Capítulo 19 - Fantasmas do Passado

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    As figuras perplexas de Matt e Becky ainda fitavam o olhar assombrado de Sophia e o olhar assustado e confuso de Taylor. 
     – O que está acontecendo aqui? O que você está fazendo, Sophia? – perguntou Matt, rígido.
     Matt foi em direção a Sophia e a puxou com firmeza pelo braço. Ela o encarou, sem dizer nada. Taylor tinha um olhar cada vez mais confuso. Imóvel na cama, não conseguia entender o que realmente estava acontecendo diante dele. Ele encarou Matt por um instante e sentiu como se já o conhecesse. Depois, seu olhar encontrou os de Becky, que chorava ao olhar diretamente para ele. 
     – Quem são vocês? – perguntou Taylor, quebrando o silêncio. – O que estão fazendo aqui?
     – Não ouça nada do que eles disserem, meu amor! Eles não são ninguém! – exclamou Sophia, com desespero no tom.
     Ela deu um empurrão em Matt e se afastou!
     – Saiam daqui! Saiam da minha casa agora! – gritou ela, que se vestiu.
     – Nós não vamos a lugar algum! – disse Becky, por fim.
     – O que você estava fazendo com ele, Sophia? Como teve coragem... – exclamou Matt, que a encarou com um olhar de desprezo.
      Ele pegou uma chave que estava no chão e se aproximou de Taylor. Segurou as algemas que prendiam sua mãos e a abriu. Taylor o encarou e assentiu, com um olhar como se estivesse dizendo “obrigado”.
     –  Eu reconheço você! – falou Taylor, enquanto Matt abriu as algemas que prendiam seus pés.

     Becky se aproximou de Sophia, que acabara de se vestir. Fitou seu rosto sem expressão por um instante. Sophia também a encarou. Ela agora tinha uma expressão fria e árdua. Ficaram cara a cara. O momento se desfez. Com toda a sua força, Becky levou sua mãos ao rosto de Sophia e deu um tapa na cara dela, que caiu no chão.
     – Desgraçada! Maldita! – gritou Becky, enfurecida.
     – Calma, meu amor! Calma! Você não precisa disso. – disse Matt, que foi até Becky e a abraçou.
     – Você destruiu a minha vida! Você tirou tudo o que eu tinha quando... – deu uma pausa e encarou Taylor. – Quando me separou do meu filho! Isso é pouco perto do que você merece! – disse Becky, que chorava.
     – NÃO! NÃO!- gritou Sophia, que se levantou e a encarou outra vez. – Ele é meu filho! Meu! Está ouvindo? Sua maldita!
     Becky estendeu a mão novamente e deu outro tapa na cara de Sophia. Matt segurou Becky e a afastou.
     – Do que vocês estão falando? – perguntou Taylor outra vez, ainda confuso. – Quem são vocês? – Que história é esse de filho?
     Eles caminharam em passos leves, abraçados. Pararam bem diante de Taylor, que os encarava.
     – Eu sou seu pai! – disse Matt, chorando.
     – E eu... Eu sou sua mãe! Sua verdadeira mãe! – disse Becky, que também chorava.
     Taylor ficou imóvel, completamente sem reação. Não sabia o que dizer e nem pensar naquele momento. Seus olhos se desviaram e encontraram os de Sophia.
     – Não! Isso não é verdade! EU SOU A SUA MÃE! – gritou ela, atordoada. – Eu te disse que eles mentiriam! Não acredite em nada, nada disso!
     Becky encarou Taylor. Ela aproximou as mãos e tentou tocar no braço dele, que hesitou e recuou.
     – Eu sei que você deve estar muito confuso agora com tudo isso, mas é verdade. – disse Becky.
     – Você é nosso filho, Taylor! Nosso! – exclamou Matt. – A Sophia não é sua verdadeira mãe, e nem nunca foi.
     – Ela tirou você de mim quando você ainda era um bebê. Você tinha acabado de nascer quando ela te tirou dos meus braços. – disse Becky, aos prantos.
     Taylor encarou Sophia, com uma tristeza no olhar. Seus olhos estavam inchados e ele se sentia inquieto.
     – Não acredite neles, filho! Por favor! – disse Sophia, transtornada.
     – Já chega! Acabou pra você, Sophia! – gritou Matt. 
     – Eu nunca vou esquecer aquele dia. Você é um monstro, Sophia! – disse Becky, que a encarou com forte desprezo no olhar.

                                 •  •  •  •

     Um grande tumulto acontecia pelos corredores do Grady Health, maior hospital público da cidade. Os médicos levaram rapidamente na maca uma paciente até a sala de emergência. A paciente era Sophia Clarke.
     Sophia olhou de um lado para o outro. Sua visão era turva ela estava confusa com tudo o que estava acontecendo. Não se lembrava o porquê de estar ali.
     – Doutor! Doutor! – exclamou Sophia, agitada e com a respiração acelerada. – O que está acontecendo? Pra onde estão me levando? – questionou ela, ainda confusa com tudo aquilo.
     Ela colocou a mão direita na parte de baixo de seu vestido, que era um seda branco. Ela levantou as mãos e viu um forte vermelho sobre elas. Era sangue.
     – Ah meu Deus! Não! – gritou, desesperada. – O meu bebê! Doutor, o meu bebê! Por favor, salva o meu bebê! – exclamou Sophia, aos prantos. Logo, seus olhos se fecharam e ela apagou.
     Sophia despertou. Sua vista era bem turva e notou um médico parado diante dela.
     – O que aconteceu? – perguntou ela, confusa. Sua voz era fraca.
     – Eu sinto muito, senhorita! – disse o médico, que segurou nas mãos dela. – Nós tentamos de tudo! Não há mais nada que possamos fazer!
     – O quê? Do que está falando, doutor? – disse, histérica.
     Ela inclinou levemente a cabeça e olhou para sua barriga. Se pôs a chorar.
     – Não! Não! – exclamou, aos prantos. – Por favor, doutor! Não me diga que... – não conseguiu completar as palavras.
     – Infelizmente, a senhorita perdeu o bebê. – disse ele, lamentando.
     Naquele instante, Sophia se paralisou. Estava em choque. Seu rosto anêmico era inexpressivo. Nada podia descrever o tamanho da sua dor. Se levantou e vagou pelos corredores vazios do hospital. Estava  desnorteada, quase inconsciente. Andava em passos lentos e ouviu um som vindo de uma das salas ao lado. Parou diante de uma janela de vidro transparente e avistou Becky, deitada sobre uma cama. Matt estava bem ao lado dela e segurava suas mãos com firmeza. A dor da perda que Sophia acabara de ter se multiplicara diante do que agora se passava por seus olhos. Seu rosto anêmico franziu e corou de raiva e ódio. Ficou parada, completamente imóvel, diante da janela  enquanto assistia o filho de Becky e Matt vir ao mundo. Foi então, que com apenas 17 anos, Sophia Clarke cometeu o seu primeiro crime. Ela voltou a caminhar pelo corredor e abordou uma enfermeira que vinha de passagem. Pediu um remédio para dor de cabeça e a enfermeira a conduziu até uma salinha pequena no final do corredor. A enfermeira foi até uma gaveta e a abriu. Sophia olhou para uma mesinha ao seu lado e notou uma seringa. Pegou a seringa rapidamente e caminhou em passos leves até e enfermeira, distraída. Parou atrás dela e agarrou seu pescoço, com força. Enfiou a seringa repetidas vezes. Sangue jorrava e a enfermeira caiu sobre o chão. Sophia tirou seu vestido e atirou no chão. Tirou o uniforme da enfermeira e colocou sobre o seu corpo. Abriu a porta da salinha e notou o corredor vazio. Caminhou tranquilamente e avistou um bebê sendo levado a sala da incubadora. Esperou um tempo no corredor e não teve dificuldades para entrar na sala vestida de enfermeira. Pegou o bebê no colo e sorriu para ele. Colocou um lenço sobre o rosto dele e o envolveu em sem braços. Saiu sem ser notada e caminhou até o fim do corredor. Saiu pela porta dos fundos, pegou um táxi que já estava pra sair e foi embora. Quando todos sentiram a falta do recém nascido, já era tarde demais.
     Sophia chegou em casa e se trocou rapidamente. Sara não estava lá. Certamente a essas horas estava desmaiada sobre a mesa de um bar qualquer como de costume. Sophia abriu a gaveta de uma pequena escrivaninha que ficava na sala e pegou uma grande quantia em dinheiro. Envolveu o bebê em seus braços outra vez e saiu, as pressas. Pegou outro taxi e partiu para a estação mais próxima de metrô.

                                 •  •  •  •

     Becky encarou Taylor, com os olhos inchados.
     – Foi assim que ela te tirou de nós! – disse ela, chorando.
     – Eu sei que é difícil pra você acreditar, mas é a verdade. – disse Matt.
     Taylor fitou Sophia, que estava em silêncio, sem expressão. Mas ele conhecia seu olhar como ninguém. Afinal, foram 18 anos ao seu lado. Ela já usara várias artimanhas contra ele. Seus truques e performances eram impecáveis e incontáveis. Mas ele conhecia bem a verdade sobre o seu olhar. Taylor não se moveu, nem demostrou nenhuma reação. Ele seguiu imóvel enquanto era encarado por aqueles distintos olhares que o rodeavam.

     O som alto de uma sirene se fez ouvir de longe. Uma viatura de polícia estacionou bem diante a residência. Sophia ficou intrigada e seu rosto franziu.
     – Polícia? Quem chamou a polícia? – perguntou, atordoada. 
     – Nós não chamamos. – disse Matt, surpreso. – Mas não vou deixar que você escape outra vez!
     Matt se moveu imediatamente e segurou Sophia, que tentou correr. Ele agarrou seu braço com força e a envolveu sobre ele.
     – Chegou a hora de pagar por tudo que você fez! – exclamou ele, que a fitou.

     Dois policiais armados atravessaram o jardim e entram na casa. Subiram às pressas as escadas e passaram pelo corredor. Estavam diante da porta do quarto de Sophia
     – Sophia Clarke? – perguntou com rigidez um dos policiais. Ele segurava uma arma nas mãos.
     – Sim! – assentiu ela, envolta nos braços de Matt. – O que querem comigo?
     – Sophia Clarke, você está presa!

Uma Estranha ObsessãoWhere stories live. Discover now