Capítulo 13: Michel

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Michel cortava as ruas cegamente, não sabia exatamente onde estava indo. Pegou um taxi e foi direto para a Avenida Paulista. Andou a passos apressados por lá, observando as pessoas passando por ele. A rua estava cheia de gente de diferentes tribos. Percebeu que estava com saudade de São Paulo naquele momento que via a pluralidade de pessoas indo e vindo pela calçada.

Ódio e tristeza estavam brigando para tomar conta do rapaz naquele momento. "Como Dimitri pode ser tão cuzão?" pensava tentando segurar as lágrimas. O ego do namorado era grande demais, tão grande que Michel precisava carregá-lo às vezes. Dimitri só fazia o que queria e nunca demonstrava real interesse pelo namorado, exceto no momento que queria trepar. Fora isso, Dimitri não o respeitava muito. Michel percebeu que a sina dele eram pessoas que não o tratavam como ele desejava ser tratado.

A frustração foi se acumulando quando o período de lua de mel e descobertas acabara. Os primeiros meses vivendo na Coréia com Dimitri foram maravilhosos, os dois transavam muito, conversam muito, mas as conversas normalmente eram o Dimitri contando como era o melhor do universo, como ele fez bem em assassinar Daniel e Alex e como ele era especial. Michel não precisava que Dimitri ficasse passando a mão na cabeça dele e falando que gostava dele sempre. Mas ia ser bom ouvir pelo menos alguma coisa positiva vinda do namorado uma vez ou outra.

A briga que aconteceu na comemoração de 26 anos de Dimitri foi o estopim da frustração de Michel, ele não suportava mais ter que se desdobrar para que tudo saísse exatamente como Dimitri planejava ou queria. Michel era apenas uma escada para o namorado e esse sentimento chegara ao limite. O que tinha demais um bolinho e um "parabéns para você"? Tá certo que a situação era ridícula, mas foi apenas um gesto carinhoso.

Um ano aguentando um babaca, esse era o fim. Michel não sabia se iria terminar com Dimitri de vez, porque essa era a primeira briga dos dois, mas queria distância, muita distância naquele momento. Virou na Rua Frei Caneca e de lá foi ao Shopping Frei Caneca, sabia que lá era um ponto cheio de gays e estava a fim de sentir como era o ambiente. Ele viveu com medo do irmão e depois ficou mais um ano namorando fora do país, como o próprio namorado o incentivou a beijar outras bocas, seria isso que Michel faria.

Era muito cedo para ir a uma balada, então o Shopping era o melhor lugar para esperar o tempo passar e observar as pessoas por lá. Ele nunca tinha entrado ali e o choque de realidade foi muito grande quando deparou com dois caras saindo de dentro do local de mãos dadas, conversando tranquilamente. E não era somente aquele casal que estava andando de mãos dadas, havia muitos outros, alguns davam selinhos, enquanto passavam por famílias com crianças pequenas com pais que não se importavam em ter os filhos expostos a isso tudo.

Era como se tivesse entrado em uma realidade alternativa ali. A raiva e mágoa saíram do corpo de Michel enquanto ele andava pelos corredores observando as lojas e as pessoas. Andando pela praça de alimentação ele viu quatro caras, claramente gays, sentados em uma mesa conversando descontraidamente. Michel sentou-se à mesa ao lado, pegou o celular e ficou fingindo que mexia nele enquanto ouvia a conversa e olhava para eles disfarçadamente.

- A linha amarela é a melhor sem dúvida! - Um falava. - Acordar cedo para trabalhar vale à pena quando vejo aqueles seguranças lá.

- Acho que eles selecionam os caras pela beleza, não pode ter outro critério. - Outro complementou.

- Viu, o cara me perguntou se sou afeminado. - Disse outro olhando para o celular.

- Caralho, que uó.

- Vou falar que sou tão afeminado que peido purpurina.

Todos riram, inclusive Michel, que ficou com vergonha e medo deles perceberem que ele estava prestando atenção na conversa, mas nada aconteceu.

'Os Provocadores' (Thriller Gay)Where stories live. Discover now