02. OS SUSPEITOS

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Heitor possuía uma grande barriga e uma altura que intimidava qualquer pessoa, mas ele não passava de um covarde. Inspirava e expirava fumaça mais do que uma chaminé. Os dentes amarelos, a barba volumosa e os fios brancos, nada ofuscavam a sua corrupção visível nos anéis e cordões de ouro. O homem ignorou a mulher que chorava copiosamente  na porta do apartamento, agarrada ao terço e entrou no 204. A cozinha estava intacta, já a sala parecia ter saído de um filme de terror estilo slasher. Heitor tirou os óculos escuros do rosto, sendo atravessado pelo choque daquela cena. Havia sangue para todos os lados, poltrona virada, linhas de crochê manchadas, e o corpo… não parecia ter sobrado nada da estrutura miúda coberta pelo lençol branco. A mulher havia sido assassinada, esquartejada sem qualquer sinal de arrombamento no apartamento que não trazia nenhum tipo de luxo. O teto tinha bolor, os móveis eram todos velhos, o cheiro de coisa guardada havia sido mascarado pelo odor pungente da carne morta. O café subiu pela sua garganta, junto com a vertigem que o desequilibrou.

— O senhor está bem? — Fez um gesto qualquer para o perito e deu a volta saindo do apartamento. — Ei, chefe!

Afrouxou o nó da gravata.

— Que porra é aquela lá dentro?

Ele não estava realmente preocupado com a morte tão assustadora de uma senhora que sempre se mostrou amável, Heitor só percebia o quanto ele teria trabalho com aquela investigação.

— Ninguém ouviu nada, chefe.

— Óbvio que alguém aqui ouviu alguma coisa. — Respirou fundo. — Ninguém é assassinado desse jeito sem gritar.

O rapaz ao seu lado se calou. Olhou para a parede descascada tentando de certa forma compreender o mesmo que Heitor. Era um prédio velho, qual motivo alguém teria para assassinar aquela senhora? Nada ali fazia sentido.

— Chama aquele traficantezinho do 302 e o traveco do 103.

— Eles não estavam aqui ontem. — O homem o encarou. — Dona Ana disse que só ela e os jovens do 301 e do 304 estavam aqui, o resto…

Heitor sorriu satisfeito com aquela informação, estava à muito tempo tentando se livrar dos dois. Ambos sabiam muita coisa sobre ele, mas agora, o delegado tinha o poder nas mãos.

— Mais um motivo para chamá-los.

Alana tremia de frio naquela manhã abafada

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Alana tremia de frio naquela manhã abafada. Os dedos agarravam o sapato encharcado enquanto o corpo suplicava por algo mais quente do que o short jeans e a camiseta que cobriam o seu corpo. Péssima escolha de roupas, péssimo dia para tentar vender aqueles salgados. Havia perdido tudo em um único temporal. Começou a ter vontade de chorar, não pela dor dos pés descalços, mas pelo tanto que a sua vida estava indo para o buraco. Manter viva a esperança de que em algum momento as coisas mudariam para melhor, às vezes era um fardo difícil de carregar.

Paralisou no meio da subida e sentiu um aperto no peito ao encarar as viaturas e o rabecão. Alguma coisa não estava bem. Um assobio sinistro desviou o seu olhar para o beco a alguns metros de distância do antigo prédio que naquela manhã estava cercado por curiosos. Alana encarou Henrique que tremia dentro do moletom cinza enquanto a mão que mantinha o cigarro entre os dedos chamava por ela. A garota desviou o olhar na direção dos carros tentando ignorar ele, porque tudo que tinha a ver com o Henrique era cercado de furada e Alana não precisava de mais furadas na sua vida.

O Assassinato no Edifício 83Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt