Capítulo 7

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Quando se sentou no banco comprido, Izuna respirou profundamente. Foi por pouco. Se deixasse aquele final de semana passar, não teria conseguido os ingressos para a última apresentação da peça de teatro no distrito Leste.

Ainda se recuperando da correria daquele dia, tentou focar no início da história. Era sobre uma lenda de uma noiva perdida de um samurai fantasma. A narrativa estava se tornando cada vez mais popular, e Izuna imaginava se era um dos poucos que ainda não havia assistido a peça. Porém, não se importou consigo mesmo, e a culpa veio ao observar os seus companheiros empolgados junto de suas famílias, nos bancos à frente.

Tinha se esquecido completamente daquela ideia, que foi recuperada quando ouviu sua assistente comentar que gostaria de ir, mas não tinha tempo. Ele imediatamente pediu a ajuda dela para conseguir os ingressos, mas recuou quando se lembrou de Tobirama. Aquela era uma ideia do Senju, que não o deixaria em paz, se agisse pelas costas dele. Não teve outra opção; deixou a assistente ajudar, mas só depois de ter entrado em acordo com Tobirama, que se manteve firme em pagar a metade das despesas.

Izuna queria agradá-los um pouco, já que por todos aqueles anos que os tinha sob o seu comando, só trouxe trabalho para eles. Tobirama ajudou com aquela ideia excelente, precisou admitir em segredo, assim como se atentou à forma com que não conseguia evitar o sorriso, sempre que pensava em como o Senju era atencioso. Tobirama era muito diferente do que ele imaginava em diversos aspectos, e em geral, as surpresas eram boas, apesar de colher algumas que lhe tiravam do sério. Todavia, ainda não sabia como lidar quando toda aquela gentileza era direcionada para si.

Tobirama agia de forma discreta, mas nunca misteriosa. O Senju deixava suas intenções claras quando estavam juntos, e era um dos motivos de Izuna não saber lidar consigo mesmo, principalmente naquele instante em que Tobirama se sentou ao seu lado.

O rosto sério estava atento na peça, concedendo a Izuna a oportunidade de observá-lo sem medos, e ao mesmo tempo o fez continuar sendo o único em toda a vila que nunca assistiu à apresentação. Izuna só conseguiu ver Tobirama ao seu lado, o tempo todo, e apenas sabia quando algo nas cenas mudava, porque o rosto ao seu lado se movia. Às vezes, ele ficava muito sério; outras, sorria suavemente, e logo ria ou mantinha o rosto neutro, fingindo não estar emocionado. E Izuna, o tempo todo, só soube sorrir discretamente. Não importava como Tobirama se apresentava, ele fazia o seu coração bater com força, e seu cérebro era incapaz de não o admirar.

Ao final da peça, Izuna se obrigou a olhar para frente. Se levantou e aplaudiu o espetáculo, sem saber se foi de seu gosto. Sequer pensou na história que perdeu quando se deu conta do que fazia, e o coração, acelerado como nunca, assim que se virou e encontrou o olhar do Senju, o amedrontou. Aquele sentimento não era conhecido, mas Izuna rapidamente o compreendeu, e o julgou como indesejável. No entanto, bastou um sorriso discreto de Tobirama para enfraquecer a defesa que rapidamente tentou erguer ao redor de seu coração. Seu peito se agitou tanto com o discreto toque que recebeu no braço, que destruiu tudo o que Izuna se esforçou para construir como defesa.

Aceitou ser acompanhado de volta para casa, mas o caminho foi feito junto dos shinobi convidados por ambos. Aquilo deveria ter sido uma boa oportunidade de se acalmar e ter certeza de que seus sentimentos não haviam evoluído tanto quanto pareciam, mas a frustração por não poder convidar Tobirama para entrar em sua casa naquela noite, o impediu de pensar com cautela.

Se despediu de todos com seu jeito comedido de sempre, e estremeceu levemente quando recebeu mais um sorriso fraco e um olhar hesitante que o fez desconfiar que não era o único decepcionado com o desfecho daquela noite. Izuna ficou feliz com aquela reação, mas pensou que não deveria. Sozinho em casa, tentou voltar ao seu juízo costumeiro, mas sua mente estava dominada por Tobirama, e o coração, impregnado pelo sentimento que pulsava em seu peito e o aquecia por completo.

Jardim Sem FloresWhere stories live. Discover now