Elena Ferrante

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Olá, de novo!

Não, isso não é uma miragem! Como eu já havia dito antes, existem algumas cenas de Vinte Minutos e V que já estavam prontas há muito, muito tempo. Este capítulo foi um desses casos, havia pouco a acrescentar. E eu tô de férias da faculdade, hahah

Então, pra compensar a angústia do capítulo anterior, aqui vai mais um. Espero que gostem, não se esqueçam de comentar.

Desejo uma ótima leitura.

O pé direito é muito alto

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O pé direito é muito alto. Gosto disso. Me lembra o ateliê, de deitar na cama e olhar o teto de madeira puída distante de mim, o lustre pendendo sobre o cavalete. Aqui é bem mais alto, acho que três vezes a altura. E branco, tudo branco. Meio esterilizado demais pro meu gosto. Mas acho que faz sentido, um fundo branco para abrigar arte. Como as fotos dos modelos de Namjoon, fundo branco, camisa branca sem mangas. V estava com os cabelos vermelhos. O olhar duro.

Aquelas pessoas no mezanino estão olhando para mim. Será que pensam que eu não noto? Eu ignoro, volto a encarar o teto. Tem uma claraboia envidraçada que deixa entrar a luz do sol. Eu devia ter feito algo assim no ateliê, é melhor que o lustre. Ainda bem que me deram um tempo grande de almoço.

Estou enjoado do meu nome.

A galeria é acoplada a um bistrô, onde eu almoço com frequência. Engulo uma comida pretensiosa com a ajuda de uma taça do vinho mais barato da carta. V ficaria orgulhoso. Tento ser rápido, pago com ticket, o garçom se curva na saída e diz "até amanhã, senhor Jeon", com um ar de familiaridade que me incomoda, me sinto um assalariado com uma rotina rígida, dias longos e idênticos que se fundem em meses e depois em anos e assim vai uma vida toda.

Volto à sala principal da galeria. É como uma igreja feita de imagens sacras, a divindade de uma religião que eu mesmo criei. Homens, mulheres, pássaros e gatos, paisagens e cômodos iluminados, mesas com objetos do cotidiano, muitas flores. V está ao meu redor, em todo lugar, em infinitas pinceladas.

Em sua maioria não são a figura dele, mas espectros. V encarnado em todo tipo de coisa. Eu o reconheço em cada tela. Traços que tanto observei, que medi, rascunhei e colori. A imagem de V está tatuada em minha retina.

Checo o relógio. Ainda tenho vinte minutos, dez antes que venham me chamar. Caminho até o fundo da galeria onde, escondido atrás de uma curva, tem um desenho. É um desenho pelo qual ninguém demonstra muito interesse, todo mundo fica maluco com a réplica gigante do outdoor na sala principal da galeria. Pelo menos não trouxeram o outdoor verdadeiro para cá. V ia detestar isso. Pensando melhor, deviam ter trazido sim. Talvez ele ficasse enfurecido o suficiente para vir até aqui exigir que fosse levado de volta para a estrada.

A parede está coberta com alguns rascunhos do meu caderno. São todos em grafite, a maioria inacabado. Estudos da anatomia de V. Rascunhos que fiz para passar o tempo enquanto ele preparava o jantar ou lia um livro ou dançava sozinho, deslizando de um lado pro outro. Cada rascunho me suscita um momento. Bem no centro da parede, está um desenho de 30 por 40 centímetros. É o busto de V, o olhar cravado em mim. Lembra uma estátua de bronze, sem expressão, dessas que teimam em colocar no meio das praças. Apesar de rico em detalhes e contraste, o desenho se destaca entre os outros pela falta de sensibilidade. Mais do que um estudo artístico, é um exercício de memória. Um retrato. A versão ampliada da foto de um documento.

Vinte Minutos e V Where stories live. Discover now