Capítulo 3 - Amada Outra Vez

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     Não passara das 9h de uma manhã ensolarada como o habitual. Sophia, vestida de um escuro negligé de seda com alças finas, sentou à beira da cama e pegou um celular que se encontrava bem ao lado. Discou uns números e levou o aparelho ao ouvido.
     – Alô. Mãe! - exclamou Sophia, com um tom pouco animador.
     – Filha! - exclamou Sara, emotiva. – Você... você está bem?
     – Sim. Estou. E você? - seu tom era seco, quase que em desdém.
     – Estou melhor agora. Já fazia tanto um tempo que você não me ligava.
     – Talvez seja porque eu não confie mais em você.
     – Oh, filha. Eu já te disse que já parei com isso. Eu não bebo mais como antigamente.
     – Isso pouco me importa e não me interessa saber.
     Sara ficou em silêncio do outro lado da linha.
     – Olha aqui... Eu vou ser bem clara, tá bom? - continuou em tom ríspido. – Só estou te ligando a pedido do Taylor. Não pense que vai me reconquistar outra vez, porque não vai.
     – Filha, por favor. Não seja tão dura comigo. Eu te juro que já me recuperei, é verdade. Confia em mim.
     – E eu já disse que não quero saber! Aliás, você sabia que amanhã é aniversário do meu filho?
     – Meu neto! É claro! Claro que eu sabia. Como poderia me esquecer? Ele faz 16, não é? 
     – 18. - disse impaciente.
     – Oh, me desculpe. É que já faz tanto tempo... Ele já deve estar um homem.
     – Amanhã vou fazer uma comemoração pra ele, e ele me pediu pra te convidar. Então.... Mesmo que isso não me agrade em nada, esteja aqui. Por favor.
     – Mas é claro, querida.
Pode deixar. Eu vou sim! Estou morrendo de saudades de vocês!
     – Tá bom! Mas faça o favor de aparecer aqui sóbria amanhã, está ouvindo? Não vai fazer nenhum vexame, se não eu juro, eu juro que te coloco pra fora na mesma hora! - disse furiosa. Desligou a chamada e jogou o celular na cama.

     Essa era a difícil relação que Sophia mantinha com Sara. Durante alguns anos, ela se encarregou dos custos e foi a responsável por uma renda mensal na qual sempre mandava para a mãe. Mas apenas disso se tratava aquela relação. Da parte de Sophia, não havia amor, carinho e nenhum tipo de afeto, era como uma relação extremamente profissional entre duas pessoas sem qualquer relação. O único elo em comum que ainda tinham entre si era o jovem Taylor.

     A manhã rapidamente correu e se transformou em tarde. Eram quase 16h e Sophia outra vez se encontrara em seu quarto. Vicky deu duas leves batidas na porta do quarto de Sophia, e com seu consentimento, entrou. Ela trouxe dois cestos com algumas roupas limpas e passadas e arrumou algumas no closet de Sophia. Um outro cesto restou com roupas de Taylor. Sophia dispensou os serviços de Vicky e ela mesma foi levar as roupas do filho. Caminhou pelo corredor e entrou no quarto de Taylor, que estava com a porta fechada. Em um rápido movimento, Taylor pegou uma toalha branca que estava recostada sobre a cama e se cobriu.
     – Mãe! - exclamou ele com repreensão ao ver Sophia ali.
     – Ah, filho. Desculpa! - exclamou, sem jeito. – Não sabia que estava se vestindo.
     – Bom, agora sabe... Pode virar de costas, por favor? 
     – Ah, claro! - disse com um leve riso e virou de costas.
    Taylor rapidamente se vestiu e pôs a toalha sobre o ombro.
     – Pronto, mãe! Já pode virar.
     – Eu só vim trazer essas roupas suas. Vicky acabou de passá-las.
     – Ah, certo. Mas por que você veio trazer, mãe? É sempre a Vicky que costuma trazer.
     – Bem, sim. Mas eu ainda não tinha te visto hoje, e como gosto de passar mais tempo com você, eu mesma quis trazê-las.
     – Ah, obrigado por isso, mãe. Sabe que também gosto de passar mais tempo com você. - disse ele, que a beijou no rosto.
     – Eu falei com a sua avó hoje, como você me pediu.
     – Sério? E o que ela disse? Ela vem amanhã, não vem? - não disfarçou a excitação.
     – Sim. Eu acho que ela vem sim. - disse, em contraposto, nada excitada.
     – Que bom que vocês fizeram as pazes, mãe! Não gosto de te ver brigada com a Vovó.
     – Não disse que fizemos as pazes. Só que ela virá amanhã. E só porque que você me pediu isso.
     – Tudo bem, mãe. Eu sei que uma hora vocês duas irão se entender. Eu sei que vão!
     – É... Quem sabe.
     Um vago olhar pairou sobre a expressão dela.
     – Ah, mãe... Eu quero te apresentar uma pessoa. Ela está lá em baixo! - a excitação continuou em seu tom.
     – Ela? Quem é ela? - perguntou, um tanto intrigada.
     – É alguém que eu queria muito que você conhecesse, mãe. Vem comigo!
     Ele pegou nas mãos dela e eles desceram juntos as escadas. Do patamar no meio da escada, Sophia avistou alguém no andar de baixo. Eles seguiram até a sala de estar, e lá se viu sentada numa poltrona uma bela jovem. Ela tinha um pouco mais que 1,60 de altura, cabelos escuros e olhos castanhos. Logo se notou que estava nervosa.
     – Mãe... Então, essa é a Alexa! - disse Taylor, que se colocou ao lado da jovem e segurou suas mãos. – Alexa, essa é a minha mãe, Sophia.
     Um breve silêncio se instalou naquela sala. Por um momento, não se viu nada na expressão de Sophia. Era como se tivesse imersa, congelada. Não foi possível ter a mínima noção do que se passou em sua cabeça naquele breve momento. E então, por fim aquele silêncio foi quebrado. Foi como se Sophia de súbito recuperasse os sentidos e voltasse a vida.
     – É um imenso prazer te conhecer, querida. - disse Sophia, com um sorriso estampado no rosto.
      Sophia se aproximou da jovem e elas se cumprimentaram com um beijo no rosto.
     – O prazer é todo meu, senhora Clarke. - disse Alexa, com um sorriso tímido.
     – Ah, por favor... Sem esse senhora, está bem? Me chame apenas de Sophia.  
     – Ah, então tudo bem. Me desculpe... Sophia.
     – Sem problemas, querida.
     – A Alexa estava ansiosa demais pra te conhecer, mãe. - disse Taylor, sorridente.
     – Sério? E você nunca me disse nada sobre ela!Então vocês são... - ela deu uma pausa. – namorados?
     – Amigos, mãe! - disse Taylor.
     – Isso. Somos amigos! - disse Alexa, ainda com timidez.
     – Oh, me desculpem. Eu... é que pensei que... Esqueçe. - se calou por um instante. – Vou me deitar um pouco e deixar vocês a sós.
     Ela se retirou, um tanto transtornada.
     Taylor e Alexa seguiram por ali.
     – Você acha que ela desconfiou de alguma coisa? - perguntou Alexa, com um tom aflito.
     – Não. Eu acho que não. disse Taylor. – Mas tem certeza que não prefere contar logo? Você já viu como minha mãe é. Ela é super de boa e tranquila, não tem porque você ficar nervosa assim.
     – Eu não sei... é que, você sabe. Sempre acabo ficando nervosa demais e com medo de deixar uma primeira impressão ruim. Acho melhor deixar pra amanhã mesmo, se você não se importar.
     – É claro que não. Tudo bem, meu amor. Como você quiser.
     Ele se aproximou dela, levou suas mãos sobre seu rosto e a beijou.

     No dia seguinte, logo ao amanhecer, Sophia abriu silenciamento a porta do quarto de Taylor. Entrou sem fazer barulho e parou bem diante da cama dele, ainda deitado. Nas mãos, ela segurava uma bandeja de café da manhã.
     – Parabéns, meu amor! - exclamou Sophia, que foi até a cama, abaixou e deu um beijo e um abraço apertado em Taylor.
     – Obrigado, mãe! - disse ele, a evolvendo em seus braços. – E obrigado também pelo café da manhã especial.
     Ele pegou a bandeja e colocou ao seu lado.
     – Essas torradas estão maravilhosas! Mandou bem demais, mãe! - disse ele, enquanto ainda mastigava.
     – Feitas especialmente pra você, meu amor! - disse com um sorriso.
     – Então como a pessoa mais especial na minha vida, faça o favor de me acompanhar no café, *madame. - disse com um tom totalmente francês e riu.
     Ele pegou uma das torradas e levou à boca dela, que recebeu com muito gosto. Eles tomaram juntos o café da manhã que ela mesma preparou para ele.
     – E então, querido. Enfim os 18 anos! Que emoção! - disse ela, que se deitou ao lado dele na cama.
     – É, mãe. Mas também não é pra tanto, né.
     – Como não? Meu único filho completando 18 anos. Você não faz idéia como uma mãe se sente nesse momento. Se eu pudesse, convidaria a cidade inteira pra sua festa hoje.
     – Mãe... E você sabe que eu não te perdoaria nunca por isso, né?
     – Sim, eu sei. E você sabe que eu não aguentaria te ver de mal comigo, né?
     – Pois é, eu sei. E eu te amo por isso, mãe!
     – Você é o melhor filho que uma mãe poderia ter. Sabia?
     – E você é a melhor mãe desse mundo. Sabia?
     Outra vez, eles se abraçaram.
     – Ah, mãe. Hoje durante a festa tenho uma novidade pra te contar. Tenho certeza que você vai gostar!
     – Ah é? Bom, então já estou ansiosa. Tenho certeza que vou adorar.
     Taylor fitou Sophia por um instante e sua expressão era um tanto pensativa.
     – O que foi, querido? - perguntou ela, que notou seu olhar.
     – Mãe... Posso te fazer uma pergunta?
     – É claro. Pergunte o que quiser.
     – Sei que não gosta muito de falar nesse assunto. - ele falou devagar e com uma pausa. – Você nunca mais voltou a falar ou encontrar com o meu pai depois que eu nasci? Nem mesmo uma só vez?
     Ela pareceu claramente surpresa com a pergunta.
     – Não, querido. Seu pai tomou o caminho dele e eu tomei o meu. Nós nunca mais nos vimos. - disse, calmamente.
     – Sinto muito, mãe. Eu sei o quanto deve ter sido difícil enfrentar tudo isso sozinha.
     – Sabe, filho. O seu pai era muito parecido com você. Em vários aspectos. - disse ela, que o fitou da mesma forma que ele acabara de fazer.
     – Sério? Não sei se isso é bom ou ruim. - comentou. – Nunca vou entender porque ele te deixou, mãe. E também nunca vou perdoar ele por isso!
     – Eu amei muito o seu pai! Ele era um homem muito bom. De verdade! Apesar de tudo, eu não guardo mágoas dele. Eu só lamento muito por ele não ter querido te conhecer. - disse, e então chorou.
     – Não fica assim, mãe! Eu não preciso dele. Nós não precisamos dele! Enquanto eu tiver você do meu lado, serei eternamente feliz. E isso é mais que suficiente!
     Ele apoiou a cabeça dela sobre seu ombro e a consolou.
     – Obrigada, meu amor! Você é tudo pra mim! Eu te amo demais! Estarei sempre aqui pra você!
     – Eu também te amo, mãe! E sempre estarei aqui! Sempre!

     Os olhos de Sophia se fecharam e ela repousou sobre os ombros de Taylor. Naquele exato momento, ela sentiu algo que já não sentira há muito tempo. Ela voltou a se sentir amada. Amada por alguém especial. Alguém que estaria ali para ela. Alguém sempre disposto a segurar suas mãos e estar ao seu lado em todos os momentos. Alguém disposto a amar, cuidar e protegê-la, coisa que Matt não foi capaz de fazer. Mas esse alguém... era seu filho. 

Uma Estranha ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora