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Manuela.

Depois de muita insistência eu aceitei vir no shopping com a Dona encrenca Lya. Ela        simplesmente apareceu na minha casa às dez da manhã toda arrumada, enquanto eu tinha acabado de acordar juntamente com Diego e estava com os cabelos tudo para o alto.

E cá estava eu ouvindo ela falar de mil assuntos aleatórios em uma fração de segundos. Mas havia um que me interessava, que era sobre seus sentimentos "ocultos" pelo Alex.

— Sabe? Eu me sinto estranha, Manu. As vezes eu sinto um frio na barriga num calor de quarenta graus. Eu pensei que era gastrite.

— Lya, você sabe que isso é... — me interrompeu.

— As vezes eu me pego rindo para o nada e com uma sensação estranha de estar feliz todo tempo. Conversei com minha terapeuta e ela me disse que é

— Paixão.

Ela me olhou espantada mas não como se tivesse escutado algo fora do normal. No fundo ela sabia que possivelmente estava apaixonada, ou que estava ficando mas por nunca ter se apaixonado antes isso talvez estivesse enlouquecendo ela. Mas do que já era maluca.

Ela riu, provavelmente de nervoso e coçou a cabeça.

— O que foi, Lya? A paixão é algo tão assustador pra você assim? — rolei os olhos.

— Por que vocês falam como se eu realmente estivesse apaixonada?

— Porque você está!

— Ham.. não. Não é bem assim!

Parei no meio do shopping, bem á sua frente e semicerrei os olhos. As pessoas passavam olhando tentando entender o que estava acontecer aqui.

— O Alex beijou outra enquanto você estava fora do ano novo.

— O QUE?— gritou. Todo shopping levou a atenção para nós.

— Viu? Está apaixonada — voltei a andar a deixando para trás.

— Você jogou sujo, Manuela!— ouvi seus passos apressados bem atrás de mim.

— Se você não gostasse dele não teria se importado — suspirei fundo.

Eu adorava ver o bico da Lya quando não tinha mais argumentos. Era sensacional.

— Qual é, Lya. Se permite viver isso, se permite viver pelo menos alguma coisa na sua vida que não seja pica momentânea. Tá tudo bem vocês serem duas galinhas que gostam da pegação alheia — ela rolou os olhos — mas vocês se gostam talvez por serem exatamente iguais. Se arrisca, pode valer a pena.

Ela não disse nada, apenas ouviu e ficou quieta sem tocar mais no assunto. Ficamos andando pelo shopping, entramos em algumas lojas, compramos algumas coisas e depois fomos comer. Eu estava morta de fome e não aguentava mais andar.

— As pessoas estão descobrindo, Manu. Uma hora todos vão saber menos ele e isso não é justo.

— Eu sei — comi uma batata — mas é difícil, poxa. Estamos tão bem, não queria que estragasse essa nossa fase boa.

— Mas que loucura é essa? Você não vai morar em outro planeta, só recebeu uma oportunidade de fazer Medicina no exterior.

— Temos uma família agora, Lya. Não é tao fácil.

— Não estou dizendo que é fácil mas também não é difícil. Você só precisa informá-lo do que está acontecendo e a decisão final sua. Sua família ou seu sonho.

Aquelas palavras ficaram na minha mente vagando como uma ovelha perdida. Me sentia imatura por ocultar da vida dele algo tão tolo mas ao mesmo tempo sentia que estava fazendo a coisa certa em não preocupá-lo por agora.

Lá para ás cinco da tarde nós fomos embora, eu estava preocupada com o Ben e também queria passar esse finalzinho de domingo com meus meninos. Com certeza não tinha coisa melhor.

Nos despedimos, ela pegou um táxi para sua casa e eu assim fiz para a minha.


Mariah.

Diferente da época do colégio Manuela não parecia mais aquela menina filha de papai rico e mimada. A observando no shopping pude perceber que o tempo lhe fez bem, virar mãe e formar uma família fez alguns de seus princípios mudarem.

A verdade é que não me importava sua transformação, o quanto ela podia ser uma pessoa melhor hoje porque no final das contas  nada disso a salvaria. Ou salvaria o seu maior bem.

Eu a observava, quase todos os seus passos eu sabia, do seu noivo também e de alguns amigos próximos. Pessoas totalmente insignificantes pra mim pois não eram meus alvos. Hoje ele havia ficado em casa, provavelmente com o pai e logo mais com sua mãe.

— Deseja algo mais, senhora?

— Não, obrigada — sorri forçado.

Com o mísero dinheiro que ainda tinha na conta da minha mãe eu comprei algo para comer, estava alguns dias sem comer nada e mal podia ligar para meu querido pai pois o mesmo fez questão de sumir da minha vida.

Dos amigos de Manuela, eu sabia que um era seu irmão Gabriel que por sinal era uma gracinha. O outro mais desenrolado, engraçadinho e um gato se chamava Alex mas o que mais me chamou atenção foi o Victor.

Ele parecia ser tão na dele, tão quietinho e tímido. Tirando o fato de que ela era extremamente bonito, mais que todos os outros e me chamava bastante atenção. Quando meu pedido chegou, sem nem pensar duas vezes eu devorei aquele prato.

— Está quantos dias sem comer, princesinha? — Edgar se sentou na minha frente rindo e rolei os olhos.

— Trouxe meu negócio? — tirou do bolso alguns saquinhos e olhando para os dois lados peguei da mão do mesmo e guardei no bolso — E a grana?

Ele tirou um malote de dinheiro da pochete em sua cintura, havia muito dinheiro ali e após fazer a contagem me deu o que eu havia pedido. Três mil e quinhentos reais, era o que eu precisava para passar esses meses aqui no Rio.

— Tá ligada que isso é um empréstimo, né? Tem que pagar o dobro.

— Eu sei — disse firme.

— Se tu tá sem grana como tu vai arrumar sete mil pra mim? — me encarou. Um olhar fundo que dava medo.

— Tenho meus contatos...

— Pode crê, boto fé. E qual foi daquele serviço lá?

— Quando chegar a hora eu irei te falar, Edgar. Por enquanto eu..

Ele pegou no meu rosto, segurando firme meu maxilar com uma mão e olhando ao redor pude perceber que as pessoas nem percebiam o que estava acontecendo.

— Tu é cheia de marra, tá ligado? Pra quem precisa da minha grana, das minhas drogas tu tá botando banca demais.

Me soltei de sua mão pesada, grossa e áspera. Me levantei, colocando minhas coisas no bolso de dentro do casaco e fechando o mesmo.

— A gente se vê — ele segurou em meu braço antes que eu pudesse dar partida.

— Olha lá o que tu tá fazendo, hein doidona — me soltou e eu sai em passos apressados.

Eu odiava me sentir ameaçada, ainda mais por um ninguém como o Edgar que traficava pra viver e morava em qualquer favela dessas do Rio de Janeiro. Eu estava sem nada, isso me deixava totalmente fragilizada e fraca. Sem poder. Sem autoridade.

Meu plano aqui tinha que dar certo. Era a volta por cima que eu precisava e vingança que Gael merecia.

Eu mataria dois coelhos em uma cajadada só. Tem coisa melhor? Acreditava que não.

NÓS 2 | UM NOVO ACASOOnde histórias criam vida. Descubra agora