Capítulo 15

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6 anos atrás...

Ele havia ido embora e me deixou aqui, sozinha e destruída. Eu me sentia traída, me sentia abandonada e usada. Ele não tinha esse direito, não tinha o direito de me deixar aqui com uma carta, uma maldita carta.

Já li aquela carta umas 100 vezes seguidas, tentando entender o real motivo dele ter ido embora. Ele diz que precisava de um tempo, que tinha medo de me machucar, mas eu não acredito.

Não acredito nele.

Desde que ele se foi, eu me tranquei em meu quarto e me isolei de todo mundo. Michonne vem aqui três vezes ao dia para deixar uma bandeja de comida, ela bate na porta e vai embora, mas eu nunca a abro.

Não tenho forças para comer, nem para simplesmente levantar da cama e ir até o banheiro tomar um banho.

Estou nessa há quase três semanas. No começo eu passava o dia chorando, mas agora nem isso eu consigo mais. Acho que as minhas lágrimas secaram.

Eles secaram elas.

O Glenn, o Carl, o meu pai e principalmente o Daryl. Eles são o motivo de toda essa merda.

Eu os amava, mas aí eles se foram e eu fiquei assim... destruída.

A culpa é deles, não minha.

Não, eu não tenho culpa.

Eu não posso ser a culpada.

Não sei se consigo lidar com isso.

Continuo na nossa casa, na casa que era minha e do Daryl. Se é que ainda posso chamar isso aqui de nosso.

Se é que esse lugar já foi nosso.

À noite, eu senti minha vista ficar escura e meu corpo mole, eu não comia há um bom tempo e mal me hidratava. Ouvi duas batidas na porta e o som dos sapatos se afastando, sabia que era a Michonne deixando meu jantar na porta.

Levantei com cuidado e caminhei cambaleando até a porta, a destrancando. Puxei a bandeja para dentro do quarto com o pé e tranquei novamente a porta, sentando no chão.

Peguei o sanduíche que havia ali e dei uma grande mordida, fechando os olhos e gemendo de satisfação. O suco fresco de laranja desceu pela minha garganta e no mesmo instante eu me senti um pouco melhor.

Mas aí algo aconteceu.

Meu estômago embrulhou e eu senti o vômito fechar a minha garganta. Corri até o banheiro e vomitei o pouco que tinha comido. Logo, mais batidas foram dadas na porta.

— S/n! S/n! - era a Michonne. — Você tá bem? S/n!

Limpei a minha boca com as costas da mão e fui até a porta, abrindo a mesma. A samurai estava com os olhos arregalados e um semblante preocupado, me encarando dos pés a cabeça.

— Eu... não tô bem... - eu falei, antes de tudo ficar escuro e eu desmaiar.

Ao acordar, percebi que estava na enfermaria. Minha cabeça doía e meu corpo parecia ter sido esmagado por um caminhão. Eu estava meio zonza, respirava com um pouco de dificuldade e tentava raciocinar tudo que estava acontecendo.

— Que bom que acordou. - a voz gentil de Siddiq me despertou de um leve transe. — Te coloquei no soro. Você estava desidratada. - apontou para a agulha presa em minha veia, que dava acesso para o líquido passar. — Isso vai te ajudar com a desidratação e o desnutrimento. Você tá um lixo.

— Muito obrigada. - forcei uma risada sem graça, resmungando com o desconforto que senti ao tentar me arrumar na cama.

— Tem mais uma coisa. - ele disse com a cabeça baixa, parecia hesitante.

— O que foi agora? - perguntei, esperando a merda que estava por vir.

Por agora, tudo que acontece na minha vida é uma grande merda. A minha vida é uma merda.

— Você está grávida.

Quando ele disse aquilo, o meu mundo parou. Siddiq continuou falando, mas eu não conseguia ouvir. Foquei apenas naquela frase, na possibilidade disso ser mesmo real.

— S/n.. você tá me ouvindo? - o médico sentou na beira da minha cama e segurou meus ombros, me sacudindo de leve. — Você precisa se alimentar melhor. Precisa se hidratar. Esse bebê...

— Eu não vou ter esse filho, Siddiq. Eu não posso. - digo com a voz trêmula, olhando para o homem com os olhos marejados.

— S/n...

— Eu não posso proteger essa criança. Não posso amá-la. - continuo. — Esse bebê não merece uma mãe como eu.

— Faça a escolha que achar melhor. Eu estarei aqui pra você. - Siddiq falou com um olhar sincero e compreensivo. — Mas saiba também que você pode sim proteger esse bebê. Você pode amá-lo e pode cuidar dele. Você sempre cuida das pessoas.

— Eu não posso... não posso. - lamento, esfregando as mãos no rosto. — Eu não posso ter um filho dele.

— A Carol sabe onde ele tá. Ele vai voltar. - garantiu, mas eu neguei imediatamente.

— Ele fez a escolha dele. - olhei seriamente em seus olhos. — Ele quis ir embora, ele escolheu isso. Não quero que ele volte porque se sente obrigado. Eu não quero que ele volte por pena.

— Não acha que ele tem direito de saber que você está grávida?

— Ele perdeu qualquer direito no momento em que decidiu ir embora. - suspirei. — Se depender de mim, ele nunca vai saber disso.

— Isso significa que você vai ter esse bebê? - perguntou esperançoso.

— Não, eu não vou ter. - eu estava decidida. — Quero que me dê alguma coisa pra tirar isso de dentro de mim. Agora.

Siddiq respirou fundo e concordou, levantando e caminhando até a dispensa de remédios. Eu pisquei repetidas vezes, tentando digerir aquilo e me controlando para não chorar.

Eu estava decidida em não ter aquela criança, eu não a desejava, não sentia nada. Aquilo para mim era uma desgraça. Mais uma merda acontecendo na minha vida.

Eu não podia estar grávida do Daryl, não podia ter o filho dele.

Eu não podia fazer isso sem ele.

— Aqui. - Siddiq voltou com um comprimido em uma mão e um copo cheio de água na outra. — Tome isso. É uma pílula abortiva.

Olhei para aquela pílula por alguns segundos e depois olhei para ele. Aquela era a decisão certa. Era o que eu queria.

Peguei o comprimido e o copo das mãos do homem. Fechei os olhos e respirei fundo uma última vez, levando a pílula até a minha boca.

Antes que eu colocasse a mesma dentro da boca, minha barriga deu um nó e eu senti uma dor infernal. Me contorci na cama e acabei derrubando o copo e o remédio no chão. Siddiq veio correndo até mim, tentando entender o que estava acontecendo.

Era como se algo brigasse dentro da minha barriga. Era uma dor insuportável, mas também era diferente... era muito mais que uma simples dor.

E naquele momento eu soube...

Eu soube que precisava daquela criança.

Love in chaos III - Daryl Dixon Where stories live. Discover now