13 - consequência do nosso ódio

859 58 10
                                    

Gotas de suor invadem a minha testa como um alerta de que meu corpo acabou de entrar em um derradeiro colapso, como se eu tivesse perdido o controle das minhas acções..sinto minhas mãos trémulas e os olhos esquentando, eu ensaiei a noite toda por este momento mas agora é como se eu não soubesse mais o que fazer. Eu simplesmente quero dar as costas e voltar para casa, meu chefe me deu mais uma semana de folga até estar completamente melhor, eu deveria aproveitar este momento e ficar trancada dentro do meu quarto pensando em diversas formas de contar para o Malcom que estou grávida...DELE

Óbvio que eu pensei em mandar uma mensagem de texto ou um áudio explicando da forma mais formal possível, assim evitaria ter que olhar para o seu rosto e ver a sua reação de desgosto ou de desaprovação. Mas prefiro isto a ter que ver que ele visualizou a mensagem e não foi capaz de responder. Sei que o Malcom seria capaz disso

Sei também que ele provavelmente diria que é uma invenção minha para tirar dinheiro dele ou que o filho não é dele. São tantas as reações que eu imaginei dele que é como um alerta ecoando dentro da minha mente para que eu desistisse da ideia de lhe contar

Então é isso, eu vou me afastar da porta de sua sala e voltar pra casa como se nada tivesse acontecido. Respiro fundo e me viro pronta pra sair, mas no momento...

– Julie? — Malcom está bem parado na minha frente segurando sua caneta de café, o terno sobre o antebraço e na outra mão seu notebook. Seus músculos são desenhados perfeitamente nesta camisa social azul escuro e ele esbanja ar de responsabilidade — não estava de folga? — ele volta a falar ao perceber que eu continuo calada de boca aberta olhando pra ele sem nenhuma reação. É assustador pensar que este homem que odeio tanto é o pai desse ser dentro de mim

É mais assustador ainda o fato de que estaremos ligados pelo resto das nossas vidas

– é mas...eu... — engulo em seco. Ele franze o cenho atencioso a espera de uma resposta minha — eu precisava falar com você — sou directa vendo a expressão de confusão dele

– comigo? Julie você está doente, poderia ter mandado uma mensagem — ele é simpático. Por um segundo me questiono pela sua simpatia mas aí lembro da bronca que levamos do nosso chefe, e também...acho que ele não é tão desumano ao ponto de me tratar com grosseira eu estando doente — de qualquer forma...entre por favor — ele abre a porta com dificuldade e depois da espaço para eu passar

Sinto um frio na barriga como se fosse a primeira vez nesta sala. Da última vez que estive aqui acabou com uma briga feia e a minha declaração oficial do meu ódio pelo Maloy.

– senta, você está muito esquisita — ele pousa o notebook e seu café por cima da sua secretária enquanto eu me sento vagarosamente na sua frente — não veio me dar outro tapa, ou vomitar por cima de mim né? — ele tenta soar engraçado. Solto uma risada forçada mas logo depois volto a ficar seria e nervosa. Depois de se organizar, Malcom finalmente senta e me olha com seus olhos azuis do mar incrivelmente lindos

– ah.! Bom — junto minhas mãos. Eu sabia que eu provavelmente teria dificuldade em me expressar, então acabei pensando num plano B — só um segundo — abro minha bolsa

– Julie eu não tenho todo tempo do mundo. Não sei se notou mas eu cheguei atrasado

– aqui está — pego nos dois testes de gravidez e estendo por cima da secretária em sua frente — alerta de spoiler — Ele olha para os testes mais confuso do que já estava e fica em silêncio por vários segundos alternando o olhar pra mim e para os testes

– uhm. Você está grávida, meus parabéns — ele soa frio — quer que eu assine alguma licença de dispensa?

Respiro fundo em frustração

– não

– então que porra você quer que eu faça com isso Julie?

– quero que você saiba... — dou uma mini pausa antes de prosseguir — que estou grávida de você — ele olha pra mim sem saber o que dizer, abre a boca várias vezes mas nenhuma palavra ecoa — Eu fiquei tão surpresa tanto quanto você agora

– jura? — seu tom de voz é sarcástico. Ele possui uma expressão que eu não sei ao certo como decifrar, não sei se parece confuso ou assustado, feliz ou irritado. E pra ser sincera, esse silêncio que decidiu dominar este ambiente está me matando, por um segundo eu gostaria de saber o que se passa na sua mente.

– como assim jura? A gente não planejou isso

– não, com certeza a gente não planejou

– eu não preciso nada de você, é mesmo...eu sei que você não quer ter filhos comigo e muito menos eu quero ter com você — recolho os testes e os coloco de volta na bolsa

– eu preciso que você não me diga o que eu quero agora por favor, por favor não faça isso. E você tá jogando muita informação por cima de mim logo pela manhã

– você preferia não saber de nada?

– eu não falei isso, não coloca palavras na minha boca — ele passa a mão no seu queixo pensativo e confuso — você tem certeza disto?

– você acha que eu estaria aqui se não tivesse certeza de nada? Acredite Malcom a última pessoa que eu queria contar era você

O escuto respirar frustrado e depois vejo seus punhos cerrados e ele abordar uma postura rija

– Julie peço-te que saia, eu preciso de um tempo, você teve o seu tempo e agora eu quero o meu. Eu não vou ficar aqui discutindo com uma mulher grávida

– você precisa de um tempo? Deveria ter pensado nisso antes de me levar pra cama — me levanto irritada com a sua reação

– que merda Julie, você coloca a culpa em mim como se você fosse alguma inocente — ele eleva o tom da voz e me encara com os olhos como se a qualquer momento fosse soltar faíscas — você me beijou, PORRA. NÓS OS DOIS FIZEMOS, NÓS GOSTAMOS, NÓS SOMOS CULPADOS CARAMBA, PARA DE BANCAR A INOCENTE — ele me assusta e eu dou um passo pra trás amedrontada, nunca o vi desse jeito e sinceramente, estou com medo — ESSA É A PORRA DA CONSEQUÊNCIA DO NOSSO ÓDIO JULIE

Aceno com a cabeça tentando não me intimidar. Ele respira fundo tentando se acalmar

– eu...eu preciso ficar sozinho, será que você pode por gentileza sair da minha sala?

Abano a cabeça positivamente

– tudo bem — dou de ombros e saiu de sua sala pisando duro. Assim que fecho a porta o escuto gritar e barulho de algo se quebrando sobre a parede. Lágrimas caem involuntariamente dos meus olhos e passo minha mãos sobre a minha barriga — sou só eu e você meu bebê

Limpo minhas lágrimas e saiu daquele local, passo pela Yuna que me olha preocupada

– e aí como foi?

– eu vou pra casa — só digo isso antes de desaparecer de seu campo de vista e sair desta empresa

Consequência Do Nosso Ódio Onde histórias criam vida. Descubra agora