Capítulo 1

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Erwin entrou glorioso como sempre na livraria, a postura altiva atraindo o olhar de todos – e principalmente todas — presentes.

— Levi, o que tem de bom pra mim hoje?

Peguei embaixo do balcão a pilha de livros previamente separada com os livros de estratégia militar que pediu e os coloquei à sua frente.

— Pouca coisa. O grande lançamento será no final do ano.

Assentiu meneando a cabeça loura e folheando os volumes, descartando à direita os que não interessavam, até completar sua seleção. Metódico, e só essa qualidade rara já o tornava meu cliente favorito.

— Fico com esses.

Estendeu o cartão platinum e logo finalizou o pagamento, guardou na carteira de marca. Tudo nele era impecável, solar e agradável; suas maneiras precisas e seguras combinavam com seu porte e beleza.

Observei seus ombros largos enquanto saía pela porta, deixando o interior da loja mais sombrio e gélido sem sua presença.

Se um dia pudesse escrever romances, e não as crônicas ácidas e terríveis que jamais terei coragem de publicar, com certeza ele seria meu protagonista.

Minha atenção é chamada por um grupo de jovens barulhentas que cruzam a porta provavelmente apostando quem fala mais alto e as fitei com um olhar severo, recebendo como prêmio o silêncio delas.

Em geral, a juventude irrita um pouco. Principalmente quando andam em gangues tendem a bagunçar, sujar e perturbar o equilíbrio de onde quer que passem, e essas não eram diferentes: tinha a líder do bando, com sua beleza padrão; a desencanada em que prestei mais atenção pelo fato de estar devorando um fucking cachorro quente entre meus sagrados livros, a bad girl com cara de quem poderia comer as vísceras de alguém a qualquer momento e a gótica com suas roupas pretas, acessórios e cara de quem já morreu.

Me retirei brevemente para preparar um café expresso na cozinha, observando pelo vidro fumê elas percorrerem as prateleiras apontando títulos, rindo e cochichando. Sabia o que estavam procurando: os livros eróticos, ou quase isso.

Quase, porque a série de clichês e fodas mal narradas dessas séries caça-níqueis que as editoras lançam pode ser tudo, menos erótica.

Se bem que, sendo honesto, jamais fui um bom parâmetro para assuntos do gênero e minha experiência basicamente se resumia à literatura, o que fazia com que meu julgamento fosse técnico. E duvidava que aquelas garotas estivessem atrás de técnica.

Voltei para meu posto entediado e torcendo para que os minutos faltantes para às dezoito corressem rapidamente.

Ao me ver, as moças vieram em minha direção pagar suas compras, um desfile previsível de livros de qualidade duvidosa. Poderia de muito bom grado mostrar onde ficavam os verdadeiros eróticos, esquecidos e amaldiçoados por boa parte das pessoas, e o faria se não fosse o risco de soar desagradável e talvez, até pervertido: "com licença senhoritas, tenho aqui livros que vão molhar suas calcinhas e de quebra, são bem escritos. Interessadas?".

Poderia até personalizar o serviço.

Tinha certeza absoluta que a loira mal encarada adoraria Sade; a loirinha se daria bem com pequenos pássaros e a gótica me dividiu entre Masoch e Pauline Réage.

E a esfomeada preferiria um livro de receitas.

É.

Melhor não.

Saíram alegres e já na calçada, pude ver como gargalharam e retomaram a conversa animada que tinha morrido – ou melhor, sido assassinada pela minha cara feia – ao entrarem aqui.

Talvez eu fosse só um velho ranzinza questionando as escolhas dos meus clientes por não ter coisa melhor pra fazer na vida.

Provável.

O livreiroWhere stories live. Discover now