Capítulo 42

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Assim Lena as encaminhou para dentro do lugar cujas paredes eram de pedra com mesas de madeira maciça, no centro do teto que também era de madeira havia um lustre que neste momento do dia estava com apenas metade das luzes acessas já que as volumosas cortinas das janelas estavam enroladas até ao meio para que a luz do dia completasse a iluminação do ambiente. Lena escolheu uma mesa vazia que ficava em um canto próximo a lareira, logo que se sentaram um rapaz apareceu para atendê-las:

— A quanto tempo senhorita Luthor, como vai?

— Olá Jonas, vou bem. Como vai sua avó?

— Ah sabe como ela é, teimosa como sempre.

— Tenho certeza que sim.

— Vai querer o mesmo de sempre?

— Sim, mas traga o cardápio para a Kara, por favor.

— Claro, só um minuto, senhorita.

Kara que estava em silêncio surpresa pela interação de Lena com o rapaz esperou que este saísse para dirigir um olhar intrigado a Lena que o entendeu sem que ela lhe dissesse nada:

— Almoço aqui pelo menos uma vez por semana desde que descobri o lugar.

— Eu também frequento o mesmo café perto da CatCo há anos e nem por isso tenho tamanha intimidade com os funcionários de lá.

— É que teve um dia em que caiu um temporal repentino bem quando eu estava para sair e a avó do Jonas, uma velhinha muito simpática e muito teimosa chamada Brigite, não queria me deixar sair porque eu estava dirigindo o carro sozinha.

— Como assim?

— Ela achou muito perigoso e trancou a porta do restaurante, guardou as chaves no sutiã e foi para a cozinha me deixando sem reação, ou melhor me deixando furiosa.

— Posso imaginar. — Kara não conseguia conter a risada.

— Não, você não pode — Lena acompanhou sua risada — Juro que tive ganas de lhe voar no pescoço, o pobre do Jonas ficou tão desnorteado que tremia como vara verde.

— Mas como ela tinha as chaves daqui.

— Ah, eles são os donos, Brigite e os filhos, Jonas precisou ligar para o pai dele, o Marcos, para que viesse e a convencesse a me libertar, não deu certo.

— Realmente deve ter sido uma situação hilária.

— Não, não foi. Hoje até dá para rir da situação, mas foi bem tenso no dia, mesmo porque não tinha só eu no restaurante e as outras pessoas não gostaram nem um pouco da situação. Mas dona Brigite, se trancou na cozinha e não abriu a porta nem para o para filho entrar quando ele chegou.

— Mas se tinha outras pessoas porque ela cismou bem com você?

— Quando finalmente a chuva diminuiu um pouco, Samantha, a tia do Jonas, conseguiu chegar com a chave reserva e nos liberou, eles me explicaram toda a situação.

— O porquê de ela agir dessa forma.

— Sim, Samantha disse que me pareço muito com sua irmã caçula, Sabrina, elas a perderam em um acidente de carro há alguns anos. Chovia muito no dia, Sabrina perdeu o controle e bateu o carro, morreu no mesmo instante. Dona Brigite só fez associação em sua mente entre ela e eu.

— Nossa! Deve ser difícil perder alguém assim tão de repente.

— Sim, e depois desse dia eu meio que me acheguei mais a este lugar e a família de dona Brigite, ela é realmente uma figura. Mesmo com toda a dor que carrega é uma senhora com uma energia e uma vitalidade de dar inveja e se não fosse por esse incidente eu nunca perceberia que enfrentou uma perda como essa.

— Eu gostaria muito de conhecê-la.

— Quem sabe ela chega antes de irmos embora.

— É impressionante.

— O quê?

— Como de uma forma ou de outra a vida de quem passa por você é marcada. Você é realmente uma mulher inesquecível, Lena Luthor!

Kara conseguiu deixar Lena toda encabulada e vermelha com suas palavras e o olhar intenso que lhe dirigia. Alguns minutos depois, Kara finalmente escolheu seu prato e o almoço das duas correu sem nenhuma interferência. Infelizmente não foi aquele dia que Kara conheceria a senhorinha dona Brigite porque ela estava com a filha Samantha visitando uns parentes que moravam em um dos subúrbios de National City.

Enquanto voltavam para a cidade uma música suave tocava no carro e Kara aproveitou o momento para apenas observar os traços do rosto de Lena, as sobrancelhas bem-feitas, a linha meio curva de sua boca sob o batom. Seu olhar foi descendo até a pequena pinta em seu pescoço, as mãos com seus dedos longos e perfeitos ao volante.

A lembrança do gosto dos lábios, dos dedos passeando por sua pele fizeram Kara soltar o ar em um breve, tímido e involuntário suspiro que fez a sobrancelha direita de Lena arquear, no mesmo instante Kara desviou o olhar para a estrada tentando controlar o frenesi que começava a tomar conta de seu corpo quando sua mente lhe perguntou qual seria a feição de Lena quando gozasse.

— Um milhão por seus pensamentos.

Kara sorriu encabulada e voltou seus olhos para Lena:

— Nem por dois milhões.

— São tão perigosos assim, seus pensamentos?

— Neste momento, sim.

Antes de responder Lena estacionou o carro em frente ao luxuoso prédio onde morava:

— Já que decidiu tirar um dia de folga hoje, talvez eu possa te convencer a entrar para uma xicara de chá.

Mas quando Kara ia responder seus ouvidos capitaram o som de uma grande explosão vindo do outro lado da cidade. Como seu olhar ficou apreensivo e seu maxilar contraído, Lena percebeu que algo ruim acontecera e que ela precisava ir, porém hesitava. Então para poupá-la da aflição apenas meneou a cabeça e sorriu indicando que partisse. Kara abriu a porta do carro às pressas, já estava saindo correndo quando voltou e lhe deu um beijo curto e rápido para então sumir na próxima esquina e em seguida cortar os céus.

Ao Som do CoraçãoWhere stories live. Discover now