É provável que eu acordasse sozinho na cama, não fosse um pequeno detalhe: a insônia.
A maldita desta vez se provou uma aliada ao permitir que eu assistisse o lento e confuso despertar de Mikasa assim como a expressão de arrependimento por ter acordado ao meu lado, o que só fortaleceu a resolução de terminar o insólito caso.
Quase ri de sua timidez quando percebeu estar nua e descoberta; voltei minha atenção para o livro que lia desde a madrugada, a fim de evitar o desconforto descabido.
Começou a recolher as roupas com pressa, um contraste irritante com a vagarosidade e minúcia com a qual permitiu que eu a despisse no dia anterior.
— Você não precisa correr.
Me fitou assustada, aos poucos deixando a lascívia assumir, talvez uma postura defensiva a fim de evitar qualquer conversa realmente íntima.
— Não teve o suficiente ontem?
Talvez nunca fosse o suficiente, e o problema era justamente esse: Mikasa já tinha me dado tudo que poderia e eu ainda precisava de mais, muito mais. Queria que permanecesse em meus braços quando acordasse.
— Toma um banho antes, um café se quiser.
— Sabe que nosso acordo é só sexo...
— Acordo? Nunca fizemos um acordo. Você vem quando está com vontade e eu recebo porque quero você. Não significa que precise fugir como se fosse algo errado.
Seu alívio foi óbvio quando defini a situação de forma racional.
— Vou tomar banho então.
— Ok.
A água caindo estabeleceu um ritmo constante, uma distração em meio aos pensamentos melancólicos.
Decidi que seria mais fácil romper se eliminasse qualquer lembrança do que aconteceu entre nós; arrumei a cama, joguei fora os lenços de seda e todo objeto que remetesse à noite anterior. Ela tinha levado as roupas para o banheiro, deixando claro que desejava ocultar qualquer nudez de mim fora das nossas cenas.
Quando saiu vestida e arrumada me encontrou na poltrona, ainda oculto pela leitura – esse vinha sendo meu disfarce por quase toda a vida adulta, afinal. Trajava outras roupas, já não era a personagem, a única faceta de Mikasa que me permitia conhecer. Quando a fitei vi uma completa estranha por mais que tivéssemos conversado sobre tantas coisas íntimas nas últimas semanas.
Abreviei o momento embaraçoso para ambos levantando e ela me seguiu até a porta sem questionar, parando na soleira e então, finalmente relaxando um pouco para fazer a pergunta que eu já esperava.
— Qual o livro da próxima semana?
Então, fiz uma das coisas mais difíceis das quais me lembro.
— Não tenho indicação, Mikasa.
Os bonitos orbes negros vacilaram um segundo antes de recuperarem o foco.
— Impossível que não conheça mais.
— Não foi o que eu disse.
Pela tez lívida percebi que a compreensão bateu.
— Quer parar com o que temos?
— Temos algo?
— Levi...
Interrompi qualquer que fosse a justificativa dela.
— Pra mim isso é pouco.
Seu semblante passou da incredulidade para a aceitação.
— Entendo.
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O livreiro
FanfictionAcostumado a uma vida solitária e voltada para o trabalho em sua livraria, a rotina de Levi é abalada quando Mikasa vem até sua loja procurando livros eróticos e alguém para vivê-los com ela.