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Capítulo final.
8 horas antes da viagem.

Eu acordei pela manhã olhando o sol que clareava meu quarto, pela última vez eu acordaria nessa cama e nesse cômodo. Esperava dormir bem daqui há algumas horas em diante pois minha cama me deixavam nas nuvens. Meu filho dormia tranquilamente em seu berço como uma pessoa que não tivesse contas para pagar e até que isso era verdade.

Fiquei enrolando na cama por um bom tempo, lendo mensagens carinhosas que os meninos da época da escola mandaram para mim. Que saudades. Quando me levantei fui direto tomar um banho, lavar os cabelos e fazer meu ritual de cuidados pessoais. Olhei rápido para o quarto e o meu neném continuava a dormir e já imaginava o escândalo quando seria pra acordar e dar de mamar.

Nisso ele puxou do tio, que preferia mil vezes que o mundo acabasse com ele dormia do que o acordasse.

Vesti uma roupa confortável, dei uma última checada na mala e acordei o Ben para dar de mamar. Ele me olhava com os olhos brilhando como se eu fosse uma jóia rara e é aí que a gente entende ou pelo menos sente o famoso amor incondicional. E pensar que eu perderia momentos únicos desse pequeno me doía o peito profundamente e me deixava

— Posso entrar ou você está com as tetas de fora? — Gabriel questiona da porta e eu dou uma risada.

— De fato, eu não sentirei sua falta!

— Ah, mas é claro que você sentirá — ele adentrou ao cômodo segurando uma caixa vermelha.

Franzi o cenho.

— O que é isso?

— Um presente meu e com participações intrujonas de Alex e Victor. Queria que você sempre levasse a gente contigo.

Ele estendeu os braços para pegar o Benjamin e colocá-lo para arrotar.

— Abre aí!

Curiosa eu desfiz o laço e abri a mesma que dentro havia alguns chocolates, doces e um saquinho com algumas fotos polaroids. Desamarrei o mesmo, eram fotos minhas em momentos especiais, uns eu me recordava e alguns eu nem me lembrava.

— São lindas, biel...

Entre uma foto ou outra caiu uma menor no chão virada para baixo, eu a peguei e meus olhos brilharam ao ver que era eu e Diego no tal carnaval onde tudo aconteceu.

— Quando que essa foto foi tirada?

— Eu não sei, algum deles me enviou e eu achei legal colocar junto com as outras. Eu pensava que podia te proteger dos meus amigos mas foram eles que se tornaram sua família também.

E era verdade. Nós nos transformamos em uma única família ainda que nosso jeito de ser e de viver fossem totalmente tortos. Eu olhava cada click daquele e voltava no tempo, não muito longe, mas era como se o meu eu estivesse pra sempre aqui.

— Pode ficar com o Ben alguns minutos? Preciso fazer uma coisa!

— Claro, vai lá!

Peguei meu celular, sai rápido do apartamento indo para o térreo do mesmo. Na lista telefônica eu procurava um número específico e quando achei eu apertei para realizar uma ligação.

Chamada on.

— César? A Lauren está com você? Preciso falar com vocês...

Off.




4 horas restantes para a viagem.


— Posso te dar um conselho? Coloca um
pano no rosto você chora muito feio... — Victor disse olhando para Alex que se desmanchava em lágrimas.


— Se eu te mandasse para aquela casa que tu conhece muito bem, serviria de conselho também?


— Já está melhor, passou a tristeza! Está até xingando — Gabriel debochou.

Eu olhava para os meninos com um certo ponto de interrogação na cabeça. Lya se desmoronava juntamente com os outros e bom... eu nem tinha começado a falar o que tinha pra dizer.

— Pessoal...

— Já sabemos! Ta bom? Não precisa ficar se despedindo toda hora.

— Ela gosta de ver o sofrimento dos outros...

— Gent...

— Chega, Manuela! Você não vê que estamos sofrendo com sua partida? — Lya gritou.

Eu olhava para Gabriel que estava um pouco atrás de todos com um sorriso de canto no rosto e em sinais perguntava o que fazer. Um pouco afastado estava Diego com o Ben no colo na espera do que eu ia dizer.

— Deixem ela falar, galera. Vocês nem sabem o que é, só... escuta! — Gabriel disse sereno.

Um burburinho começou na direção do mesmo, uma mistura de choro e palavras ofensivas. A galera tinha ficado fora de si. Doidos!

— Eu não vou mais. Eu desisti. Vou ficar aqui!— Falei rápido e todo aquele barulho se sessou.

Os olhares confusos tomaram conta do ambiente, olhei de canto e Diego parecia não acreditar naquilo e eu dei um sorriso fraco para o mesmo que mal tinha expressão.

— Você o que? — Alex indagou.

— Eu liguei hoje mais cedo para os que estavam responsáveis pela faculdade no exterior e disse que não queria mais. Eu tenho uma vida aqui, eu tenho um filho, eu tenho amigos, tenho vocês que são minha família e não saíram do meu lado um momento se quer...

Meus olhos se encheram de lágrimas.

— Eu tenho minha família, um cara que sempre me amou apesar de todas as dificuldades. Que me deu um filho, uma família e um propósito aqui. — olhei para Diego e seus olhos estavam marejados.


— Uau! Nunca vi Diego chorar... filma! — Alex falou baixinho para Victor.


— Eu sei que eu te machuquei muito com essa história de sair do país, de ter mentido pra você desde o início e com isso acabar com a nossa família. Me perdoa, você e o Ben não mereciam isso...

Ele se aproximou de mim lentamente ainda com Bem no colo olhando no fundo dos meus olhos.


— Você está falando sério? — assenti sorrindo. Ele me abraçou, suas lágrimas molharam um pouco minha blusa e foi um momento tão emocionante que eu também não me contive.



— Eu vou ficar com nossa família pra sempre!



Ele me selou nossos lábios demoradamente, som de aplausos invadiram a sala de estar e um abraço coletivo veio à tona. Eu estava em casa com os meus e era somente isso que me importava. Eu não perderia nenhum momento único do meu filho, continuaria a ver meu irmão crescer na sua empresa e a vida aqui continuaria bela.


Lá trás quando tudo começou eu não imaginava que estava prestes a viver tudo isso, se alguém me parasse na rua e me falasse isso eu provavelmente a chamaria da doida. Tudo começou num carnaval em Angra com os amigos do meu irmão, se minha vida fosse um livro muito provavelmente se chamaria "O amigo do meu irmão" dentro de um milhão de livros com esse mês título. Ele também poderia ser chamado de "Nós" porque ele não falaria só sobre o amor entre duas pessoas mas sim como os laços que fazemos durante a vida são importantes para o nosso aprendizado e crescimento aqui na terra. Nem sempre família são amigos mas amigos podem ser família.

A Manuela que eu me tornei está longe de ser a mais perfeita do planeta, não existe a perfeição, somos humanos e estamos sempre dispostos a errar a qualquer momento mas o aprendizado que se tira desse erro é o que levamos para vida. Acredito que a história da minha vida foi sobre amor, um amor de amiga, um amor de irmão protetor, uma paixão repentina e um amor incondicional. Agora eu e minha família estávamos sentados todos na sala conversando sobre milhares de assuntos, o sol laranja quando se pondo iluminava a sala deixando o ambiente meio dourado.

Bom... acho que é isso. Até breve!

NÓS 2 | UM NOVO ACASOWhere stories live. Discover now