Uma missão

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Ochako está muito mais feliz do que se permite demonstrar quando chega ao trabalho na segunda.

O café não parece tão amargo e o dia que começou meio nublado nem lhe pareceu tão feio, a manhã começou muito bem porque a noite terminou de maneira muito boa. Ela desfez a mala e, nem se tivesse cronometrado, teria obtido um timing tão perfeito, três batidas na porta e lá estava o Kirishima com um sorriso tão grande e iluminado que quase a deixou tonta.

Eles ficaram abraçados por um tempo considerável, Ochako chegou até a se preocupar um pouco pelo modo como ele a agarrava, com muito afeto, claro, mas tinha algo a mais, uma certa necessidade de conforto... mas ao perguntar se tinha acontecido alguma coisa, o ruivo negou, e ela não insistiu, imersa demais no cheiro bom que exalava dele. A morena não imaginava estar com tanta... saudade, mas ao ser envolvida por aqueles braços fortes, memórias da manhã e da ligação dele engatilharam uma vontade quase insana de estar perto dele, e uma grande satisfação por poder fazê-lo.

Depois eles jantaram juntos e trocaram uns amassos na cama, nada mais que isso, Ochako queria mais, mas ele recuou por, ela imaginou, querer ter aquela conversa que havia mencionado na mensagem, mas não, o Kirishima não disse nada, apenas encerrou com um breve selinho e se despediu, ela poderia ter estranhado ou mesmo se incomodado, porém, a expressão dele indicava que não havia nada, muito pelo contrário, ele parecia um tanto contente, como se o pouquinho de tempo que passaram juntos tivesse sido o suficiente para recarregar a energia. Se esse não é o tipo de coisa que faz uma garota se sentir lisonjeada, Ochako não imagina o que mais seria.

Então, mesmo que ela nem tivesse certeza que o Kirishima queria ter a conversa sobre o rumo desse... hã, deles, o rumo deles, a jovem ficou bem aliviada por não tê-la tido. Verdade que uma hora essa indefinição vai incomodá-la, principalmente quando seus pais lhe perguntarem se ela está saindo com alguém — a resposta "tem um rapaz, mas não é nada sério" não é algo que seu pai ficaria muito feliz em ouvir — mas, por ora, Ochako gosta de como as coisas estão. Ligações sensuais, abraços longos e a maravilhosa sensação de ser correspondida — nem que seja só a atração física — são algumas das coisas que ela gostaria de curtir por mais um tempinho.

Por isso ela está bastante feliz, tão plena e relaxada como se sua mente tivesse alcançado o nirvana, que nada a abala muito. Ocorrência de assalto? Lá foi ela pegar o vilão. Entrevista pra TV depois do ocorrido? Fichinha! Relatório da patrulha? Com prazer! Ochako deixou seu dia transcorrer com tal graça e naturalidade que deixam até si mesma surpresa.

Então, quando ela é intimada ao escritório do Endeavor, a jovem se sente ridícula por ter ficado tão nervosa na primeira vez que isso aconteceu. Sim, o chefe é rígido e o olhar dele às vezes a faz se sentir como uma criancinha assustada, mas a postura firme e exigente é essencial para alguém na posição dele, e ser intimidador não é sinônimo de um patrão tirano, insensível ou ruim, o medo dela era um tanto injustificado, o Endeavor é um bom chefe.

E ele não está sozinho, o Todoroki já está no escritório quando Ochako adentra a sala e dá um breve sorriso, respondido com um simples aceno de cabeça.

— Sente-se, Uravity. — ela se senta, tentando não alternar demais o olhar de pai para filho, a sensação estranha e sempre presente de quando os dois se põem frente a frente preenche o ambiente como um miasma — Bom trabalho nas termas, soube que não houve nenhuma ocorrência com o Shouto.

— Não, senhor.

— Exatamente como eu disse que ia acontecer. — o Todoroki resmunga, embora seu tom de voz não expresse cansaço ou irritação — Por que estamos aqui?

— Por que mais seria? Tenho uma missão para vocês. — Ochako se inclina para frente quase que inconscientemente — Vocês estão familiarizados com a Fundação Salve uma Vida?

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