14. Preocupação

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Apesar de descobrir a mais nova informação sobre a vida de Freen, eu não tinha tido nenhum tipo de oportunidade para ficar a sós com ela e perguntar qualquer outra coisa. E, honestamente, mesmo que eu tivesse tido, o que eu perguntaria?

Ela podia ser solteira, mas isso não mudava em nada a nossa relação. Ela ainda havia terminado comigo há vários anos atrás e dito que achava melhor sermos só amigas. Ela estar casada ou não, não mudava em nada isso.

Eu não torcia pela sua infelicidade. Durante anos, eu me questionava se ela estava feliz, torcendo para isso. Me doía pensar nas nossas vidas separadas, mas isso não queria dizer que eu desejava que  o seu casamento não tivesse dado certo.

Aquela informação só me deixou mais confusa. Tentei aproveitar o resto do dia ouvindo a conversa descontraída dos outros, me mantendo mais calada, na minha. Eu precisava de um tempo para processar as coisas.

De vez em quando eu pegava o olhar preocupado de Freen e Nam sobre mim, mas eu sorria para ambas, tentando desviar o foco delas.

No final da tarde, eu e Aran nos despedimos dos demais e ele me levou para casa. Eu sentia que ele queria que eu o convidasse para ficar, mas honestamente tudo o que eu queria era ficar sozinha. Me despedi rapidamente dele, em seu carro mesmo, e entrei depressa em minha casa.

Depois desse encontro inusitado com meu passado, eu me isolei por alguns dias. Aproveitei que eu precisava entregar novas composições e me joguei de cabeça no meu trabalho. Aproveitando o turbilhão de sentimentos para fazer o que eu mais amava: compor.

Aran sabia quando eu estava nesses meus momentos, então respeitava meu espaço. Richie e meus pais também entendiam, mas eu podia esperar que algum deles apareceria na minha porta para saber se eu estava me alimentando direito. Por isso não foi surpresa quando minha campainha tocou no meu quinto dia de isolamento. Só podia ser a minha mãe ou meu pai, Richie não entendia limites e nunca usava a campainha, apenas entrava usando a chave de emergência.

Larguei a caneta e o caderno que eu usava para escrever minhas letras e me levantei do chão da sala, olhando ao redor do ambiente, tentando ver se estava adequado o suficiente para não receber uma bronca caso fosse a minha mãe do outro lado da porta. A casa parecia ok o suficiente, até para os padrões da minha mãe, então fui até a porta mais relaxada.

"Sim, eu estou viva," falei enquanto abria a porta, em um tom divertido, que morreu na minha garganta assim que eu vi quem realmente estava do outro lado. "Freen?" exclamei em surpresa, mas ela não me deu tempo de reagir, foi logo entrando na minha casa.

"Que bom que você está viva, porque eu estava ficando maluca. Você não me responde em cinco dias," ela disse andando de um lado para o outro. "Cinco dias, Rebecca!" ela disse, parando rapidamente, mas logo voltando a sua caminhada frenética. "E eu não sabia seu endereço para checar como você estava. Aran e Richie me disseram que você estava bem, só em um dos seus momentos. Mas o que isso significa?" ela falou, finalmente parando de vez e me encarando com suas mãos esticadas no ar. Ela pareceu tentar se acalmar quando viu minha reação atônita. "Me desculpa, eu só... Eu me preocupei."

"Eu estava compondo," respondi, tímida, apontando para o meu teclado, fones, notebook e cardeno no chão da sala.

"Oh," ela falou, ficando realmente vermelha. "Me desculpa de novo por esse leve surto que eu acabei de dar, eu só..."

"Ei, tá tudo bem," eu respondi, tocando seu braço para acalmar seus movimentos. "Você só se preocupou," eu repeti suas palavras anteriores e ela concordou com a cabeça.

"Eu deveria ter escutado Aran e Richie e não ter vindo aqui de repente atrapalhar seu trabalho," ela falou, parecendo ainda mais constrangida.

"Você não está atrapalhando nada, Freen," falei tentando assegurá-la com um sorriso gentil em meu rosto.

Ela pareceu analisar meu rosto, como se buscando algum sinal de que eu só estava sendo educada em minhas palavras. Quando ela pareceu entender que eu realmente estava sendo verdadeira, sua postura relaxou. Eu podia estar evitando ela de alguma forma, mas eu realmente estava feliz em vê-la. Eu me perguntei se um dia a sua mera presença deixaria de significar tanto para mim.

"Só confirmando, está tudo bem, certo?" ela perguntou quando eu ofereci para sentarmos no sofá.

"Sim," eu respondi. Eu ainda estava tentando esclarecer os novos fatos na minha cabeça, mas ela não estava perguntando isso.

"Quando você parou de me responder abruptamente, eu tive medo que você não fosse mais me responder," ela falou em uma voz baixa e cheio de insegurança. Suas palavras fizeram meu coração se apertar no peito.

"Eu não faria isso, Freen," falei, colocando minha mão sobre a sua coxa. "Não de novo," reforcei, tristemente, quando seus olhos encontraram os meus.

"Eu achei que o nosso último encontro havia lhe assustado e feito você não querer mais reconectar comigo," Freen confessou, levando, hesitantemente, sua mão para tocar a minha, que ainda estava sobre a sua coxa. Meus olhos acompanharam seus movimentos e eu engoli em seco.

"E por quê eu teria me assutado?" perguntei, mesmo que em dúvida se eu queria realmente saber a resposta. Parecia que estávamos entrando mais uma vez em tópicos perigosos.

"Eu não sei, você passou a maior parte do dia calada e e de repente parou de me responder completamente" Freen falou, afastando sua mão da minha, como se decidindo contra aquele toque. Seus olhos buscaram o meus. "Eu fiquei com medo que tivesse feito algo errado."

Meu coração acelerou no peito e eu tive que me esforçar ao máximo para controlar minhas expressões. Eu não queria magoá-la com meu afastamento. Honestamente, eu nem havia pensado em como ela se sentiria e em como eu podia trazer sentimentos a tona do passado. Porque eu sabia que não havia sofrido sozinha no passado, sofrido de maneiras completamente diferentes sim, mas não sozinha.

"Me desculpe. Eu deveria ter lhe avisado que ia ficar algum tempo sem responder. Eu fui egoísta em não pensar como você reagiria. Eu juro que não foi intencional, mas foi egoísta," falei, movimentando minha mão até o seu joelho, em um carinho tão comum entre a gente, que foi espontâneo.

Eu percebi que seus olhos encaravam o movimento da minha mão e me perguntei se ele estava desconfortável com aquele toque. Antes que eu pudesse tirar minha mão dali, no entanto, Freen colocou novamente sua mão sobre a minha.

"Eu acho que tem muita coisa que a gente ainda tem que entender uma da outra para essa nova relação dar certo," ela disse em um tom gentil e esperançoso, me puxando de volta para a sua órbita com seus olhos presos nos meus.

"Por mim tudo bem," eu respondi sem nem pensar.

"Você se importa de eu ficar um tempo aqui? Eu juro que fico quieta e não atrapalho seu trabalho," ela pediu em um tom de voz tão familiar e tão distante ao mesmo tempo. "Eu senti sua falta," ela confessou, voltando a encarar nossas mãos juntas.

"Você pode ficar o quanto quiser," falei. O que eu deixei de dizer, era que eu queria que ela ficasse pela vida inteira.

E mais.

Notas da autora:

Eita que eu mudei o final hoje desse capítulo hoje e gostei mais de como ele saiu.
Elas ainda precisam conversar para entendermos melhor a Freen. Aí talvez eu faça um PoV dela também. Tô pensando.

É isso. Até k próximo!

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