22 - um jantar

727 54 1
                                    

– você quer ajuda? — pergunto.

– não — mesmo com as mãos ocupadas de mercadorias, Malcom abre a porta do meu apartamento e de seguida empurra com as suas costas, é tão fofo ver o tanto que ele está se esforçado pela nossa filha, mesmo achando um completo exagero o facto de ele achar que só porque a doutora disse que preciso repousar, isso não quer dizer que eu precise necessariamente ficar parada feito uma alejada

Malcom entra com as sacolas e vai directo para a cozinha. Caminho até minha poltrona e me sento sobre ela

– eu vou preparar o jantar — ele fala — não sai daí

– tá bom — não paro de sorrir feito uma boba, eu poderia imaginar um milhão de coisas acontecendo na minha vida, mas os acontecimentos dos últimos meses me pegaram de surpresa, quem diria que o Malcom estaria na minha cozinha, preparando o meu jantar enquanto eu me deito sem fazer absolutamente nada

Depois que termino o meu filme, fico itediada e decido ir até a cozinha pra ver o que ele estava preparando. Assim que chego lá me deparo com diferentes tipos de pratos sobre o meu balcão e o Malcom ao pé do fogão, usando um avental e mexendo na panela com bastante concentração

– nossa — observo cada prato boquiaberta, isso explica porque ele ficou quase meia hora dentro do super mercado enquanto eu o esperava no carro — isso parece bom — tento pegar em um pedaço de carne dentro da panela mas me assusto com o tom da sua voz

– não encosta em nada. Eu tenho um método — ele desvia a atenção da panela pra poder me encarar — não deveria estar descansando?

– ficar olhando você cozinhar é muito melhor — cruzo os braços — sabe...você é a última pessoa na face da terra que eu diria que sabe cozinhar, ou fazer qualquer outra coisa que não esteja relacionado a tratar as pessoas com arrogância

– você é muito engraçada, sério, deveria virar comediante

– com certeza eu morreria de fome — pego num pedaço de cenoura e levo até a boca — acho que existe um ser humano aí dentro — toco no seu peito e ele coloca as mãos na cintura me encarando. De seguida limpa o local onde lhe toquei e se vira de volta pra panela

– já que está aqui, me ajuda a arrumar a mesa

– tá bem — abro a gaveta e tiro de dentro dela um pano de mesa, o estendo sobre a mesa e logo de seguida coloco os pratos e os copos. Malcom leva a comida e organiza a mesa, tudo tem um cheiro bastante agradável e tem um aspecto de dar água na boca

Após tudo pronto, sentamos ambos na frente um do outro e nos servimos em silêncio

– você cozinha bem. Aonde aprendeu?

– uhm — ele fica em silêncio por algum tempo como se estivesse se decidindo entre a possibilidade de ficar calado ou responder a minha pergunta — a minha avó me ensinou

– nossa ela deve ser uma ótima cozinheira, adoraria provar a comida dela em primeira mão

– isso não será possível

– porquê não? As avós me adoram

– ela morreu — ao dizer isso fico sem reação enquanto olho para o Malcom — a dois anos, de câncer

– eu...eu sinto muito. Você tá bem?

– estou. Obrigado — ele bebe um gole de seu suco para disfarçar a tristeza eminente — por causa dela eu descobri a minha segunda paixão na cozinha. Se ela estivesse viva ficaria surpresa por eu ser um empresário em uma empresa de construção e não um chefe de cozinha

Consequência Do Nosso Ódio Where stories live. Discover now