11 - por favor, negativo

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Yuna me entrega um lenço e eu limpo meus lábios. Estou sentada na arquibancada pensando na vergonha que passei em frente de quase toda empresa, eu praticamente vomitei por cima do sobrinho do dono da empresa, minhas falhas nos últimos dias têm sido tão grandes que sinto que meus dias aqui estão se contando. Então involuntariamente começo a chorar

– ah amiga você não precisa chorar, foi um acidente, você está doente — Yuna fala limpando minhas lágrimas

– você não intende, eu sou um desastre, é questão de tempo até eu perder o meu emprego

– acredita se o Senhor Henry demitir você eu e o Peter pedimos demissão — ela fala e depois olha para o Peter que está de pé nos observando em silêncio — não é Peter?

– qual é Yuna minha mãe tá doente

– é ou não é?

– tá bom eu peço demissão — ele fala cabisbaixo me fazendo rir. Imediatamente meu sorriso some assim que vejo meu chefe se aproximar de mim ao lado de Malcom que está de chinelos e com apenas uma camisa social branca, seu olhar é de pura raiva

– Julie, como se sente? — meu chefe pergunta

– um pouco fraca. Ah...eu queria me desculpar pelo ocorrido, eu não sei o que aconteceu, eu simplesmente...

– você não precisa se desculpar por estar doente, quero que tire o resto do dia pra descansar okei? — pede e eu abano a cabeça positivamente — melhora logo — ele esboça um sorriso amigável pra mim e depois se retira ao lado de seu sobrinho que não parece estar nem tão pouco de acordo com o tratamento que recebi do meu chefe

– uffa, não vou ter que me demitir — exclama Peter

– eu posso te levar ao hospital — Yuna se oferece

– não é necessário, eu só preciso descansar e você tem um monte de coisa pra fazer

– eu posso te levar pra casa, estou livre nos próximos 45 minutos — Peter olha para as horas no seu relógio de pulso

– você é um anjo

– se cuida amiga — Yuna me dá um abraço apertado e logo de seguida saímos da empresa com o Peter segurando minha bolsa. Ele abre a porta de seu carro e entro logo antes dele. Quando estou devidamente acomodada na poltrona, pouso minha cabeça no vidro e respiro fundo sentindo meu peito esquentar e a ânsia voltar a tomar conta de mim. Mas dessa vez consigo controlar porque tenho a certeza que não tem mais nada no meu estômago para tirar

Eu e o Peter conversamos o caminho todo e ele tentava dar o máximo para me distrair e fazer piada sobre o ocorrido, porém tudo que eu fazia era sentir pena de mim mesma mas só de imaginar a cara do Malcom quando vomitei por cima dele chega a ser engraçado não dá pra negar

– estas entregue — diz assim que estaciona o carro em frente ao meu prédio. Respiro fundo e retiro o cinto

– obrigada de verdade

– foi nada

Esboço um sorriso e desço. O escuto gritar um "se cuida" assim que eu atravesso a rua, em resposta aceno e passo pelo portão onde o guarda está sentado em sua cadeira dormindo tranquilamente

Minha cama é o único lugar pelo qual eu desejo estar neste momento. Retiro minha roupa ficando apenas de minhas peças interiores e me jogo na cama de barriga pra cima observando o teto como se fosse a coisa mais interessante neste momento. Mordo meu lábio inferior voltando a sentir o sabor metálico em meu paladar

Agradeço mentalmente porque a Elisa não está em casa, a última coisa que quero neste momento é ter que li dar com as suas ideias mirabolantes sobre o facto de eu estar grávida, pensar nesta possibilidade é assustador e chego a sentir um embrulho no estômago só de imaginar eu grávida. Isso seria o fim dos tempos

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Tudo aconteceu tão rápido, por um segundo eu estava deitada na cama em um sono profundo e tranquilo, e no outro me vejo correndo imediatamente até ao banheiro para vomitar os últimos restos alimentares que ainda me restavam. Pelo meu azar a Elisa já estava em casa e apesar de ela não dizer nada, consigo sentir o seu olhar de desaprovação

Ela simplesmente me ajuda a vomitar e de seguida sai sem dizer mais nada. Sinto meu corpo fraco como se eu estivesse a perder todas as minhas proteínas, o sabor do vómito passa a fazer parte do meu paladar normal e é enjoativo

– até quando — exclamo abraçada a pia. Escuto passos se aproximando e não demora até o aroma de flores dominar as minhas narinas, Elisa se aproxima de mim e estende na minha frente duas caixinhas de teste de gravidez de marca diferente — ah meu Deus não acredito

– não custa tentar — ela da de ombros. Pego nas caixas e observo. Nunca cheguei a pensar que sentiria tanto medo assim de um teste de gravidez

– tá eu vou fazer só pra calar a sua boca — digo me sentando por cima da sanita. Ela cruza os braços parada na minha frente — eu faço os dois ao mesmo tempo?

– sim eu faria, caso um deles dê negativo

– okei, não olha — sigo as instruções fornecidas pela fábrica e depois de fazer, seguro os dois testes por cima das minhas mãos — e depois?

– eu vou colocar pra dois minutos — Elisa coloca o cornometro. Engulo em seco e coloco os testes sobre minhas pernas

– isso é uma droga — exclamo

– relaxa vai ficar tudo bem, melhor saber logo, né?

– se der negativo eu vou matar você por me submeter a passar por toda essa pressão

– se der positivo aí você me agradece — ela brinca e eu reviro os olhos. Quanto mais os segundos se aproximam mais eu sinto os meus batimentos cardíacos acelerados, minha respiração fica ofegante e sinto minhas mãos trémulas.

Só uma barra, eu só preciso de uma barra

Cubro os meus olhos com as mãos enquanto faço a contagem em minha mente. Mordo o lábio inferior sentindo lágrimas caírem sobre o meu rosto como se minha vida dependesse daquilo até que percebo que o tempo se havia esgotado assim que o som de alarme do telefone da Elisa toca

Negativo por favor.

Respiro fundo e decido acabar imediatamente com isso e seguir com a minha vida como se eu não tivesse passado por uma pressão dessas. Destapei meus olhos que foram imediatamente para os testes. Foi neste momento que todos os acontecimentos do último mês me vieram a mente e um sentimento de culpa me dominar. Fico alguns segundos observando sem saber o que dizer ou como reagir. É como se eu estivesse parada no tempo sem saber como voltar ao mundo real

– e aí?

– ah...eu tô grávida

– mas que merda

Consequência Do Nosso Ódio Donde viven las historias. Descúbrelo ahora