Jardim Sem Flores

Capítulo 10

Mesmo depois de uma longa conversa com Izuna, Tobirama decidiu continuar pouco envolvido nos assuntos sobre o acampamento. O Uchiha disse que não havia problemas, que enfim entendeu o seu lado e que acreditava na palavra de Hashirama, mas Tobirama continuou irredutível, e o deixou mudo com um elogio sobre o seu bom desempenho sem a ajuda dos Senju.

Era fácil provocar Izuna, sempre foi, e poucos tinham conhecimento disto, pois o Uchiha sabia esconder os sentimentos como ninguém, mas o Senju o conhecia a fundo, e as reações comedidas eram notadas. Naquela ocasião, viu as orelhas se tornarem levemente coradas, enquanto Izuna evitava o seu olhar. Foi um simples e verdadeiro elogio, mas Izuna não estava acostumado com algo assim vindo de Tobirama, que sentiu o peito inflar com uma satisfação que tornou impossível não sorrir.

O tempo passou, e apesar de estarem focados em trabalhos diferentes, Tobirama e Izuna se encontravam com frequência. Jantavam juntos quase todas as noites; às vezes, dividiam o futon de Tobirama e tomavam café da manhã na companhia um do outro. Quando não era possível, Izuna o visitava na academia ou Tobirama aparecia no escritório e almoçavam fora. A aproximação foi natural, assim como a troca de carinhos e beijos. Nenhuma conversa aconteceu sobre aquela rotina que juraram que jamais aconteceria, pois sentiam muito receio, medo, e até mesmo vergonha do que estavam fazendo. Contudo, não negavam um pedido sequer dos próprios corações, que alcançavam o nível mais alto da felicidade apenas quando estavam juntos.

O tratamento com a senhora Yuko também continuou, e Tobirama finalmente começou a ver resultados mais aparentes. Ainda não se sentia confortável dormindo fora de casa, mas estava mais tranquilo, e, aos poucos, fazia as pazes com as noites silenciosas. Os pesadelos de Izuna se tornaram raros, mas ainda aconteciam com formas intensas e que o faziam acordar de sobressalto. Porém, Tobirama costumava estar sempre ao seu lado nesses momentos, e com um abraço e palavras sussurradas em seu ouvido, o ajudava a se acalmar, até conseguir voltar a dormir, como antigamente não conseguia.

O presente era melhor do que ambos imaginaram antes de se aproximarem daquela forma, e Tobirama desejou que nada mudasse. Uma conversa mais séria e um compromisso oficial, poderia mudar completamente o sentido daquela rotina que ele adorava. Não conseguia imaginar o clã Senju aceitando uma relação como aquela, muito menos o Uchiha e o seu líder; sua vida mudaria completamente, se aquele relacionamento saísse de dentro daquelas quatro paredes, portanto, se contentou com o silêncio de Izuna e fortificou o seu próprio. Estava feliz daquela forma, mas teve o primeiro receio quanto aquele segredo, quando precisou ser substituído na academia para assumir uma missão solo fora da vila, e recebeu a notícia sobre Izuna estar acamado.

Partiu do escritório do Hokage até a casa do Uchiha com muita pressa. Mal foi visto pelas ruas, até parar diante da porta. Deveria estar no portão principal da vila naquele instante, mas não se repreendeu, apenas pensou em Izuna, que havia demonstrado certo desconforto na noite anterior, e voltou para casa mais cedo. Quando Tobirama o questionou, ele jurou que era apenas cansaço, por isso o Senju o deixou partir sozinho, para descansar. Apesar de estarem mais unidos do que nunca, prezavam pela privacidade um do outro, mas ao bater duas vezes na porta, se viu arrependido por não ter insistido um pouco mais para passarem aquela noite juntos.

Ele deve ter precisado de mim, pensou Tobirama, aflito. Izuna não era de se render assim, a ponto de ficar no futon durante o dia, e isso fez o Senju ter somente pensamentos pessimistas sobre o seu estado. Estava ansioso para vê-lo, mas um obstáculo foi colocado à sua frente, assim que a porta foi aberta.

Era evidente que para aquela notícia ter chegado tão rápido nos ouvidos de Hashirama, Madara deveria estar envolvido, mas Tobirama não se lembrou da existência do irmão de Izuna, até vê-lo do outro lado, com seu rosto sério e desgostoso de sempre.