CAPÍTULO 1

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O barulho alto da chuva atingindo a janela do meu apartamento me faz despertar. Meio sonolenta, deixo as minhas anotações encima do sofá e vou até a janela tranca-la. O céu estava nublado pelas nuvens e era possível observar alguns alguns raios se formando entre elas, seguida de trovões barulhentos. Talvez seja só superstição, mas odiava dias assim, como se trouxesse presságios ruins.

- Porra - xingo a mim mesma ao sentir meus pés umidecendo por ter esquecido a janela aberta e deixado entrar água, vou até a lavanderia pegar um pano seco para enxugar o chão, depois de limpo vou até o sofá para recolher todo meu material de estudo de alguns pacientes.

Dormir tem sido uma tarefa difícil nesses últimos dias, a clínica está passando por mudanças na diretoria que me fazem ter que trabalhar até tarde, e meu tempo livre uso para estudar os casos complexos dos meus pacientes, precisamente, encontrar a causa-raiz de um transtorno em questão, mas se torna uma tarefa difícil quando meus pacientes mentem constantemente sobre suas situações ou inventam contextos distorcidos pra se sentir melhor e não parecerem culpados por algo.

O relógio marcava às 2:32 da madrugada, ainda sonolenta faço meu trajeto até meu quarto, guardo meus livros e cadernos de anotações na estante com todos os outros livros de estudo. Deito na cama e em questão de segundos eu estava dormindo.

...

Acordo atrasada por desligar todos os alarmes que estavam programas e "dormir mais 5 minutos", bom... os 5 minutos viraram 5 horas, eu não só me atrasei, eu perdi um dia de trabalho. Me amaldiçoei pela irresponsabilidade e fiz minha rotina com rapidez, peguei as chaves do carro e dirigi aflita até a clínica. Eu sabia sobre meu erro de desligar o alarme e procrastinar, mas não poderia ser inconsequente de dirigir igual uma doida. Eu já estava atrasada, não havia mais o que fazer além do trânsito me atrasar mais. Na pior das hipóteses, eu assinaria minha demissão hoje.

Foram levados em média 40 minutos até chegar no meu trabalho, caminho em direção a sala da minha chefe passando por todos os meus colegas com determinação em cada passo, eu estava com tanta pressa para que ela possa me demitir?

Dou duas batidas na porta para revelar minha presença, a mesma me observa e sinaliza para que eu entre

- Boa tarde Sakura - ela diz propositalmente olhando para seu relógio de pulso e escondendo um sorriso divertido

- Boa tarde Senhora Tsunade, eu gostaria de primeiramente me desculpar pelo atraso. - peço mantendo a cabeça baixa

- Chama isso de atraso?

- Eu- eu... estava exausta. - tento me justificar mas minhas palavras quase não saem

- Acha que está trabalhando demais? - questiona firme

- Não, eu não quis dizer isso, apenas... - sussuro envergonhada por parecer medíocre e preguiçosa. Reunindo coragem eu decido me defender - Tsunade eu realmente precisava descansar e manter meus pensamentos em ordem, sei que não estaria cem porcento focada em meus pacientes se estivesse exausta e isso influenciaria no meu trabalho.

- Entendo. - o seu silêncio me causa desespero.

- A senhora pretende me demitir? - pergunto quebrando nosso silêncio fazendo-a me encarar como se estivesse pensando na alternativa.

Ela respira fundo e pede para que eu me sente na cadeira disponível em sua frente, o silêncio é ensurdecedor, eu poderia facilmente ouvir os grilos em sua cabeça ordenando que me subtitua. Seus braços apoiados em sua mesa e suas mãos entrelaçadas indicava que estava pensativa, anos convivendo com ela, eu já havia decorado suas manias.

Tsunade era como uma segunda mãe para mim, ela me conheceu em um dia triste em que eu havia perdido meu animal de estimação, a tristeza tomava conta do meu peito quando eu pensava nela, eu sabia que animais tem um ciclo muito menor do que um ser humano mas naquele instante eu queria ter ido primeiro para me poupar da dor. Mia foi a primeira gata que adotei, eu a vi fugindo de alguns cachorros que provavelmente a matariam se eu não estivesse lá, levei ela para minha casa e cuidei como se fosse minha filha, era tão pequena e frágil, apenas uma filhote abandonada e sem defesas, as coisas ficaram difíceis quando precisei sair da casa dos meus pais e fui morar sozinha, a adaptação dela estava sendo a parte mais difícil de toda a transição. Então decidi que ela ficaria bem aos cuidados dos meus pais, não poderia força-la a estar em um ambiente em que se sentisse desconfortável, alguns messes se passaram e eu sempre ia visitá-la e levar mimos. Entretanto, houve uma semana de provas em que precisei me dedicar muito aos estudos e não havia tempo livre para que eu a visitasse, no final de semana depois de estar livre das provas, recebi a notificação que ela havia falecido, entrei em choque, e essa não foi a pior notícia, mas sim a de que ela havia sido atropelada tentando vir até mim, ninguém parou para socorre-la e ela morreu sozinha e com dor. E eu não estava lá.
A notícia se espalhou e fiquei conhecida como "a rosada inútil" alguém que não teve capacidade nem de ajudar seu animal de estimação, porém isso mudou quando Tsunade me orientou e me acolheu, me permitiu ter um propósito e desde então prometi que ajudaria todas as pessoas que precisassem, eu não as abandonaria como fiz com a Mia, eu lutaria por cada um dos meus pacientes.

PSICOPATA EM KRATOS ||  𝒔𝒂𝒔𝒖𝒔𝒂𝒌𝒖Where stories live. Discover now