20. Tudo diferente

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"Você disse que sim e depois sumiu da minha vida."

As palavras de Freen foram como um tapa em meu rosto. Eu a encarava atônita sem saber o que fazer. Do que ela estava falando?

E como se eu visse um flash de lembranças, recordei das palavras de Richie: "é como se vocês tivessem lido livros diferentes". Dei um passo para trás, porque de repente, ela estava próxima demais e eu precisava raciocinar.

Enquanto andava, estiquei meus braços a minha frente, evitando que ela me acompanhasse. Ela me encarava preocupada e... Triste. Eu finalmente vi que ela chorava silenciosamente. Isso me fez cessar meus movimentos.

"P'Freen?" falei, sem entender.

Ela levou suas mãos até seu rosto e limpou o mesmo com certa dureza.

"Eu não lhe culpo, Becky, você fez o que era melhor para você..." ela falou em uma voz ainda mais embargada. As lágrimas que ela acabara de limpar sendo substituídas por novas. "Mas... Mas não quer dizer que não doeu," ela completou, virando-se de costas para mim.

Minhas mãos, que eu nem havia percebido que estavam esticadas na direção de Freen, caíram como pesos mortos nas laterais do meu corpo. Eu pensava em tudo, mas ao mesmo tempo não conseguia pensar em nada. Nada fazia sentido.

Observei seus ombros subirem e descerem enquanto ela chorava sozinha a minha frente. Eu encarava aquela cena como uma espectadora. Eu queria reagir, fazer algo, qualquer coisa, mas não sabia como.

Quando o seus ombros quase não se movimentavam mais e eu quase não podia mais escutar o seu choro baixo, eu me vi falando:

"Eu não sei do que você está falando."

Minha voz saiu completamente neutra, parecendo estranha até para mim mesma, e ela se virou automaticamente. Seus cenho mais uma vez franzido em confusão.

"Da carta que eu lhe escrevi quando passei um tempo no interior com a minha avó," ela falou com certa indignação na voz. "Na carta onde eu lhe pedi desculpas e lhe expliquei meus motivos. Você sabe o quão difícil foi naquela época para mim? Eu me forcei a ser honesta com você como eu não conseguia nem ao menos ser honesta comigo mesma..." ela proferiu essas palavras com tanta dor entrelaçada em sua voz que eu quis chorar junto com ela. "Eu sabia que não ia apagar a dor que eu tinha lhe causado, mas eu achei que você entenderia. Que entenderia que eu precisava de você do meu lado e que..." ela parou, finalmente não conseguindo mais falar e voltando a chorar copiosamente.

Eu automaticamente andei em sua direção e a tomei em meus braços. Foi a vez dela agarrar minha blusa com suas mãos fechadas.

Eu fazia sons aleatórios para acalmá-la enquanto balançava levemente nossos corpos, quase como se a ninando. Ela foi se acalmando aos poucos e eu sentia meu coração se acalmar junto com o ritmo da sua respiração quente na minha garganta.

Minhas mãos percorriam o final dos seus cabelos longos em um carinho gentil e eu senti quando ela ajustou sua posição para encaixar ainda mais seu rosto no meu pescoço, enquanto suas mãos me puxavam para ainda mais perto no abraço. Apesar da situação caótica, eu me vi soltando um um suspiro aliviado. Eu poderia lutar contra aquilo na minha mente, mas o meu corpo sabia que estava em casa. Fechei meus olhos por alguns instantes, só absorvendo aqueles instantes, quando a voz de Freen me tirou do meu pequeno transe.

"Então você nunca leu a carta?" ela perguntou, sem tirar seu rosto da sua posição no meu pescoço. A sua voz parecia muito séria apesar da nossa posição.

"Não," respondi sinceramente, em um tom derrotado. Porque tudo o que eu queria era ter lido essa carta, afinal parecia que ela continha todas as respostas para as minhas dúvidas de anos.

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