Dessa vez, mal cheguei a dormir.
Prevendo a situação difícil para nós dois quando ela acordasse, preferi nem ficar no quarto. Deixei uma toalha limpa sobre a cama para que tomasse banho e fui preparar um chá.
Com a xícara nas mãos desci para a livraria vazia, iluminada pelos raios do sol nascente; essa visão sempre me agradou.
Recostei no balcão percorrendo os milhares de volumes que me cercavam como verdadeiros e leais guardas, mantendo-me em segurança contra o mundo caótico e cheio de dor além das vidraças.
Paradoxalmente, foram os responsáveis por deixar Mikasa e toda a sua bagunça entrar em minha vida.
— Peguei uma camisa sua, se importa? A minha estava suja...
Voltei-me para a direção da voz e a encontrei parada a poucos metros, usando a mesma saia do dia anterior e uma de minhas camisas, que mal fechava em seu busto exuberante. Segurava sua bolsa em um dos braços, disposta a ir embora e quebrando o encanto da suposta intimidade de vê-la em minhas roupas.
Fingi indiferença diante do quão bem me senti com o que via.
— Tudo bem. Quer chá?
Como previ, recusou. No entanto, logo depois fez um convite surpreendente.
— Estou atrasada, tenho aula daqui a pouco. Mas se quiser, podemos almoçar juntos.
— Não costumo sair no almoço...
— Pode ser um jantar, então. Depois que você fechar.
A ideia era tentadora, muito.
E por isso mesmo, perigosa. Pelo menos se ela insistisse em manter o acordo impessoal. Tentei parecer displicente, apesar da ansiedade crescente.
— Tudo o que eu disse ontem... Falei sério. O que temos não funciona para mim.
Mikasa corou e arrumou uma mecha do cabelo molhado atrás da orelha, parecendo pesar as palavras antes de finalmente libertá-las.
— Eu também falei sério sobre relacionamentos serem difíceis para mim. Mas podemos... sei lá, deixar rolar... gostei de conhecer você.
Sua sinceridade era perceptível, e só percebi que sorri ao aceitar seu convite, quando ela sorriu de volta.
---
Passei o dia inquieto, a cabeça totalmente voltada para o encontro que teríamos.
A pizzaria não era exatamente o lugar que eu escolheria: o ambiente informal e barulhento demais deixava a desejar no quesito limpeza. Basicamente, um lugar perfeito para a juventude agitada, e um pesadelo para um homem com certa mania de limpeza como eu.
— Detestou a escolha.
Foi uma afirmação, e achei inútil mentir.
— Faça valer a pena esse esforço.
Soube ter tomado a decisão certa quando fui brindado com seu sorriso leve.
Pela primeira vez, conversamos de verdade. Quer dizer, dessa vez, a conversa foi um fim em si mesmo, ao invés de uma introdução a um jogo sexual.
Descobrimos coisas em comum, mais até do que eu imaginaria ter com uma universitária, e a tensão inicial da noite se dissipou rapidamente diante do entrosamento que demonstramos ter.
Terminamos nossa pizza e ainda ficamos um longo tempo envolvidos no assunto, sem pressa e principalmente, sem pressão de ir embora, e me permiti abaixar a guarda para Mikasa.
YOU ARE READING
O livreiro
FanfictionAcostumado a uma vida solitária e voltada para o trabalho em sua livraria, a rotina de Levi é abalada quando Mikasa vem até sua loja procurando livros eróticos e alguém para vivê-los com ela.