Capítulo 12

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S/n Grimes

Depois da rápida conversa com o Daryl, eu fui até a casa da Michonne. Judith não estava lá, nem o RJ. As crianças tinham saído para brincar com os outros pela comunidade.

— Vem, entra. - a mulher abriu a porta e saiu da frente para que eu passasse.

— O Daryl vai sair à noite. Ele acha que é mais seguro. - aviso. — Vamos com ele.

— Leve a Judith, ela está muito animada com essa feira. Mas eu não vou.

— Michone...

— Eu nunca estive de acordo com a nossa participação, não faz sentido eu ir agora. - disse, parada na frente da lareira na sala, de costas para mim. — Eu não posso ir.

— São os nossos amigos. - vou até ela, parando ao seu lado. — Você precisa ir.

Paradas uma do lado da outra, as fotos nos porta-retratos em cima da lareira pareciam olhar para nós. Tentei não encher meus olhos de lágrimas quando vi a foto do garoto de chapéu, com um curativo no olho e um sorriso gigante, mas foi quase impossível.

Eu, o Carl e a Judith estávamos tão felizes naquela foto, depois de sujar toda a varanda com uma tinta azul que ele encontrou. Meu irmão já tinha sido mordido naquele dia, naquele momento, ele só não tinha dito nada a ninguém.

— Éramos pra ser quatro irmãos, não três. - digo, pegando aquele porta-retrato. — O Carl não merecia estar marcado em um pedaço de madeira na parede. - me refiro ao pedaço da varanda que meu pai tirou há alguns anos, onde estava a marca azul das nossas mãos. — É estranho olhar em volta e não ver ninguém.

— Os filhos não deviam morrer antes dos pais. - ela disse, também com os olhos na foto.

Eu respirei fundo e comprimi os lábios, colocando o porta-retrato no lugar.

— Você nunca consegue se curar, porque passa tempo demais curando os outros. - falei, encarando apenas as fotos.

— Eu suporto pra que eles não precisem. - foi o que ela disse, também sem olhar para mim.

— É horrível quando você percebe que ninguém realmente sabe o quão infeliz você é. - cruzei os braços, soltando um suspiro frustrado.

— Eu sempre falo que tá tudo bem só pra evitar tocar na ferida e abrir os pontos de novo. - disse a samurai. — Pensar demais acaba com a melhor parte das coisas.

— Eu pareço ser tão forte, mas estou cansada... - desabafo, sentindo um grande alívio. — Muito cansada.

— Às vezes eu tenho vontade de me afastar de todos e ficar sozinha. Então eu lembro que já estou assim. - ela desabafou em seguida.

— Eu gosto de ficar sozinha, mas não gosto de me sentir sozinha. As únicas pessoas que entendiam isso morreram ou simplesmente desistiram de mim.

— Eu não desisti de você. - Michonne e eu finalmente nos encaramos, trocando sorrisos confortadores.

— Viver triste é como um suicídio lento. - digo, voltando a olhar para as fotos. — Você está morrendo aos poucos, você sabe disso, mas não pode fazer nada.

Estávamos apenas nós duas ali, desabafando uma com a outra, falando sobre coisas que nunca falamos antes. Estávamos nos reconectando, nos aproximando de novo.

Senti falta de conversar com ela.

— Eu me perdi no meio do caminho, me tornei quem eu mais temia. Uma pessoa fria e sozinha. - falei.

— E eu me tornei uma assassina. - ela disse em tom sério, olhei para ela e vi seus olhos marejarem.

— Todo mundo é um assassino, basta apertar o gatilho. - digo, lhe lançando um olhar compreensivo.

Love in chaos III - Daryl Dixon Where stories live. Discover now