Quarenta e nove.

724 67 36
                                    

Mordo a parte interna da minha bochecha, batucando meu pé nervosamente contra o tapete da sala. Parece que não durmo há anos, um cansaço misturado com ansiedade dominando a maior parte do meu corpo diariamente.

O murmúrio da TV está em segundo plano, como se estivesse em um canto bem distante de minha mente.

— Certo. — o silêncio constante depois da TV ser desligada chama minha atenção, sendo retirada do transe em que estava. — Você vai me contar o que está acontecendo ou vai continuar com essa porra? — meu vô pergunta, a simpatia em pessoa como sempre.

Franzo minha sobrancelha e acerto minha postura no sofá, minhas costas perfeitamente alinhadas com o encosto acolchoado.

— O que você quer dizer com isso? — indago com confusão.

O senhor bufa respirando fundo, claramente sem paciência para variar.

— Já passou 15 minutos de episódio e até agora você não fez nenhuma piada sobre a barbicha do cara. Algo está acontecendo. — diz certo e me pego angustiada por ele conhecer a própria neta tão bem.

Mesmo assim, não dou o braço a torcer.

— O que...? — solto uma risadinha nervosa. — Não tem nada acontecendo. — desvio o olhar para minhas mãos, cutucando a cutícula com a unha, visivelmente incapaz de ficar quieta.

Não preciso olhar para Thomas para ver seus olhos revirarem em puro estresse.

— Savannah. — chama firmemente e sou obrigada a encará-lo. — Desembucha. — diz simples e com dureza.

Desvio meu olhar novamente, pensando em como formular em uma frase todos os pensamentos que assombram minha cabeça nos últimos dias.

Deve passar um minuto, ele esperando sem pressionar até que eu esteja confortável para dizer o que me incomoda.

Mas o problema não é algo ou alguém que me incomoda. É um sentimento. Um sentimento indesejado, inconveniente e completamente inapropriado.

— Eu amo Logan. — digo em um sussurro, e me pergunto se meu vô sequer conseguiu ouvir por causa da audição prejudicada pela idade, mas quando levanto meu olhar e vejo seu rosto, tenho a certeza que entendeu cada palavra dita. — É a primeira vez que digo isso em voz alta. — confesso.

E isso faz tudo parecer mais real. Contar pro meu avô faz tudo mais oficial, mais certeiro.

Depois de mais alguns segundos de silêncio, o olho novamente e sua expressão continua a mesma. Uma leve inclinação no canto do lábio formando um sorrisinho imbatível, seus olhos piscando gentilmente.

— Achei que você nunca iria perceber. Demorou, viu... — diz de repente, causando confusão em mim. — Já era óbvio pra qualquer um que observasse vocês de fora. — explica, a voz ainda serena, como se nunca tivesse experienciado preocupação uma vez na vida.

Eu deveria estar com raiva agora. Por que parece que todos sabiam, menos eu? Me pergunto se Logan também sabia.

E apesar de ter essa sensação de que deveria estar com raiva, não sinto nada remotamente parecido. Sinto aflição, ansiedade, um tipo de dor inconsolável por saber que não sou correspondida.

E mesmo com a agonia presente por ter tornado meu amor por Logan algo oficial, e não passageiro, sinto algum tipo de alívio, conforto por ter admitido em voz alta.

— Contou para ele? — vovô interrompe o silêncio da minha linha de pensamento com uma pergunta que me faz pensar ainda mais. Nego com a cabeça, olhos focados na TV desligada e minhas mãos pousadas em meu colo.

Savannah TaylorWhere stories live. Discover now