1. O era pra ser

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Eu sempre imaginei um grande jardim repleto de flores que você cuidaria rigorosamente durante os dias livres. Te imaginei cercada das flores amarelas, vermelhas, violetas. Rodeada das cores mais vibrantes, e ainda sim sendo o destaque. Imaginei seu sorriso tímido ao me ver te observando de longe, mesmo sabendo que na sua presença, meus olhos estavam sempre em você. Imaginei você deixando os seus cabelos finos e compridos caírem sobre seu rosto, o escondendo de mim e nem precisei imaginar a sensação que percorreria meu estômago ou o sentimento de felicidade que se instalaria em meu peito, pois já estava familiar com ambos. Os sentia sempre que você olhava pra mim.

Não sabia se teríamos apenas um cachorro ou se cederíamos aos nossos impulsos e terminaríamos com mais de cinco. Não tinha idéia se a nossa casa ia ser mais moderna como eu gostava ou acabaria cheia de cores, móveis antigos e flores como você gostava. No fundo não me importava tanto, contanto que fossem as nossas fotos espalhadas pelas paredes e a bagunça tivesse nosso nome escrita nela.

Nunca chegamos a falar se queríamos ter filhos. Sabia que você seria uma mãe perfeita, não só porque você era maravilhosa em tudo o que se propunha a fazer, mas porque o seu olhar cuidadoso e gentil foi feito pra amar e cuidar, eu tinha certeza. E mesmo eu nunca tendo tido certeza se maternidade era pra mim, sabia que com você ao meu lado, eu poderia tudo.

Com todos esses planos e com todas essas certezas, mesmo assim no final das contas, eu fiquei sem o jardim, sem as flores, sem as cores. Restaram apenas as fotos antigas de momentos dolorosos demais para serem dispostos nas paredes. Da bagunça, só restou aquela dentro de mim. E filhos? Bom, desses eu tinha razão. Você era a mãe perfeita, a esposa e parceira perfeita.

Você só não era minha.

O ano era 2033, dez anos após a estréia do primeiro GL da Tailândia. Dez anos desde que minha carreira como atriz havia explodido e de que a minha vida havia mudado completamente.

Soltei um suspiro cansado enquanto encarava o e-mail na tela do computador. Apesar de já tê-lo lido diversas vezes, ainda não conseguia crer na sua veracidade. O e-mail havia sido encaminhado pela minha agente, mas meus olhos não conseguiam desgrudar do remetente original. "IDF.saint".

Eu me recusava a tirar meus olhos dali, pois me doía todo o corpo em pensar em ler o conteúdo da mensagem de Saint pela segunda vez. Claro que o homem não poderia imaginar a dor que me causaria ao usar aquelas palavras em seu convite, afinal, como a maior parte do mundo, ele não sabia da verdade. Mas eu não podia deixar de sentir uma certa raiva da sua falta de tato.

Com mais um suspiro, agora um em que buscava forças pro que viria, deixei meus olhos recairem nas palavras que me causavam inquietação.

"Reencontro freenbecky".

Meu coração apertou no peito e meus olhos fecharam automaticamente, enquanto levei minhas mãos até a minha nuca. Isso não podia estar acontecendo.

Pensei em fechar o notebook e fingir que não havia lido a mensagem e assim ignorar aquilo para sempre. Mas antes que eu pudesse fazer isso, meu celular vibrou sobre a mesa. Com mãos trêmulas peguei o aparelho, deslizando meu dedo sobre a tela para ler a nova notificação.

"Oi, Becky! Como você está? Desculpe contatar você de repente, mas imagino que você tenha recebido a mesma mensagem do Saint que eu. Sobre o reencontro. Eu queria responder, mas precisava conversar com você antes, saber da sua opinião."

"Espero que esteja bem. Sinto a sua falta."

"Desculpa mais uma vez lhe mandar mensagem do nada. Aguardo sua resposta."

"Ah, caso não tenha percebido até agora, aqui é a Freen."

"Freen Sarocha."

Eu li todas as mensagens que chegavam em seguida uma da outra e senti o nó no meu estômago se apertar ao mesmo tempo que senti o ar deixar meus pulmões e as lágrimas escorrerem pelos meus olhos.

Ela achou que deveria especificar a que Freen se referia. Eu não sei porque esse pedaço de informação quebrou o meu coração um pouquinho mais. Provavelmente porque no meu mundo só existia uma Freen. Insubstituível, intocável e nos últimos anos, impossível. E acho que isso feriu a Nong de anos atrás que ainda vivia em mim, essa acreditava que nunca existiria um tempo em que P'Freen se desculparia em me mandar uma mensagem e acharia que tinha a necessidade de se identificar como Freen Sarocha.

Mas bem, essa era a nossa nova realidade.

Enxugando levemente as minhas lágrimas com as pontas dos meus dedos ainda trêmulos, pensei em como deveria responder suas mensagens. Eu não fazia ideia do que queria. Obviamente eu queria vê-la mais uma vez, mas eu estava pronta pra isso? O meu coração aguentaria?

Pensei no que P'Freen me ensinou há muitos anos atrás e decidi que a única forma de responder as minhas e as suas perguntas era com a verdade:

"Eu não sei."

Notas da autora:

Ok, estou animada para escrever essa história.
Sim, vai ser uma pequena depressão kkkkkkk. Amo um drama, mas juro que compenso com momentos fofos quando for a hora.

O que acham?
Devo continuar?

People ChangeWhere stories live. Discover now