24: A confissão

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P.O.V LENA LUTHOR

Estávamos nos aproximando da roda-gigante e eu estava tentando afastar a imagem da mulher de olhos roxos da mente. Kara claramente não a havia visto e se eu tocasse nesse assunto de novo, ela com certeza entenderia como um sinal de que deveria me internar num hospital psiquiátrico ou coisa do tipo.

"Vamos", eu disse, empurrando Kara até o adolescente que vendia ingressos para o brinquedo.

Abri a bolsa para pagar o ingresso, mas o adolescente ergueu a mão e fez um sinal para que eu parasse.

"Você é a Alfa,  está tudo certo", disse para Kara. Depois acenou em minha direção. "Ela também."

Ah. Parece que estar ao lado da Alfa tinha suas vantagens.

O adolescente nos acompanhou até a entrada do brinquedo, ignorando a fila. Eu me virei para observar a reação de Kara, mas ele apenas deu de ombros e então entramos na nossa cabine.
E
u me sentei e Kara veio se sentar ao meu lado. O adolescente nos ajudou a fechar a trava para garantir nossa segurança.

"Curtam a roda do amor", disse ele com uma piscadela, e então voltou a desaparecer na multidão.

"Não se chamava roda do amor no ano passado", eu disse para ela, sentindo o rosto corar incontrolavelmente.

"Talvez algo esteja diferente este ano", disse ela, e então me deu a mão e nós entrelaçamos os dedos. Antes que eu pudesse pensar muito no gesto, começamos a nos mover. A roda girou rapidamente até que chegamos ao topo e pudemos observar a vista da cidade.

"É linda."

"É sim." Olhei para ela e fiquei com a deliciosa impressão de que ela não se referia à vista. Olhei para baixo. Ainda não estava confortável com toda a atenção.

"Quem é Andrea?" Ao ouvir o nome dela, minha cabeça travou. "Você disse o nome dela enquanto dormia. Não parava de repetir."

Seus olhos procuraram meu rosto em busca de respostas, mas eu não estava pronta para falar. Não havia falado sobre isso com ninguém.

"Não dá..." Eu disse, sem querer mentir para ela.

Ela suspirou e voltou a olhar a vista, achei que o tivesse perdido. Mas então, ela começou a falar.


***

P.O.V KARA ZOR-EL


Tinha ouvido Lena choramingar enquanto dormia na noite anterior, quando ela estava nos meus braços. Pude sentir seu corpo tremendo. Não dava para ver seu rosto no escuro, mas não me surpreenderia se ela estivesse chorando.

Ela chamava por uma tal de Andrea, repetia seu nome, alto o suficiente para que eu acordasse. Não me importei, é claro. Acho que fazia parte do meu lado Alfa gostar de me sentir necessária.

Eu a abracei mais forte e fiz um cafuné até ela parar de choramingar e voltar a dormir calmamente.

Tinha certeza de que ela estava dormindo, mas sabia que aquele tipo de emoção inconsciente não era provocada por um sonho qualquer com alguém imaginário. Havia mais naquela história do que eu imaginava, e acabei sendo atiçada pela curiosidade.

Então, quando entramos na cabine da roda-gigante, observando a vista, trouxe o assunto. Algo imediatamente mudou nela. Ela se afastou um pouco de mim, mas não acho que tenha sido de propósito. Acho que foi instintivo. Quando alguém pergunta algo pessoal e importante, ela busca espaço.

Sendo Alfa aprendi, muito tempo atrás, como deixar as pessoas à minha volta confortáveis.

Algo que meu pai me ensinou quando eu era jovem era a não esperar nada de graça. “É preciso dar algo para receber algo em troca", dizia ele, e eu aprendi a lição.

Os Lobos Do Milênio - Livro I - SupercorpWhere stories live. Discover now