Capítulo 19

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_ Você está bem papai? _perguntou Emily ao pai naquela noite quando ele voltou do trabalho com uma cara nada boa. Ele era policial e apesar de gostar do que era, às vezes trabalhar naquilo era muito difícil.

_Estou. _respondeu ele parecendo bastante cansado e preocupado. _Apenas um dia difícil. Uma garota foi encontrada morta em uma cova aberta na saída da cidade perto da floresta. Um verdadeiro horror... era tão nova.

Ao ouvir aquilo Emily perdeu a cor, ficando pálida e gelada. Suas lembranças foram para a garota que Victor havia matado. Com certeza era o corpo dela que haviam encontrado.

_Era da sua escola, Callie Forbes, era de uma família tradicional daqui. O pai dela estava inconsolável o coitado, não consegue acreditar no que aconteceu. _ contou Erik a filha, sem notar que Emily começara a tremer sem parar. _Ela teve o coração arrancado, o que torna a situação muito estranha. Não pode ter sido um animal, isso seria impossível, não havia outro machucado. O prefeito e o xerife acreditam que tenha sido uma pessoa. Mas que tipo de ser humano desprezível mataria alguém daquela forma?

"Victor Hale" _pensou Emily amargamente.

_Acho que vou me deitar. _murmurou Emily se forçando a se levantar do sofá onde estava sentada e começando a subir as escadas devagar, com medo de cair por causa da tontura que havia começado a sentir. _Não me sinto bem.

_Me desculpe querida, não deveria ter te contado nada. Você deve estar apavorada. _desculpou-se seu pai arrependido de ter contato sobre a morte da garota. Ao parar para observar a filha parada no meio da escada que levava ao segundo andar, o andar dos quartos, pôde ver que ela parecia meio doente. Jurava que ela começara a ganhar um tom esverdeado no rosto apavorado.

_Boa noite papai. _ murmurou Emily forçando um sorriso no rosto para tranquilizá-lo enquanto continuava a caminhar.

_Boa noite, meu amor. _disse seu pai com uma expressão preocupada e culpada. Não deveria ter dito coisa alguma a ela.

***

    Horas depois Emily acordou assustada. Sentiu que estava deitada em algo gelado e o ambiente estava muito frio. Ventava forte e o vento batia em seu rosto com agressividade. Por um momento pensou que havia deixado a janela do quarto aberta, mas ao dar uma olhada ao redor soltou um grito aterrorizada. Não estava em seu quarto, ou em lugar algum em sua casa. Estava muito escuro ao seu redor e ao se levantar pode notar que estava descalça e que seus pés estavam sujos e moldados por causa do chão frio e lamacento da floresta. Por algum motivo e seja lá como aquilo havia acontecido, não estava em casa, estava no meio de uma floresta com árvores enormes e assustadoras ao seu redor.

"Que isso seja um sonho" _pensou em súplica. "Por favor" "Que isso não esteja acontecendo"

Porém mesmo que Emily fechasse os olhos e se beliscasse, a floresta continuava ali. Aquele chão molhado sujando seus pés nus não poderia ser sua imaginação.

_Victor... _sussurrou ela apavorada. "Com toda a certeza aquilo era coisa dele" "Ele a estava a aterrorizando, a querendo ver sofrer" _Victor por favor... _implorou ela chorando imaginando se ele estaria a observando agora. Apreciando o sofrimento dela, se alimentando do seu medo.

     Se abraçou de modo protetor por causa do frio e olhou mais uma vez ao redor tentando descobrir alguma luz distante que indicasse onde seria a cidade, mas não havia nada além de escuridão. A camisola branca que usava apesar de ser longa até os joelhos não estava sendo o suficiente para ajudá-la com o frio. Seu corpo não conseguia parar de tremer por causa do frio que aquela madrugada fazia.

Venha até mim_ ouviu uma voz sombria sussurrar. Era Victor e ela não tinha a menor dúvida disso. Venha para mim, Emily.

Primeiramente Emily achou que ele estava ali perto, mas seus pés descalços começaram a se mover sozinhos e ela entendeu o que ele estava fazendo. A controlando como fizera da vez em que fora a casa dele, a fazendo ir até ele contra sua vontade.

_ Não quero. _ negou Emily tentando se segurar em uma árvore próxima, arranhando as mãos no processo. _Não vou! NÃO!

Por mais que Emily tentasse se forçar a ficar, havia uma espécie de força que a fazia continuar andando. Tropeçou várias vezes e teve os pés machucados por galhos secos e pedras que havia no meio do caminho, mas continuou. Seus soluços eram a única coisa que podia ser ouvida no interior daquela floresta escura e silenciosa.

Passou o que imaginou serem quase uma hora e meia caminhando até que enfim chegasse a algum lugar. Quase não se surpreendeu ao notar que a força que a forçava a caminhar a levou até a isolada e aterrorizante casa dos Hale. O portão da garagem se abriu assim que ela se aproximou, como se já a estivesse esperando e ela continuou andando. Abriu a porta que a levaria para dentro da mansão que também estava aberta e entrou na casa, sendo recebida pelo silêncio da sala. Parecia não haver pessoas em casa. Porém os pés machucados de Emily continuaram se movendo e sem que ela se desse conta já estava subindo a enorme escada que a levaria ao segundo andar. E depois até o fim do corredor até o quarto de Victor.

     A porta do quarto dele abriu assim que ela se pôs a sua frente e ela entrou quase mancando. Os cortes nos pés doíam muito e tinha certeza de que por onde havia andado pela casa, um rastro de sangue havia ficado, como uma trilha de por onde ela havia passado.

_Eu odeio você... _sussurrou Emily com a voz quebrada para a figura de costas para ela, que estava em frente a uma enorme janela de vidro, parecendo encarar o céu lá fora. _Eu tenho nojo de você. E eu nunca, escute bem... eu nunca mais vou abaixar a cabeça e deixar você fazer o quiser comigo! Se quiser me matar, eu morrer lutando!

_Essa é a Emily que eu queria de volta. _murmurou Victor se virando para encará-la. _A Emily corajosa, que apesar do medo que sente de mim me enfrenta, me diz verdades na lata.

_Por que estou aqui? _perguntou ela tremendo.

_Por que você acha? _perguntou ele se aproximando e se pondo a sua frente.

_Porque queria me ver sofrer. _supôs a garota soltando um riso triste como se aquilo fosse óbvio. _Bom... você conseguiu. Não á uma parte minha que não doa agora.
"Inclusive meu coração" _acrescentou a voz da sua consciência.

_Doeu ainda mais em mim quando você me fez perder a única coisa que já amei na vida. Doeu tanto que até pensei em me matar. _confessou ele com a expressão sofrida. Emily acreditou por um momento que ele choraria, mas o tempo passou e nenhuma lágrima desceu por seu rosto. Ele era incapaz disso, pensou.

_ Você a amava? _perguntou Emily tristemente. _Foi por minha causa que ela morreu então..._supôs. _O que eu fiz?

_Eu a amava mais do que tudo, mas desde que ela morreu não amo nada. _disse Victor sombrio, ignorando a outra pergunta.

_Você disse me disse depois que matou aquela garota que se encantou por mim assim que me conheceu... achei que tínhamos sido um casal..., mas você acabou de me dizer que amava outra, e que por minha causa ela morreu.

_É... _concordou ele analisando a expressão pálida e cansada de Emily murchar ainda mais. Era como se ela tivesse sofrido uma grande decepção com as palavras dele. Ele sorriu cruelmente ao entender o porquê. Apesar de tudo de ruim que ele fizera a ela, ela havia começado a sentir algo por dele e por isso o fato de saber que ele amava outra pessoa a deixara tão abalada.

_ Você me contou que meu pai era alguém poderoso. _disse Emily cambaleando para o lado ao sentir uma forte tontura e um arrepio gelado subir por sua espinha. _O que eu era? Uma espécie de meio demônio?

_ Exatamente, esse é o termo correto, meio-demônio. _revelou ele.  _Mas filha de um poderoso demônio, muito poderoso mesmo. De um príncipe do inferno. Ele entendeu por que eu a matei, mas isso não o impediu de vingar a morte da única filha me expulsando do inferno.

_O que eu realmente fiz? Por que não pode me dizer? _questionou ela angustiada. _ Você me disse que eu era má, assim como você, mas eu não sou assim, nunca faria mal a ninguém, por favor me deixe em paz!

_Eu adorava ver você chorar. _admitiu ele a puxando para si, passando as mãos pelo rosto de Emily, molhado pelas lágrimas que desciam sem parar por suas bochechas. _Eu costumava adorar seu sofrimento. Machucar você era como um alívio para minha dor. Houve sete de vocês desde que matei Evelyn, mas você... você é a que menos se parece com ela. Às vezes, em alguns momentos penso que deveria dar uma chance a você e deixá-la seguir sua vida...

_Por favor... _implorou Emily com olhar suplicante. Ele a encarou de volta intensamente e ela quase pode ver pena e hesitação naqueles olhos azuis intensos, mas foi muito rápido e logo desapareceu.

_Mas eu não posso e não vou. O que eu perdi não vou ter de volta nunca Emily, não posso ignorar isso. _assegurou o demônio abaixando a cabeça, já que era bem mais alto que ela, e apoiando o queixo no ombro dela que chorou ainda mais com o gesto.

_Me mata. _pediu ela o fazendo levantar a cabeça e a encarar surpreso. _Me mata então vai estar tudo acabado. Você vai ter se vingado pela garota que você amava. Talvez isso amenize sua dor de alguma forma e então outras pessoas não precisaram sofrer, me mate e tudo acaba. Me mata por favor. _suplicou Emily fora de si o puxando pela camiseta. _Por favor acaba com isso...

Victor a encarou chocado primeiramente, mas depois acenou positivamente. Seria melhor acabar com tudo de uma vez. Aquilo já havia durado demais. Devagar Emily o viu se afastar e apanhar uma adaga em uma gaveta no armário, o que a fez pensar se ele já não sabia como aquilo terminaria, por isso a fizera ir até lá.

_Deite-se na cama. _instruiu ele friamente.

Sem sequer pensar Emily obedeceu, pondo os braços esticados e como se para mostrar que não faria qualquer gesto que indicasse que pretendia se defender enquanto se deitava na cama.  Não gritou quando ele se pôs em cima dela e pressionou a adaga em seu peito, causando um pequeno corte superficial por cima do lugar certeiro onde perfuraria seu coração. Tentou controlar a respiração e sem que pudesse controlar seu olhar foi de encontro ao dele, que parecia uma pedra de gelo com uma expressão terrível no rosto ao encará-la de volta.

Sentiu quando ele forçou a adaga em suas mãos um pouco mais e sentiu o seu sangue começar sair. Não ousou nem respirar naquele momento, pois se o fizesse a pequena arma afiada a cortaria ainda mais. O próximo movimento tinha que ser dele. Era ele que a queria morta.

_ Não consigo. _ balbuciou Victor jogando a adaga para o lado e saindo de cima dela. _Já matei milhões de pessoas. Matei inocentes, causei desgraças e destruições, mas simplesmente não consigo, não consigo matar você, não posso...

Transtornado, Emily o viu caminhar até o outro lado do quarto com as mãos na cabeça parecendo atordoado e então parar em frente a um quadro coberto por um pano.

_Menti para você no momento que concordei quando você me perguntou se eu havia amado essa mulher. Não era uma mulher. _desabafou ele com a voz baixa deprimida, retirando o pano que cobria a tela.

Emily sentou-se na cama e deixou um ofego surpreso escapar por entre seus lábios. Não era uma mulher na tela, era uma criança, uma menina. E a semelhança dela com Victor não deixou dúvidas do que a garota era dele.

_Sua filha... _sussurrou Emily entendendo agora. Era por aquela morte que ele a culpava, pela morte da linda menininha de olhos azuis e cabelos lisos castanhos.

_Nossa filha. _afirmou o demônio se virando para encará-la. _Pelo menos até que você me traísse e por sua causa ela morresse...

Mistério Dos Sombrios Vol 1Where stories live. Discover now