Capítulo 2

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Um grito alto e desesperado soou no meio de tantos outros raivosos e assustados, mas Izuna conseguiu ouvir apenas aquela voz chamando por seu nome. O identificou imediatamente; era Sakamoto pedindo socorro enquanto era engolido pelos destroços da batalha, sendo apertado pelo jutsu de um dos inimigos, coberto de sangue, desesperado. Izuna podia sentir o cheiro forte da morte enquanto corria em sua direção. Os que o cercavam, esperando que os gritos cessassem em breve, não notaram a presença de Izuna, que chegou a tempo de segurar uma das mãos escorregadias do primo.

— Sakamoto! — Ele também gritou, no momento em que as mãos escorregaram por conta do sangue.

A espada de um Senju de repente atravessou o peito de Sakamoto, e no processo tocou o braço de Izuna com a lâmina, machucando-o enquanto tirava a vida de seu primo. Os olhos negros se arregalaram enquanto se encaravam. O cheiro de sangue ficou mais intenso quando o líquido espirrou da boca de Sakamoto e sujou o rosto próximo ao seu. A respiração de Izuna pesou e a voz sumiu. Os lábios apenas se moveram, o grito com o nome do Uchiha morto à sua frente foi abafado, e uma pancada foi sentida na cabeça. O mundo de Izuna se tornou escuro, e quando os olhos voltaram a se abrir, ainda podia sentir as mãos pegajosas. Porém, não havia sangue, inimigos ou o cadáver de Sakamoto, quando seu corpo se inclinou para frente.

Izuna curvou as costas ao notar que estava sobre um futon branco, e a respiração desregulada foi acalmada enquanto olhava em volta, notando que estava protegido, entre quatro paredes.

As mãos suadas foram seguradas uma na outra, e Izuna fechou os olhos com força enquanto respirava fundo. Há mais de nove anos não presenciava momentos como aquele, mas, ainda podia sentir como se tudo tivesse acabado no dia anterior. O sentimento de raiva era fraco, se comparado àquele tempo, mas o medo e o desespero eram os mesmos, ainda que os cheiros da terra suja de suor e sangue tivessem sido substituídos pelo aroma da grama do jardim ao lado daquele quarto, e que os barulhos, atualmente, fossem apenas de uma pequena fonte de bambu, cigarras, e a leve respiração da pessoa ao seu lado.

As pernas de Izuna se cruzaram sobre o futon quando olhou para o corpo deitado à esquerda. Os olhos vermelhos escuros já estavam abertos, atentos em sua expressão abalada com o pesadelo, trazendo mais sentimentos para quem já estava cheio deles.

— Você está bem? — A voz rouca soou baixa e neutra. Não parecia curioso ou preocupado, o que trouxe menos estranheza para aquele momento.

Izuna assentiu antes de se levantar, escondendo o rosto envergonhado. Não era a primeira vez que Tobirama era acordado por suas reações aos sonhos que não davam trégua e se faziam presentes todas as noites, sem falta. O Uchiha se sentia humilhado por isso, mas não havia controle sobre as lembranças que o assombravam, assim como no último mês vinha perdendo as rédeas do próprio corpo.

Havia começado com um estranho desejo borrado pela bebida. Os olhares de Tobirama o deixavam quente, e o álcool não o ajudou a se esconder, muito menos a reprimir o que realmente queria. Os toques, os gemidos e os beijos foram intensos, sem cuidado algum, trazendo-lhe uma estranha sensação de liberdade, a que procurava desde que Madara havia firmado acordo com Hashirama Senju e o prendera naquela vila.

Gostava de Konoha e o que ela representava, mas o sentimento de que a vila não pertencia aos Uchiha, irritava Izuna ao mesmo tempo que fortalecia sua vontade de fazê-la crescer com suas próprias mãos. As batalhas entre os clãs acabaram há anos, mas a todo momento havia uma leve sensação de que a rivalidade prevalecia, que de maneira sutil sempre arranjavam um momento entre frases despreocupadas para mostrar que Konoha pertencia muito mais a apenas um deles. E estes obviamente eram os Senju.

Izuna olhou de canto enquanto vestia a calça azul escura. Tobirama não o questionou novamente ou lhe deu atenção; colocou seu pijama de volta e andou pelo quarto bastante à vontade. Aquela era a casa do Senju, afinal, e o despertar havia acontecido cedo demais por conta de Izuna, mas Tobirama não mostrou irritação. Saiu do quarto em silêncio, para preparar o desjejum, sem nenhuma intenção extra naquela distância. Os constrangimentos nos olhares que não conseguiam se encontrar, haviam ficado para trás rápido demais, assim como passaram a se envolver daquela forma.

Jardim Sem FloresWhere stories live. Discover now