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Manuela.



Um tempo depois...


Mariah morreu no dia três de outubro de 2019 e no mesmo dia em que meu filho celebrou seu primeiro ano de vida. Após o disparo, o prédio todo desceu, até quem andava na orla parou pra observar e tentar decifrar o porque daqueles carros da polícia militar em frente ao prédio. Mas afinal das contas, quem havia chamado a polícia? O porteiro, que viu a entrada dos dois pela garagem assim que o carro de um morador adentrou ao prédio levou um soco e ficou desacordado por um tempo. Foi ele quem salvou a vida do meu filho.


Passei semanas, até meses tentando me livrar daquela cena e juntamente a de Gael que voltou à tona na minha mente. Nesse tempo me ocupei com tudo que desse, com o Benjamin que deu seus primeiros passos e seus dentes começaram a aparecer, pesquisando sobre a faculdade e a cidade onde ela ficava como seus costumes eram e tudo mais. Me arrisquei até em botar meu inglês em prática, estava soterrado e aos poucos eu ia destravando o mesmo. Eu e Diego demos um fim no dia do aniversário do nosso filho, nos falávamos pouco assuntos mais relacionado ao Ben mesmo e revezávamos como a semana comigo e o final de semana com ele.




Agora eu estava indo ao um encontro, não qualquer um, com dois representantes brasileiros da faculdade Stanford university que iam me auxiliar em tudo daqui pra frente até eu ir para Califórnia e me falar mais sobre meu curso e sobre o campus. Eu estava muito ansiosa, Alex não parava de mandar mensagem perguntando se eu já havia chego e querendo saber como tinha sido. Estava mais ansioso que eu e as três da tarde eu cheguei faltando meia hora para o horário marcado.



Dei uma olhada nas lojas enquanto o hora passava e me sentei numa cafeteria onde havia feito reserva para esse tal encontro. Enquanto esperava pedi um café com biscoitos, olhava o celular e estava ficando tão ansiosa que parecia que as horas não passavam.

— Senhorita Herrera, certo? — queimei a boca com o café e olhei pra cima vendo um casal muito bem vestidos com sorriso estampado no rosto.


— Sim. César e Lauren, correto? — me levantei para cumprimentá-los e eles assentiram.

Antes de irmos aos que interessava de fato, ficamos conversando sobre assuntos aleatórios e eles até quiseram saber mais de mim. Ambos eram de santa catarina, viajavam por estados ou até países para auxiliar pessoas brasileiras que de certa forma estariam querendo ingressar na Stanford. Me falaram sobre a faculdade, tudo que eu precisava saber e como era, de uma forma superficial, a adaptação dos brasileiros na região.


— Muitos não conseguem se adaptar, apesar de Califórnia ser um local adepto as maiorias das modernidades do mundo há pessoas que tem essa dificuldade. Você gosta de coisas novas? — Lauren perguntou enquanto abria uma pasta.


— Gosto, sempre gostei na verdade.


— Que ótimo! Acredito que você não seja uma dessas pessoas e vai se adaptar rápido. Aqui está o contrato que deve ser assinado por você nas seguintes folhas que apresentam um "x"

E foi aí que tudo parece ter desligado, os dois me orientavam diante daquele documento que estavam todas as minhas informações, data de ida, início do semestre e outras coisas relacionadas. Mil coisas se passavam na minha cabeça, meus amigos que eram a minha família, Diego e meu filho. Quantas coisas eu havia passado até aqui, tinha deixado esse sonho de lado e agora estava com a oportunidade em mãos.


— No seu momento, tá bom? Vamos esperar ali e estaremos esperando qualquer decisão sua — assenti.


Fiquei em momento de pura tensão, eu pensava em tudo e ao mesmo tempo não pensava em nada. Era meu sonho, eu não podia deixar de ter isso em mente mas eu também era mãe, arriscava perder momentos especiais demais do meu pequeno ainda que eu soubesse que ele estaria bem isso me apertava o coração demais. Antes de eu vir hoje para cá, na ligação com Lya ela me disse as seguintes palavras:


"Manu, você tem muita coisa a perder aqui, coisas até que não irreversíveis, coisas que você nunca vai ter a oportunidade de presenciar de novo. Mas tem muita coisa a ganhar também, lá na frente vai valer a pena todo esforço que você vai fazer por você e pelo Ben. Assim como nós entendemos hoje, amanhã ele vai também. Seja feliz, amiga. Só seja feliz"


E então eu assinei. Eram perceptíveis as lágrimas dos meus olhos, não conseguiam ser controladas de nenhuma maneira e meu coração parecia querer saltar do peito. Os representantes se aproximaram com um semblante amigável, sentaram e me deixaram a par de muita coisa ainda que aconteceria daqui pra frente. Paguei a conta e deixei a cafeteria com um sorriso fraco no rosto. Caraca, eu ia estudar Medicina! Ainda estava sem acreditar que isso estava se realizando.


[...]





Os dois me encaravam perplexos, sem reação alguma e com uma mancha vermelha em volta dos lábios e eu estava começando a ficar com medo de toda aquela situação.




— E aí? Vocês não vão falar nada? — roía as unhas nervosa.





— Boa noite, irmãos de Deus! O que eu perdi? — Gabriel entrou pela porta principal alargando a gravata e jogando as chaves em cima da mesa.






Eu apontei para os dois que estavam a quase dez minutos quietos sem falar nada.






— Por que a boca de vocês dois está vermelha? — se aproximou passando o dedo em alex e soltou um riso saliente — Safadinhos!






— Ta, chega! Falem alguma coisa... Agora!









— Como assim você vai se mandar do Brasil?não que eu não desejei isso no momento em que seu irmão apresentou você pois sejamos sinceros você era muito chata mas...









— Obrigada, Alex! — dei um sorriso forçado e peguei o bem no colo — Grandes palavras, grandes palavras...









— Eu estou feliz por voce, loirinha! Tu sabe que eu te amo, não é?










Ele me deu um abraço de lado e beijou a lateral da minha cabeça e enquanto isso Lya ainda estava parada me olhando com os olhos marejados.










— Você não vai chorar, não é? — Gabriel perguntou confuso e a mesma começou a fungar e morder os lábios — É, ela vai... — rolou os olhos.









Eu abracei a mesma sorrindo e também um pouco emocionada. Era somente disso que eu precisava do apoio das pessoas que me amavam e que eu amava, faltava o Victor aqui como de costume mas o mesmo tinha viajado com a família para o Nordeste e não tinha dada prevista de volta e o Diego, bom... continuávamos separados e com o único propósito, o Benjamin.








— Finalmente vou poder namorar gringas — Gabriel estendeu a mão para cima e eu o matei com o olhar — E alex, vocês dois estavam se pegando?








— Não! — recriminou Lya no mesmo instante.









— Sabemos... — dissemos em uníssono.





Agora só me restava aproveitar cada momento, cada fração de segundos com os que eu me importava e principalmente com meu filho. Fazer momentos e memórias, as últimas, que eu levaria comigo assim que pisasse no avião. Somente isso era minha prioridade agora.

NÓS 2 | UM NOVO ACASOOù les histoires vivent. Découvrez maintenant