10

881 47 12
                                    

Mariah

Estava na varanda fumando um cigarro pensando no "encontro" que tive com Manuela na tarde de ontem e como aquilo mexeu comigo. Tanto tempo sem vê-la assim tão próxima, tão mudada fez com que minha mente, por um momento, virasse de cabeça pra baixo.

Tinha consciência de que qualquer um era incapaz de dizer que ela parecia ser uma menina indefesa porque isso nunca foi seu posto. Mas hoje ela estava muito mais diferente, parecia muito mais forte e seu primogênito era muito parecido com ela.

E no momento que meus olhos bateram nos seus, um olhar tão ingênuo e puro meu coração acelerou e me fez lembrar de coisas na qual tento me esquecer todos os dias e então apenas voltei a correr. Alguns metros depois parei com as duas mãos no joelho, com a respiração ofegante e gélida como se eu tivesse visto um fantasma. Tinha voltado para o Rio com um propósito, isso não tinha mudado era óbvio mas parecia que eu tinha me perdido por segundos.

Observando o céu azul e o pouco movimento da rua do bairro me deixei levar por meus pensamentos...

Flashback:

Eram duas da manhã quando acordei num susto, soando e ofegante. Me levantei indo em direção ao banheiro, joguei uma água gelada no rosto e por uns instantes encarei o chão apoiada na bancada. Sentia algo ruim dentro de mim, uma angústia e choro preso. O que estava acontecendo comigo? Nunca senti algo tão ruim desde o dia que meu pai foi embora.

Peguei meu celular na mesinha ao lado da cama, com a lanterna iluminei a escada e fui descendo bem devagarinho pois a esta hora minha mãe deveria estar dormindo. Peguei um copo no armário e o coloquei para encher enquanto desbloqueava o celular. Antes mesmo que eu pudesse dar o primeiro gole na minha água o copo caiu na minha mão e o vidro se estraçalhou pelo chão molhado. Tudo ao meu redor parecia estar em câmera lenta, eu gritava desesperadamente e via minha mãe vindo em minha direção com o semblante preocupado.

Toda internet falava sobre sua morte, cada canto dela tinha fotos, relatos e vídeos. Gael tinha morrido com tiro dado pelos polícias na cabeça no galpão da antiga indústria alguns quilômetros daqui.

O amor da minha vida tinha ido embora... pra sempre.

Quebrei grande parte da cozinha, minha mãe não conseguia me segurar e os vidros que caiam sobre mim me cortavam sucessivamente. O cenário era horrível, sangue por todo chão, cacos de vidro e os móveis parcialmente quebrados ou rachados. Escorregando na parede em prantos eu vi duas pessoas entrando, segurando uma bolsa e dela tirando uma agulha.

Depois disso eu não me lembro de mais nada.

[...]

As lágrimas rolavam sobre meu rosto enquanto uma parte de mim me torturava a lembrar disso, naquele dia além de ter perdido o meu grande amor eu me perdi também e eu não conseguia ver outra culpada disso além dela.

A Manuela estragou a minha vida, enquanto ela construída sua felicidade eu afundava no martírio dia após dia desde do dia que ele se foi. Ainda que ele amasse ela e não a mim, ela seria culpada do mesmo jeito.

E iria pagar por isso.


Manuela.

Hoje estava sendo um dia bem agitado, enquanto Ben estava em sua cadeirinha assistindo desenho eu por minha vez estava trabalhando. Havia milhares de coisas que eh tinha que finalizar hoje e muitas delas mandar para a empresa.

Acordei cedo, me banhei juntamente com Benjamin, deixei o almoço pré pronto e tô desde as nove pregada na mesa trabalhando. Confesso que nada que estava presa em minha mente ontem finalmente se libertaram pois ainda continuo martelando sobre a menina de ontem. O perfume era praticamente único e eu sentia o cheiro dele quase toda hora.

NÓS 2 | UM NOVO ACASOWhere stories live. Discover now