Capítulo 11

49 2 13
                                    


Por um momento, as palavras passaram por mim sem que eu realmente as ouvisse. Quando recobrei o domínio a situação veio clara na mente: não era um jogo que eu pudesse vencer, simplesmente porque relacionamentos não são um jogo.

Só que Mikasa ainda não sabia disso, o que só resultaria em dor para ambos, e estava óbvio que nutria sentimentos intensos e mal resolvidos pelo tal Eren.

Conversaram algumas amenidades antes que os dois rapazes seguissem seu caminho, se juntando a uma mesa com alguns outros jovens – lugar onde naturalmente ela devia estar. Chamei o garçom e paguei a conta, querendo me ver livre daquela situação o mais rápido possível.

Seu embaraço tornava tudo ainda mais constrangedor, e nos poupei de uma discussão. Caminhamos para fora do bar juntos, apesar de permanecermos em silêncio enquanto rumávamos para o estacionamento.

— Levi...

Na minha frente agora estava apenas uma universitária confusa e frágil, tão diferente da mulher que inventei em minha cabeça; nossa relação era assimétrica, e não apenas pela nossa diferença de idade: buscava em mim uma segurança que não podia ter com ele, e eu encontrei nela os riscos que há muito tinha desistido de correr.

Francamente, nunca teve como dar certo.

— Acho melhor você chamar um Uber...

Deixei claro que voltaríamos separados, esperando que fosse o suficiente para ela entender que seria assim que seguiríamos de agora em diante.

Durante o curto trajeto até em casa, coloquei as coisas em perspectiva. Talvez meu lado mais cínico sempre soubesse que acabaria dessa forma.

Mal tinha acabado de chegar e ouvi a campainha sendo apertada de forma frenética, produzindo um som irritante. Intuí quem era antes mesmo de olhar pela câmera; quando abri a porta, Mikasa invadiu o corredor sem perguntar se poderia entrar.

A segui e fomos para a cozinha; preparei um chá enquanto ela permanecia me observando de uma forma até um pouco assustada, parecendo procurar as palavras para se explicar. Só que eu não queria ouvir esse tipo de explicação: talvez eu acreditasse.

Optei por fazer a pergunta que a faria perceber o motivo de não podermos continuar.

— Por que ele virou sua palavra de segurança?

Mantive o tom tão tranquilo quanto pude, mas a reação chocada demonstrou que era impossível suavizar o assunto. Depois de alguns segundos de completo silêncio, recebi uma resposta mais triste do que podia esperar.

— Porque é dele que quero aprender a me proteger.

Jovem demais para perceber a crueldade do que estava fazendo, e a inutilidade.

— Pensa que vai conseguir dessa forma?

Entreguei seu chá e bebi um pouco do meu, esperando que refletisse. Nosso diálogo pontuado de longos silêncios me disse muito mais sobre Mikasa do que todas as nossas conversas.

— Acha que sabe melhor do que eu do que preciso?!

— Não... mas acho que você também não sabe, e só vai descobrir quando se permitir lidar com essa experiência.

— Já lidei mais do que devia.

— Tem certeza? Talvez tenha cedido mais do que devia, e não lidado.

— Ficar com você é minha maneira de lidar.

Absorvi as palavras e as deixei pairar em minha mente um instante, destravando antigas lembranças. Por muito tempo achei que tudo o que vi e vivi quando morei no bordel com minha mãe não me influenciou em minhas escolhas e relações; demorou para que eu aceitasse remexer naquelas feridas e finalmente, me curar.

O livreiroWhere stories live. Discover now