I don't want start over.

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Versão narrada por: Bucky.

_ Seus olhos me encaravam como chamas, ela não sabia como reagir, imagino que não soubesse como, nenhum de nós. _

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Pra mim, foi como acordar de um sono de mais de 15 horas seguidas. Meu corpo reclamava do tempo que ficara na mesma posição, e meus olhos, apesar de secos, não se incomodavam com a luz, já que estava de noite.

Eu levantei, reconheci a cabana como uma das que vi nas aldeias ao redor do palácio, assim como a roupa que eu vestia.
Não era meu estilo, pra ser sincero, mas tinha que admitir que era super confortável.

A medida que meu cérebro se lembrava dos comandos básicos, eu percebi a falta do braço metálico em meu ombro esquerdo; esse estava coberto com um lenço azul.

Me levantei com uma tontura forte, a ponto de ter que me apoiar na parede. Eu precisava de um ar, urgentemente.
Mas então é claro...

Hope.
Ela era o ar que esperava respirar ao acordar do coma, mas não estava ali.
Eu estava sozinho.

De repente a tontura volta com inúmeros flashes em minha mente, como sonhos confusos, como memórias perdidas. Acontece que eu estava bem ciente de todo o meu passado, não haviam mais memórias para serem relembradas, então o que era tudo aquilo?

Me sentei novamente, fechei os olhos para focar em qualquer coisa que fosse, qualquer pensamento, qualquer cheiro...

Tocando no colchão de penas, percebi que eram dois.
Percebi que um dos travesseiros tinha o cheiro dela.

Eu sei o que parece. Parece loucura.

Mas pra mim, independente do tempo que passou, pra mim foi um dia.
Um dia atrás eu acordei ao lado dela, eu a beijei, eu fiz uma promessa de não fazer promessas... e falhei miseravelmente, pois fiz centenas de promessas a mim mesmo.

Dentre elas, prometi;
- Ter certeza que Hope está feliz.
- Se ela estiver feliz com outro, garanta que ele é excelente pra ela.
- Não fazê-la se sentir culpada.
- Estar sempre do lado dela, sempre que precisar.
- Ficar livre do soldado invernal.
- Pedir perdão.

E óbvio, a promessa mais fácil de cumprir:
- Amá-la pra sempre, mesmo que precise esperar mil anos. Mesmo que ela não esteja mais apaixonada.

Todas essas promessas seriam consequência do fato de meu coração pertencer a ela.

Eu acordei a menos de meia hora, e sentia todo o meu corpo formigar de ansiedade.
Por quanto tempo, de verdade, eu dormi?

Respiro fundo, umas 5 vezes, mas não funciona.
Eu agarro o travesseiro que suponho ter o cheiro dela, e fecho os olhos mais uma vez.

Quando se sai do coma, é difícil saber se algo é real, ou se você está delirando.
E assim como seu cheiro, sou capaz de ouvir sua voz. Tão perto.

Foi só um suspiro, mas o vento que passa pela porta da cabana - coberta por apenas uma cortina - chama minha atenção para fora, onde enxergo uma sombra.

- Hope?
Foi involuntário, então não sei se foi alto o suficiente.

- Hope... - chamo mais uma vez.

E a ventania sopra de novo, revelando a estatura à porta, sentada no único degrau da construção.

Ela se vira e chama meu nome.
E daqui a diante, não há palavras.

Nem sei se há respirações.
Seus olhos me encaravam como chamas, ela não sabia como reagir, imagino que não soubesse como, nenhum de nós sabia.

Tudo o que tínhamos eram nossos olhos.
Refletidos pela única luz que incidia naquele lado da aldeia. Pela parte da gigante Lua que ladeava a cabana.

Não somos vilõesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora