramente, sim, porque Eijirou pretende reembolsá-la um dia, mas não apenas nisso, ela acreditou nele num momento em que ele ainda não acreditava em si mesmo. Quando ele pintou o cabelo, ela foi a primeira a dizer que tava lindo e que combinava muito mais com ele. Então o mínimo do mínimo que ele pode fazer é meter um terno, ser homem e ir pra essa festa de burguês como se fosse o evento que ele esperou por todo o ano.

De certa forma, é, Eijirou fica na expectativa pra esse leilão porque sabe da chatice que vai ser e fica contando os dias até que aconteça pra que acabe logo. Esse ano será numa sexta, então ele já encucou com o negócio no domingo, nem conseguiu curtir muito a chegada de sua vizinha. A tia mandou o template do convite —  nem precisa mandar um formalmente pois Eijirou simplesmente não pode ser barrado no hotel Hiratani — e ele entendeu o recado como um lembrete passivo agressivo de que é pra estar lá em seu melhor smoking e sorriso, Uraraka chegou pouco tempo depois e ele a abraçou com força e necessidade, como se agarrar a ela trouxesse a energia e paciência necessárias para a semana do cão que terá pela frente. Ela não perguntou nada sobre a conversa que ele mencionou na mensagem, o que foi bom, é melhor deixar passar o leilão, quando ele estará de cabeça fria e poderá bolar um pedido bacana de namoro.

Porque dane-se o que o Tetsutetsu acha, Eijirou não depende de ninguém pra ser feliz além dele mesmo, e ELE MESMO acha que tá pronto pra tornar isso um lance sério, Uraraka vai perder a paciência logo e ele vai tomar atitude antes que isso aconteça. Só uma semana. Se ele sobreviver a essa semana, sobrevive a qualquer coisa.

E quem sabe, esse leilão pode ser milagrosamente interessante dessa vez.

—  Eiji-chan, o que você acha: frésias ou acácias na decoração do lobby? —  esquece, vai ser a mesma merda de sempre, a tia dele tá perguntando sobre flores. Que diabos ele entende disso?

—  Ah… sei lá, tia. Frésias.

—  Certeza?

—  Uhum. —  é o único nome que ele guardou das opções que ela disse. Eijirou checa o celular e pensa no que mandar pra Ura, ele não a viu desde antes de ontem e queria mandar um sinal de vida já que ela não o faz. Uraraka é difícil de entender às vezes, do nada ela se empolga e fica toda… charmosa e sensual, mas na maior parte do tempo é tímida e recatada, deve ter aprendido a esperar o homem tomar a iniciativa, às vezes ela parece não dar muita bola pra essas coisas, às vezes segue isso à risca. Tipo agora.