Capítulo 39. "Espera, que o sol já vem" (Mais Uma Vez - Legião Urbana)

290 31 85
                                    

O ronco do motor do Ford Maverick vermelho parecia me deixar mais nervoso, eu mal podia esperar que ele deixasse de funcionar. Eu sentia frio. Eu sabia que Angie estava indo o mais rápido que a rodovia permitia, entretanto, eu desejava que já estivéssemos lá.

Gastamos pelo menos 20 minutos na estrada até chegar ao Royal Bolton, assim que entramos, a recepcionista me indicou a sala de espera, e quando cheguei lá, vi minha irmã encolhida em um sofá longo.

Dei dois passos em sua direção, foi o suficiente pra que ela se levantasse e disparasse até mim, encolhendo-se em meus braços que a apertavam, tentando passar conforto, e buscar conforto.

- O que aconteceu?

- Eu descuidei dela um minutinho, um minutinho e ela...

- Shh, calma... Calma... – Pedi, ouvindo-a começar a chorar de maneira copiosa, respirei fundo e a apertei com mais força entre meus braços – O que aconteceu? Me conta direito, Soo.

- Espere até ela se acalmar, Jungkook – Ouvi Angie dizer e estender o copo plástico com água na direção de Jisoo, minha irmã aceitou e bebeu um pouco, depois devolveu o copo.

- Ela tomou os calmantes, todos os que ainda estavam no frasco... – Fechei meus olhos por um instante, depois voltei a olhar pra Jisoo, sentindo vontade de parar o tempo e consertar toda aquela porra – Foi o tempo de um banho, Kookie, me desculpa, me desculpa, por favor...

Jisoo retomou o choro e eu a abracei com mais força, negando com a cabeça e sentindo as lágrimas chegarem rapidamente até meus olhos, eu não podia ser fraco agora.

- Você não tem culpa, Soo, não precisa se sentir assim. Mamãe só estava se sentindo fraca, e a qualquer momento ela poderia fazer isso, com você por perto, ou eu, tudo bem? – Minha irmã assentiu rapidamente, mas seu soluço me fez acreditar que de nada adiantaria meus monólogos, ela se sentiria culpada mesmo assim.

Convenci Jisoo a se sentar para podermos esperar notícias. Disse à Angie que ela podia ir pra casa, mas ela se recusou, permaneceu ali até um médico se acercar e nos indicar seu consultório. Ele explicou o que podia ser explicado, uma intoxicação grave, mas poderia ter sido pior, caso o frasco estivesse cheio.

Ela dormiria por algumas horas a fio e teria soro injetado em sua veia, pela fraqueza aparente. Um psicólogo viria para vê-la assim que ela despertasse, e também para conversar comigo e Jisoo.

Enquanto observava mamãe dormir, me perguntei o que ela havia sentido, a proporção de seu desespero ao decidir tentar se matar. Minha mãe tentou se matar. Ela ia nos deixar pra trás, pra nunca mais voltar.

O que poderia ter passado por sua cabeça? Quão forte era sua dor para ganhar a prioridade que até então era de seus filhos? Eu não conseguia imaginar, não conseguia perdoar. Ela não tinha o direito de tirar a própria vida, enquanto eu sacrificava a minha pra vê-la feliz de novo.

Pela manhã, quando eu já não suportava a dor nas costas, Jisoo chegou acompanhada de uma enfermeira que veio medir a pressão de mamãe e retirar o soro.

- Eu posso ficar aqui se você não quiser ficar... – Disse à Jisoo, que ajeitava-se na cadeira ao lado da cama de mamãe, ainda adormecida.

- Vai pra casa tomar um banho, dorme um pouco, eu vou ficar bem – Respirei fundo, hesitante diante da idéia de deixar Jisoo ali sozinha – Prometo.

- Ok... – Concordei e esfreguei meu rosto – Me ligue assim que ela acordar, 'tá bem?

- Eu ligo.

Beijei a cabeça de minha irmã e olhei mais uma vez para mamãe antes de sair do quarto. Percorri o corredor até a sala de espera, o mesmo corredor que eu havia atravessado várias vezes durante a madrugada, apenas para pegar doses de café quente e, com isso, me manter acordado.

Betting Her - LiskookOnde histórias criam vida. Descubra agora