52. Fantasmas

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POV FREEN

Becky estava estranha desde domingo. 

Quando ela não atendeu as minhas ligações naquela noite, acreditei que ela havia pegado no sono e deixei estar, mas logo a sua estranheza continuou e eu comecei a me preocupar.

Eu e Li chegamos do interior da minha família no final da tarde de terça-feira. Eu estava me sentindo cansada das horas no trânsito e ainda tinha muitas coisas para organizar antes de ter que voltar ao trabalho no outro dia, mas algo em mim dizia que eu precisava ir ver Becky e entender o que ela estava passando.

A última vez que ela havia ficado sem me responder, ela tinha se isolado para escrever, mas isso tinha sido bem lá no início, antes de nos reconectarmos completamente. E se esse fosse o caso, eu entenderia muito bem, mesmo não gostando muito, mas eu precisava que ela falasse comigo. Eu sentia meu coração pesado de preocupação.

Tomando uma decisão espontânea, liguei para o Rune, perguntando se a Li poderia dormir com ele esta noite. Felizmente, ele não tinha planos que impedissem isso, logo arrumei as coisas da pequena e a deixei na casa do seu pai, com vários beijos em sua testa e bochecha. Me sentia um pouco culpada pela mudança inesperada de rotina, mas isso logo passou quando vi a alegria de Li em rever seu pai depois de muitos dias, e a mesma alegria estampada de volta no rosto de Rune. Com esse pequeno acalanto no coração, dirigi em rumo a casa do meu outro amor, esse que algo dizia dentro de mim, que precisava mais de mim do que eu imaginava.

A casa estava silenciosa quando coloquei a minha chave na porta da frente. Abri a porta delicadamente, dando algumas batidinhas e chamando pelo nome da Becky antes de entrar, mas não obtive resposta.

Depois de fechar a porta atrás de mim, deixei minhas coisas sobre o sofá da sala e fui em passos lentos buscar por Becky. Meus olhos percorriam atentos pela casa, mas tudo parecia estar em seu lugar. A bagunça organizada de Becky permanecia a mesma e isso me fez sorrir sem querer, me fazendo perceber o quanto eu tinha sentido sua falta nesses poucos dias longe dela.

"Babe?" chamei, mais uma vez batendo levemente na porta, mas agora na do seu quarto. Mais uma vez fiquei sem resposta. Adentrei o quarto, mas ali também não havia nenhum sinal dela, isso fez meu coração apertar ainda mais. 

Comecei a procurar por ela no restante da casa, agora deixando um pouco a calma de lado, e agindo mais sobre os efeitos dos meus medos irracionais. 

Foi um alívio e um soco no estômago simultâneo quando encontrei seu pequeno corpo deitado sobre uma toalha sobre a grama na parte de trás do seu jardim. Seu olhos estavam fechados, mas ainda assim eu sabia o que encontraria quando eles se abrissem. A resposta para ela não ter atendido aos meus chamados estava em forma de um grande fone que cobria suas orelhas. Qualquer outra pessoa, viria Becky daquela forma e acharia que ela estava curtindo um momento seu, deitada na grama do jardim escutando canções. Mas eu a conhecia melhor que ninguém. Podia ver de longe as marcas de dias difíceis em sua feição aparentemente serena. Podia ver como suas mãos apertavam em punhos da maneira como ela fazia quando se sentia ansiosa.

E mesmo que eu não pudesse observar nada disso, sabia porque Becky estava se isolando de mim. Fazendo exatamente o que havíamos prometido inúmeras vezes que não faríamos dessa vez. Eu sei que ela tinha que ter um bom motivo pra isso.

Andei em passos lentos até a sua direção, aproveitando para parar e tirar meus sapatos antes de pisar na grama. Sentei delicadamente em um espaço livre da toalha e imaginei que esse movimento acordaria a mulher ao meu lado, mas ela simplesmente virou seu rosto em minha direção e levou suas duas mãos para debaixo do seu queixo, como se estivesse se aninhando em um sono sereno. Isso me fez sorrir. Ela estava adormecida.

Ainda com cuidado, tirei o fone que cobria suas orelhas, afinal não fazia bem dormir com música assim e deixei ao nosso lado. Pensei em acordá-la, mas agora de perto, era possível ver as olheiras em seu rosto e decidi que ela precisava daquele descanso. Decidi, então, que me deitaria ao seu lado e puxaria seu corpo sobre o meu, velando seu sono e cuidando dela da melhor forma que eu pudesse.

Ela se agitou um pouco antes de relaxar completamente sobre mim e isso me fez sorrir. Deixei um beijo leve no topo da sua cabeça, quando ela, mesmo inconscientemente ajustou seu rosto entre o vão do meu pescoço, seu lugar favorito.

Naquele momento, com seu corpo aparentemente tão frágil sobre o meu, eu reforcei mais uma decisão. E buscando sua mão apertada em punhos com a minha, relaxei seu aperto e tomei seus dedos nos meus, desfazendo seu gesto ansioso. Ela não se afastaria de mim pelos seus fantasmas. Mesmo que demorasse, mesmo que fosse difícil, enfrentaríamos isso juntas.

"P'Freen?" sua voz rouca e doce ressonou em meu pescoço e eu parei meus movimentos, esperando para ver se ela tinha acordado.

Quando essa foram suas únicas palavras e sua respiração ainda continuou compassada e relaxada, soube que ela havia me chamado em seu sonho, o que aqueceu meu coração. Porque aquele também era o meu sonho.

"Eu amo você, teerak, e tudo vai ficar bem," prometi.

Notas da autora:

Oi 👀👀

People ChangeWhere stories live. Discover now