Trinta e dois.

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Minha cabeça pesa. Não tenho muitas memórias do que aconteceu depois dos fogos, além de uma chamada bêbada para Brad que ele não atendeu.

Ainda não tomei coragem para me levantar da cama, ou mover um músculo.

Estou sozinha no quarto, não sei que horas são mas já deve ser perto do almoço dando em conta a ausência de Logan e a claridade que passa pela cortina.

Meu celular começa a tocar e eu prontamente me preparo para rejeitar a ligação, não ligando quem possa ser, até ver o nome "Silvana" no visor.

Não hesito em sentar na cama e atender a chamada imediatamente.

— Mãe!? — atendo assustada. — Você não fala comigo há, tipo, 2 meses.

2 meses e 14 dias, pra ser exata.

"É, eu sei. Tenho estado muito ocupada." diz entediada, como se fosse uma ótima desculpa para não falar com sua filha adolescente ou responder uma de suas incontáveis mensagens. "Então, você está bem?".

Não. Nenhum pouco. A minha própria mãe não teve coragem de me ligar para desejar um feliz ano-novo.

A memória de olhar ansiosamente para meu celular, esperando ao menos uma mensagem de minha mãe na barra de notificações na noite anterior é desbloqueada.

— Sim. E a senhora? — pergunto cuidadosa. Tenho medo de que qualquer coisa que eu fale seja uma desculpa para ela sumir por mais dois meses sem explicação.

"Na verdade, preciso de sua ajuda." claro que ela precisa. Por que mais teria ligado pra mim? "Tem uns documentos em uma caixa aí no apartamento do seu avô que eu preciso que você mande via correio pra mim, ainda hoje".

Solto uma risada seca, claramente sem humor nenhum.

— Você não respondeu nenhuma das minhas mensagens e é isso que tem a dizer?

Não um "Feliz ano-novo", "Como foram as festas?", nem se deu o trabalho de fingir se interessar aonde estou passando as festas de fim de ano.

Se eu estivesse morta em uma vala, ela nem saberia. E se descobrisse, provavelmente ficaria aliviada. "Finalmente aquele peso de gente se foi. Não vou ter que pagar pensão alimentícia mais."

Ah, é. Nem isso ela paga.

"Ai, Savannah. Não começa. Você está bem, eu estou bem. Isso que importa. Agora faz o que eu estou mandando, por favor." ordena impaciente. "Tem uma caixa na dispensa que--".

— Se você quer a merda da caixa, vá buscar você mesma. Eu não tenho nada a ver com isso. — a interrompo e encerro a chamada antes de poder ouvir sua resposta, provavelmente me repreendendo pela minha boca suja.

Meu coração pesa. Não acelerando os batimentos cardíacos, mas se tornando mais duros, parece. Quase doendo dentro do meu peito. Como se uma bigorna o estivesse esmagando aos poucos.

Cada vez que falo com minha progenitora uma decepção nova se instala em meu peito e mesmo assim eu acabo a atendendo posteriormente, com a esperança de que ela de repente decidiu se tornar uma boa mãe.

Custava ao menos parecer interessada em minha vida? "O que você anda fazendo?", "Está comendo?", "Está gostando da escola, do seu avô, da sua prima?". Mas não, isso é demais pra ela, né?

Raiva, tristeza, decepção, sensação de abandono. Tudo lateja em minha cabeça, quase me fazendo enxergar um vermelho pulsante.

Meu peito continua a doer e meus pulmões parecem ser espremidos, não me deixando respirar. Meu estômago se revira me dando ânsia de vômito.

Savannah TaylorWhere stories live. Discover now