Epílogo

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O cheiro é indefectível: oyakodon. Algum dia ela terá que contar pra ele que nem gosta tanto assim de oyakodon, e que só se mostrou muito animada para comer tal prato naquela manhã fria do último dia na escola porque queria alguma desculpa pra sair do quarto dele logo, antes que as coisas ficassem ainda mais estranhas. Quanto tempo tem isso? Sete anos? Não, ela tinha 18 na época, então... seis anos. Aquele foi um dos anos mais doidos e intensos de sua vida, e embora muita coisa legal tenha acontecido, Ochako não sente um pingo de saudade.

O Endeavor a querendo como nora, o acidente do Eiji, os perrengues que ela passou quando abandonou um emprego estável na agência do número 1 e pretendente a sogro, eca, para se arriscar com o Todoroki em uma nova agência sem nenhuma garantia de que daria certo, o chove não molha dela com o Eiji, que se arrastou para além daquele ano maluco por mais alguns meses. É, sempre que ela se pegar pensando que as coisas não vão bem, vai ter que rever e usar o fatídico ano como parâmetro para algo realmente ruim.

Até porque as coisas vão lá pra de bem. A aposta na Agência Shouto se mostrou a escolha certa, o herói híbrido já tinha um certo prestígio graças ao pai, verdade seja dita, mas se tudo deu certo até hoje, é porque o Shouto é o completo oposto do Endeavor, o que parece ser algo que o deixa muito aliviado toda vez que ela lhe fala isso, Ochako está ganhando bem, conseguindo mandar uma quantia generosa para os pais e ainda ficando com uma reserva boa para si mesma.

O namoro vai muito bem, obrigada. Quando o Eiji deixou de ser seu vizinho e se mudou, uma parte dela tinha a dolorosa certeza de que eles se distanciariam aos poucos até que chegaria o dia em que simplesmente não se falariam mais, vendo um ao outro ocasionalmente em missões e eventos de heróis. Ironicamente, a distância foi o que os aproximou, Ochako começou a fazer terapia, como prometeu ao Shouto, e acompanhou à distância o tratamento do Eiji, que envolvia recuperação física e mental, eles passaram meses trocando mensagens e... fazendo o que deviam ter feito quando ainda eram vizinhos: conversarem e se conhecerem de verdade, sem sair pulando um na cama do outro — não que não tenha acontecido algumas vezes durante aqueles meses, a agência do Suneater é bem pertinho do prédio dela, Eiji aparecia vez ou outra pra passar um tempo com ela.

Ochako ainda fica envergonhada de ser recebida nesse hotel elegantíssimo e ter todos os funcionários a tratando como se fosse filha da dona, sem contar todo o dinheiro em combustível para sua lambretinha que ela gasta para vir até aqui, mas pelo menos agora ela tem certeza de que seu relacionamento é algo maravilhoso, e o mais importante, muito bem definido: Uraraka Ochako e Kirishima Eijirou são namorados. Uravity e Red Riot são um dos casais formados por heróis mais queridos. Eles brigam bastante (naquele ano maluco, só brigaram uma vez) reconciliam-se bastante, os pais dele a adoram, os dela acabaram se rendendo depois de um tempo e... aqui estão eles, comemorando quatro anos de namoro hoje. No geral, tudo está muito bem.

Só esses enjoos matinais que são horríveis, mas a ginecologista disse que seria normal nas primeiras semanas, fora que ela tá acostumada a passar mal desse jeito, embora seja por um motivo bem diferente, que nada tem a ver com sua individualidade.

Ela volta para a cama, meio preguiçosa e enjoada, o oyakodon que o Eiji traz em uma bandeja dificilmente vai descer, mas é melhor não ficar de estômago vazio.

— Fiz café também, ó. — ele coloca uma caneca cor de rosa na bandeja, sorrindo.

— Ain, eu quero, mas... o Shouto-kun vai ralhar comigo. — Ochako choraminga.

— A tia Nadeshiko falou que só um pouco não faz mal, o Todoroki tá de frescura!

— A parte da frescura foi sua tia que disse também, ou é o que você acha?

— É o que eu acho! — ele diz orgulhosamente — Certeza que o Yoarashi concorda comigo, então... você quer café, eu acho que você pode tomar se quiser, e o Yoarashi deve concordar, três contra um, ganhamos! Pode beber! — ele dá risada, parando quando ela não se junta a ele — Que foi?

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