23. Salvação

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POV FREEN

Era sábado, 10h da manhã e eu esperava ansiosamente a chegada de Becky em casa. Havíamos marcado a nossa conversa para esse horário e desde então não havíamos nos falado mais. Eu achei que seria bom dar um tempo para pensarmos um pouco antes dessa conversa.

Minhas mãos tremiam levemente enquanto eu olhava meu celular de segundos em segundos, aguardando sua chegada. Eu confesso que não havia dormido nada na noite anterior. Eu me sentia há seis anos atrás, com as minhas mãos trêmulas enquanto desabafava partes de mim no papel. Já tinha sido difícil para mim escrever aquelas palavras, me perguntava como seria dizê-las em voz alta. Eu havia evoluído muito nesses últimos anos, porém ainda seria extremamente difícil. Mas por Becky eu daria o meu melhor.

Quando a campainha finalmente tocou, eu me levantei rapidamente e fui abrir a porta. Do outro lado da mesma, Becky me esperava com uma postura retraída. Seus olhos demonstravam que ela também não dormira bem e eu me senti mal. Me perguntei quantas vezes eu a havia deixado acordada se perguntando o motivo das minhas atitudes. Engolindo em seco e decidindo que eu não podia mudar o passado, mas podia dar as respostas que ela queria agora, a convidei para entrar com gestos. Ela concordou com a cabeça e entrou.

Eu indiquei para ela me seguir até a sala e ela assim o fez. Sentamos caladas e olhamos apreensivas uma para a outra antes de desviarmos os olhares para qualquer outro canto da sala. Eu não saberia dizer se Becky sentia o mesmo que eu, mas era como se eu tivesse esperado tanto por esse momento, mas ao mesmo tempo tinha medo das consequências dele.

Respirei fundo e decidi que deveria falar algo. A gente tinha que começar aquela conversa de qualquer forma.

"Becky," chamei sua atenção com um tom de voz baixo. Seus olhos surpresos pela minha quebra do silêncio, encontraram os meus. "Vamos começar?" perguntei ainda mais delicadamente. Eu havia decidido que essa conversa séria para ela.

Ela respirou fundo também e concordou com a cabeça.

"Acho que já é a hora," ela disse em um quase sussurro.

"Como você quer fazer isso? Você quer perguntar ou eu posso contar a minha versão do que aconteceu? Ou pelo menos o que eu achava que tinha acontecido até uns dias atrás," falei, mais rápido do que eu queria, demonstrando meu nervosismo. Tentei acalmar meus nervos, no entanto. Eu só precisava ser sincera. Só dizer a verdade e torcer pelo melhor.

"Eu não saberia o que perguntar além da pergunta que lhe fiz antes," ela falou, parecendo ainda mais tímida. Eu quis muito alcançar minha mão até ela e lhe passar conforto, mas eu não queria cruzar mais nenhum limite como da outra vez. Apertei minhas mãos em punhos fechados em meu colo e resisti a tentação.

"Então eu vou contar a minha versão do que achei que tinha acontecido," falei, buscando coragem nos olhos incertos de Becky. Ela merecia aquele esclarecimento.

Desviei meu olhar do seu, porque de repente era difícil demais encará-la e lembrar do que eu havia feito tantos anos atrás. Senti meus olhos marejarem, mas respirei fundo, buscando força para continuar.

"Você lembra que assim que a gente voltou de Macau você me perguntou porque eu estava agindo estranhamente?" perguntei, tomando coragem para iniciar aquele assunto enfim. Ainda não conseguia fixar meus olhos em Becky.

"Sim, era como se você estivesse se distanciando de mim," suas palavras enlaçadas em sentimentos fizeram eu finalmente voltar a encará-la. "Foi quando eu comecei a te perder," ela concluiu, deixando seus olhos caírem no seu colo. Mais uma vez tive que apertar minhas mãos em punhos.

"Na verdade, Becky, foi quando eu comecei a me perder," minhas palavras fizeram ela voltar a me olhar, mostrando claramente sua confusão. "Eu não lhe contei porque eu não queria preocupá-la naquele instante, mas eu havia começado a receber muito hate via email, DMs e outras coisas similares," falei sentindo meu estômago revirar em lembrar desse tempo. Os olhos de Becky se arregalaram. "Eu sei, hoje, que deveria ter me aberto com você e explicado o que estava passando. Mas eu me sentia envergonhada," falei ao mesmo tempo que revirava meus olhos. Nessa época eu dei tanto poder para essas pessoas que elas modificaram a minha vida inteira. "Eu me sentia envergonhada porque eu acreditava no que elas diziam," continuei, agora sentindo um pouco da revolta sumir e tendo flashbacks de tudo que eu havia passado naquele tempo.

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