Capítulo 16

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SEM REVISÃO

— Merida...

— Não, por favor. Não me chame assim.

Camila ergueu suas mãos na tentativa de empurrar o corpo alto e forte de Fabio que havia se aproximado de si, mas no momento que seus dedos tocaram a pele negra, seu corpo sofreu uma forte descarga de saudade, tesão e amargura. Encarou o contraste das peles, foram exatas doze horas, mas horas suficiente para entender que o que sentira com aquele homem, jamais iria sentir com outro.

— Não sabe a falta que sinto de você. — Camila fechou os olhos ao sentir a mão tocando seu rosto de modo carinhoso. — Dos seus beijos, do seu cheiro...Merida, por favor.

Ergueu seu rosto e aproximou seus lábios, ao sentir a respiração tocar seu rosto. Sua boca instantaneamente ficou seca, suas pernas fraquejaram. Fechou um pouco mais os dedos contra o peitoral a sua frente. Era doloroso viver naquele limbo que se colocara. Queria gritar o quanto amava aquele homem, o quanto precisou dos braços deles no momento que enterrava o corpo da filha deles. Os mesmo braços que a fizera se sentir mulher pela primeira vez.

— Por favor. — Fabio proferiu ao roçar os lábios aos dela.

Ergueu seus olhos e encarou os olhos negros que a encaravam com desejo, tesão e amargura pela situação que se encontravam. Tudo estava errado naquele momento. Com esforço sobre humano o empurrou e se afastou dele. Por mais que amasse Fabio, jamais iria trair sua irmã. Antes de sair da cozinha voltou a cabeça na direção dele. O viu apoiando as mãos sobre a pia, cabeça baixa e ombros caídos.

Sabia que doía nele também, mas se fizessem aquilo, não seriam eles os prejudicados e sim Duda e Juliana. As duas mulheres mais importantes na vida de ambos. Por mais que o desejo gritasse entre eles, jamais iria ferir uma menina inocente, roubando seu pai de sua mãe.


Ao sair da cozinha de modo apressado acabou trombando contra um corpo magro e tentou segurar para que não caísse. Parou no momento que os olhos castanhos iguais ao seu a encaravam com fúria e rancor.

— Não olha mais para frente? E se eu caísse e quebrasse algo? Realmente, eu ainda não sei o que eles veem em você! — Madalena deu alguns passos em direção a filha caçula — não passa de uma vergonha para esse família.

Camila gemeu ao sentir o aperto que a muitos anos tentara esquecer, o mesmo aperto que marcava não apenas sua pele e sim seu coração de filha. Bateu com força na mão da mulher que se assustou com gesto e deu alguns passos para trás.

— Jamais ouse me tocar novamente Madalena. — sentiu a fúria queimar dentro de seu peito e se aproximou da mãe — não tenho mais dezoito anos, não sou mais aquele menina assustada e carente de amor materno. Para mim, não passa de uma velha amargurada. — Ao ouvir as vozes se aproximando iria mostrar aquela mulher o quanto ela não a atingia mais. — Espero que fique bem, afinal na sua idade ficar se batendo contra os móveis pode causar ferimentos muito sérios.

Madalena abriu os lábios sem entender, então no momento que Maria Eduarda, Rogerio e Fabio se aproximaram, entendeu que a filha usara uma de suas artimanhas contra si. Encarou os olhos castanhos que a olhava de forma vitoriosa, sorriu de modo convencido e se afastou dela, a deixando ali na frente de sua família como uma velha indefesa.


Camila saiu rapidamente de perto de sua mãe e quase correu em direção ao jardim refeito. Não podia negar, estava lindo o local, mas nada iria se comparar com o velho pátio e a jabuticabeira que ostentava uma sombra deliciosa no tempo do verão. Sentou-se em um dos bancos que havia por ali, apoio os cotovelos contra suas coxas e respirou fundo.

Não gostara de se portar como ela. Não era ela. Jamais iria fazer aquilo com alguém, mas aquela mulher conseguia mexer com seu lado mais repugnante. Mal havia chegado e já passara por tudo aquilo. Ainda era sexta-feira, fim de tarde, mas parecia que estava ali a dias.

— Está tudo bem, tia Cami?

Ao ouvir a voz da pequena, limpou as lágrimas e encarou o rosto delicado de sua sobrinha que a encarava de forma triste.

— Eu estou bem, meu amor. Vem cá, senta aqui do meu lado.

A menina se aproximou e sentou-se junto a tia que contornava o pequeno corpo com seu braço e depositava um beijo sobre os cabelos louros.

— Por que estava chorando? — a menina ergueu o rosto e a encarou.

— Porque... — encarou a menina que a olhava com atenção e foi sincera — a vida de adulto é uma droga. Aproveite bem sua infância, quando ouvir um adulto dizer que sente saudade da infância e para você aproveita bem, siga esse conselho. Não queira crescer antes do tempo meu amor, vai por mim.

Juliana encarava a tia, desviou os olhos e encarou as roseiras a frente delas. Se levantou e se aproximou, tocou com cuidado em pétala, mordeu o lábio inferior e se virou.

— Posso contar um segredo?

— Claro meu amor.

— Tem que jurar de mindinho que não irá contar a mamãe.

— Eu prometo. — Camila sorriu e ergueu o dedo. A sobrinha se aproximou e enganchou o pequeno dedo ao seu.

Camila observou a menina que parecia pensar em como começar a falar. Segurou uma risada, afinal tinha aquele problema também, sempre que precisava contar algo sério ou mesmo um segredo, sempre analisava como começar a contar.

— Meu papai vai sair de casa.

— O que!?

— É, eu sem querer ouvir ele conversando com alguém no celular e ele dizia que iria comprar outra casa no mesmo bairro que moramos. Então eu lembrei que a minha amiga Cátia. O papai dela comprou uma casa e foi morar lá e deixou ela com a mamãe dela.

Camila ainda absorvia a notícia que Duda e Fabio iriam se separar. Algo dentro de seu peito se agitou, mas voltou os olhos para sobrinha e foi delicada no momento.

— Tem certeza, meu amor? — tocou com carinho em sua bochecha — Talvez ele esteja comprando uma nova casa para vocês morarem ou quem sabe, talvez você ganhe o irmão que tanto deseja.

— Não. Mamãe conversou comigo sobre isso. E sabe, eu gosto de ser sozinha. Ter meus brinquedos só para mim, claro que a mamãe me ensinou a dividir e doar aqueles que não brinco mais, afinal tem crianças que não podem ter esses brinquedos e como eu não brinco mais, não tem problema em dar para eles.

Camila sorriu com a fala da sobrinha. Se lembrou de quantas vezes ela e irmã juntas escolhiam quais brinquedos seriam doados. Claro que as vezes acontecia uma discussão ou outra, mas sempre se acertavam. Sorriu ao lembrar de quando Duda tentou doar Dodói, um coelho de pelúcia que era apenas utilizado quando estavam machucadas ou doentes.

Não queria de jeito algum se desfazer dele, mas com muita calma e um pouco de ameaça, Duda a convencera a doar a outra criança alegando que ele iria continuar cuidando de outros dodóis que não fosse os dela. Voltou a atenção a sobrinha que permanecia de cabeça baixa. A abraçou com carinho e sorriu ao sentir os bracinhos contornando sua cintura.

— Vamos entrar, está esfriando demais.

Camila se levantou e ajudou a sobrinha, segurou com carinho em sua pequena e rumaram em direção a casa. 

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