06. OS SEGREDOS EXPOSTOS

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A cada martelada era como se o prédio fosse desabar sobre sua cabeça, mas Alana seguiu o mesmo ritmo de Henrique. Depois que Dona Ana foi para a igreja, ele apareceu com dois martelos na porta do seu apartamento e invadiram a solidão do 204. A garota sentiu um arrepio sinistro ao pisar no antigo refúgio de Dona Benedita, mas não deu pra trás, nem antes, nem no momento que seus braços começaram a doer. Não muito diferente de Henrique, a raiva também a consumia. Não teve o seu carrinho de volta e estava zerada com um monte de dívidas pela cidade. Arlete havia procurado por ela de novo. Havia jurado a si mesma que iria tentar uma vida nova, recomeçar do zero, mas quanto mais tentava se arrumar, pior as coisas ficavam, mesmo assim ainda estava tentando salvar a si mesma e os seus.

Na vigésima martelada, o concreto caiu expondo a divisória de madeira antiga. Os dois trocaram olhares antes de abaixar a bandana que cobria metade dos seus rostos. Henrique deu uma porrada com o martelo, soltando uma parte da madeira. Largou a ferramenta e com as mãos livres puxou a madeira que se partiu em duas. Alana fez o mesmo, até revelar um livro grosso de capa vermelha aveludada antiga.

Diferente da menina que recuou, com medo do que haveria ali, Henrique tomou o objeto para os dedos e analisou o pequeno cadeado de ferro antigo. Forçou a capa e a contracapa, deixando cair uma foto lá de dentro. Alana baixou os olhos para a foto em preto e branco aos seus pés no meio de todo o concreto antigo. Tombou a cabeça de lado sem conseguir identificar e se abaixou trazendo a imagem para perto dos olhos.

— Quem são eles? — Estendeu para Henrique sem capacidade de identificar os cinco homens negros na foto.

O rapaz entregou o livro, analisando a imagem em seus dedos. Na parte de trás estava escrito cinco nomes com datas de uma semana de diferença entre elas. Era a data da morte de cada um.

— O que tem aqui? — a pergunta soou baixinho pelos lábios de Alana, que agarrou o objeto sem saber a quantidade de monstruosidades que estavam guardados ali.

Do outro lado da cidade, o homem enviou a combo mensagem para o endereço de email do Bruno, os ossos do rapaz tremeram de pavor ao perceber que estava sendo vigiado, não só pela web, mas dentro do seu próprio apartamento. Tirou a blusa revelando o tronco negro e franzino suando como se ali dentro fervesse. Umedeceu os lábios secos, e respirou fundo tentando criar coragem para ver a mini câmera no canto esquerdo do seu quarto. Eles viram ele, foram telespectadores das suas noites de insônia, seus excessos e fraquezas. Tudo o que tentou esconder do mundo sobre si mesmo, foi exposto por uma única câmera que tinha o tamanho de uma mosca. Relaxou os punhos cerrados e ergueu os olhos sem piscar.

O homem encarou a imagem do rapaz pelo computador e sorriu satisfeito com aquela coragem. Que graça teria correr atrás de caças tão passivas?

O Assassinato no Edifício 83Where stories live. Discover now