Capítulo 6

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Izuna arrumou a mesa com um cuidado que nunca teve. As louças de porcelana branca combinavam, os hashis eram novos e polidos, e a comida tinha uma aparência muito boa, assim como o cheiro. Quando Tobirama entrou na sala e olhou para baixo, levantou as sobrancelhas e desviou a atenção para o rosto de Izuna, que se mostrou ofendido com a expressão suspeita, mas não disse nada enquanto o deixava sozinho para buscar o chá recém feito.

O aroma de hortelã era agradável, e denunciava a sua localização pela casa. Tobirama já o esperava, sentado no futon e com as mãos sobre o colo, quando Izuna entrou com a chaleira escura. Ao menos aquilo, era costumeiro. Izuna preparava um dos melhores chás que o Senju teve a oportunidade de provar, mas nunca disse em voz alta. O próprio Uchiha já se gabava o suficiente por sua habilidade impecável e o fazia revirar os olhos, e naquela noite, não foi diferente. Contudo, ainda era suspeito. Deixando o chá de lado, nada era como o costume de Izuna, que raramente usava louças bonitas. Ele pegava o que tinha na frente e colocava a comida. Nada nunca combinava, e Izuna dizia que era um trabalho inútil, já que a comida dele era feia. Uma louça bonita, só ia destacar ainda mais a aparência, que não condizia com o gosto. Ele jurava, mas não com tanta confiança quanto tinha do chá, e Tobirama precisava concordar. A comida de Izuna tinha uma aparência estranha, e o gosto, não tão bom. O arroz ficava um pouco duro em cima, os legumes também, e quando servia peixe, Tobirama tinha medo de comer e encontrar alguma tripa esquecida, então não sabia como era o sabor, só tinha certeza de que, às vezes, a pele estava queimada.

— Se você provasse, saberia que é o tempero que deixa a pele escura, não o fogo — garantiu Izuna, com seriedade, enquanto se sentava em frente a ele, que ria em tom baixo e servia o chá de hortelã para ambos.

Izuna balançou a cabeça em negação. Tobirama era teimoso, mas o faria provar o peixe, na próxima vez, porque naquela noite, o jantar estava diferente.

A louça bonita foi uma boa escolha, porque a comida parecia maravilhosa. O repolho cozido no vapor estava no ponto certo, e o arroz firme e macio que se misturava com a carne cortada bem fininha e temperada, eram perfeitos, e despertava uma inédita vontade de aprender a cozinhar de verdade.

Tobirama fez uma cara deslumbrada, quando levou um punhado de cogumelos para a boca, mas não disse nada, assim como Izuna, que comeu em silêncio, prestando atenção em cada ingrediente que tinha sobre a mesa. Duvidava que um dia poderia cozinhar daquele jeito, mas quem sabe o Senju não se inspirava e aprendia um pouco mais? Eles sempre comiam a comida um do outro, especialmente nas últimas duas semanas, em que jantaram juntos em quase todas as noites. Tobirama era habilidoso na cozinha, mas aqueles pratos que provavam, mostrava que ele não era excepcional, e o fazia querer provar aquilo todos os dias.

Izuna tentou pensar em uma forma de convencê-lo a aprender, sem ferir seu orgulho. Se Tobirama se ofendesse, ia virar a cara e começaria a cozinhar mal só para irritá-lo. Não podia arriscar, já que o Senju vinha sendo a sua única esperança de comer uma comida caseira decente com frequência.

Izuna gostava da nova rotina, e aproveitou que Tobirama estava distraído com o arroz no pote, para sorrir suavemente sem ser notado. Queria manter aquela convivência, que aos poucos evoluía, e o deixava cada vez mais confortável.

Era um grande alívio sempre tinha Tobirama por perto. Izuna se sentia compreendido, e não era a forçado a falar quando não sentia vontade; também conseguia atenção sem precisar se esforçar. Era estranho, mas se acostumou muito rápido com aquela situação, e isso era um grande problema para o Uchiha. Não queria voltar atrás, mas também temia continuar seguindo com aquilo. Estar com Tobirama trazia um sentimento de liberdade que nunca teve, mas nem sempre era calmo e aconchegante. Na realidade, o sentimento raramente era constante, pois o Senju tratava de mudá-lo até mesmo com simples olhares, ou nem isso, como naquela noite. Bastou ter uma lembrança, enquanto ainda o via com o olhar satisfeito na comida, para sentir o coração se agitar com euforia. Tentou afastar o sentimento e o pensamento, mas já era tarde, e se tornou inquieto com o que ouviu mais cedo.

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