"Eu te conheço
Andei com você uma vez em um sonho
Eu te conheço
O seu olhar é tão familiar, um brilho
E eu sei, é verdade
Que as visões são raramente o que parecem"
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pov macarenaMeus pés se afundaram ao toque macio e levemente úmido da grama molhada na qual dava início a uma floresta de árvores cheias de frutos e folhas perfumadas.
Eu não sabia ao certo o que eu estava fazendo ali, não naquela hora da noite e principalmente porque eu sequer reconhecia o lugar escuro, frio e estranhamente atraente. Algo no fundo de meus pensamentos falava, uma voz rouca e com timbre especialmente mágico e... Maléfico. Essa voz sussurrava, me dizendo para que eu seguisse meu caminho, para que caminhasse floresta adentro, sem medo ou receio, porque eu estava salva e sendo completamente protegida por todos que me olhavam.
Mas... Quem me olhava? Não havia nada ali além de árvores absurdamente altas e um nevoeiro denso que começava a se entranhar em minhas roupas (que consistiam apenas em um vestido fino para dormir e um casaco). Estava escuro demais para enxergar uma pessoa, ou qualquer ser que se assemelhasse a uma. Eu não estava com medo, no entanto. Apenas comecei a caminhar pelo caminho guiado pela voz, sem nenhuma vez sentir que qualquer coisa fosse me machucar, nem quando, depois de caminhar por longos minutos, pequenas fadas com asas brilhantes e coloridas começaram a voar ao meu redor como pequenos vagalumes.
Eu não me importei em rir e brincar com elas, mesmo sabendo e tendo a sensação gritante de que alguém me vigiava através da escuridão que cercavam as árvores daquela floresta. Eu sabia que aquela presença, fosse o que fosse, estava apenas cuidando de mim, me protegendo. Eu apenas não sabia o porquê dela sequer me mostrar seu rosto.
Durante parte daquela noite, eu caminhei por diversos bosques, conheci lagos comandados por sereias, fadas falantes que me convidaram a tomar chá em suas casinhas, e claro, trolls, que apesar de terem uma aparência que geralmente afastava todos que os conheciam, eram umas gracinhas e genuinamente gentis e adoráveis. Eu estava completamente apaixonada por qual quer que fosse o nome daquele lugar mágico e indescritivelmente lindo.Quem dera — Penso. — Ainda houvesse magia e feéricos em um mundo tão destroçado quanto o meu.
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Após passar quase uma hora dançando com algumas fadas e trolls, eu me sentei à beira de uma pequena ravina da floresta e tomei água com a concha das mãos, sem deixar meu sorriso escapar do rosto por um minuto sequer.
No mundo real — porque bom, aquilo certamente era um sonho divino. — havia apenas nossas almas gêmeas, que nos marcavam quando desenhavam em suas peles, faziam tatuagens ou qualquer coisa que a marcasse fisicamente. Como se por instantes, vivêssemos em um mesmo corpo. Mas eu nunca cheguei a encontrar a minha, apesar de quase todos acharem as suas ainda muito pequenas.