Capítulo 61

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Lúcifer não permitiu que Emily se desvencilhar de seu aperto, por isso a única coisa que ela pôde fazer foi ouvir os sons da batalha que acontecia do lado de fora. Ela e o demônio estavam em outra sala agora, muito mais distante da entrada juntamente com Evelyn e Nora, que permanecia presa a grossas correntes em um canto do cômodo com uma expressão infeliz. Do rosto escorria sangue escuro, assim como do lugar onde antes estava sua orelha esquerda, não era uma visão agradável por isso Emily desviou o olhar. Cérbero mantinha uma distância mínima de Lúcifer e da humana, parecendo estar preparado para avançar em qualquer um que se aproximasse, e era o que faria dado as expressões assassinas que cobriam os semblantes do demônio gigante de três cabeças

Os sons de gritos vindos do lado de fora da casa eram aterrorizantes e Emily sentiu-se gelada por dentro amedrontada. Viu quando Lúcifer que tinha o semblante inexpressivo, preso a uma máscara fria que não transmitia seus reais sentimentos, sentou-se em uma cadeira logo atrás dela e a obrigou a permanecer em pé ao seu lado, ainda com as mãos a segurando fortemente pelo braço. Não havia muito o que pensar sobre o que ele estava sentindo, apesar de pouco demonstrar era óbvio que estava tenso e ansioso pelo que aconteceria.

Minutos se passaram e então a porta do cômodo se abriu num rompante, dando a Emily a visão de Balthazar que tinha na mão uma espada de metal de onde emanava uma luz azul, sozinho e com uma expressão determinada que não deixava dúvidas quanto ao seu propósito.  A garota não deixou de notar que o olhar de Lúcifer foi direto para a arma e ela o viu engolir em seco apesar da expressão indiferente. Era medo do que a espada faria com ele ou de ter que matar o irmão amado? Emily não sabia, mas supunha que fossem os dois.

_ Então é aqui que a brincadeira termina irmão? _questionou Lúcifer com um sorriso quase cruel no rosto bonito. Encarou Balthazar com um olhar perverso que refletia ao mesmo tempo repulsa e ódio profundo enquanto ele tinha uma expressão inexpressiva ao devolver seu olhar. _Meus aliados não merecem sua atenção pessoalmente? Deixou apenas aqueles traidores que servem a você cuidarem deles?

_Eu não vejo muito trabalho para o meu exército ali fora. _retrucou Balthazar não fazendo qualquer gesto que indicasse que se aproximaria mais. Estava sendo cauteloso é claro, Lúcifer ainda era mais poderoso e tinha Emily e Nora sob seu poder.

Emily sentiu vontade de correr até ele e abraça-lo, mas aquilo seria impossível com aquele maldito cão enorme de três cabeças a sua frente, ameaçando estraçalha-la em mil pedaços caso se mexesse um centímetro sequer. Apesar de em nenhum momento o olhar do demônio na entrada do cômodo ter sido direcionado a ela, a garota sabia que Balthazar não havia deixado de notar Cérbero e a maneira como o focinho do cachorro pareceu se contrair de raiva com a sua presença.

_Eles estão em menor número, mas estão ainda mais poderosos que antes com o poder extra que os concedi. _ contou Lúcifer friamente.

_Se o conheço bem, sei que não deu a eles tanto poder assim. Não o suficiente, com medo de não estar forte o suficiente para acabar comigo.

_Como você me conhece, irmão. _ ironizou o diabo apertando o braço de Emily com ainda mais força, o que a fez gemer de dor, atraindo o olhar do outro demônio para ela.

_ Cérbero é uma boa jogada, mas ele não vai ser suficiente para me matar. _observou Balthazar, estava com a espada e não hesitaria em usá-la contra o cachorro de três cabeças no meio do cômodo, entre ele e Lúcifer.

_Ele não está aqui para matar você, eu farei isso. Talvez para machuca-lo e fazê-lo sangrar apenas. _discordou o Lúcifer asperamente, se levantando e soltando Emily bruscamente.

Tinha agora uma espada na mão direita que a garota não fazia ideia de onde ele havia tirado e diminuiu a distância entre ele e Balthazar, sendo seguido por Cérbero, com suas cabeças encarando o demônio inimigo de maneira monstruosa, rosnando gravemente deixando seus enormes dentes à mostra.

Logo atrás de Balthazar a figura de Azazel surgiu, tinha alguns machucados em um dos braços de onde escorria sangue denso e escuro e a expressão era ainda mais determinada, o que indicava que havia estado em combate poucos minutos antes. Se pôs ao lado do irmão e encarou o Lúcifer de maneira sombria.

_ Você ainda pode mudar de lado Azazel, a vida de Nora não faz diferença alguma para mim, mas sei que para você faz. _murmurou Lúcifer apontando para vampira que tinha uma adaga mantida contra o pescoço por Evelyn. _Se der mais um passo, qualquer um de vocês, Evelyn não hesitara em cortar a cabeça da sua amada. _disse o demônio.

Com um baque a adaga nas mãos de Azazel foi jogada no chão com violência. Irritado, murmurou de maneira exasperada:
_O que você quer? Eles não pararão de lutar lá fora por causa da vida de uma humana e de uma vampira, já chegamos muito longe para isso.

_ Não quero que parem de lutar, isso seria impossível a esta altura do campeonato. Quero que você fique ao meu lado, que me ajude a acabar com Balthazar. Faça um voto perpétuo comigo Azazel.

Azazel pareceu analisar a situação por alguns minutos e então encarou Balthazar ao seu lado de maneira quase frustrada e bufou.

_Sinto muito. _ murmurou ele para o irmão ao seu lado. _O único motivo pelo qual voltei foi Nora, não posso perdê-la. Vai ter que fazer isso sozinho.

_ Não faça isso, podemos dar um jeito, encontrar uma maneira... _pediu Balthazar encarando o irmão surpreso. Lúcifer sorriu, a traição era quase apreciativa naquele momento.  _Amo Nora tanto quanto você, não faça isso.

_Ama Nora tanto quanto ama Alexia, mas onde Alexia está agora? Morta! _gritou Azazel caminhando de forma hesitante até Lúcifer. _Não posso vê-la morrer, não suportaria. _sussurrou para si mesmo, como uma afirmação para si próprio que fazia o certo.

_Ele irá traí-lo, quem garante que ele não irá matá-lo depois? _questionou Balthazar irritado.

_Garantia para não o matar não há, mas para provar que realmente não matarei Nora, a devolverei. _disse Lúcifer indo até onde Nora estava no canto do cômodo e com um simples gesto a soltando das correntes que a prendiam, mas fraca como estava a vampira não conseguiu sequer se mover. _Tire seu sangue e repita as palavras antigas enquanto caminha até mim devagar e eu a solto.

Azazel pareceu ainda mais hesitante, como se não tivesse certeza sobre o que escolheria fazer, parecia não estar tão certo quanto antes, mesmo assim assentiu enquanto se aproximava do demônio de olhar doentio.

Balthazar ameaçou avançar contra ele furioso por sua traição em um momento tão importante, mas Lúcifer fez um gesto com a cabeça e Evelyn se afastou de Nora e caminhou em direção a Emily, apontando a adaga em sua mão agora contra o pescoço da humana.

_Ah não Balthazar, você não vai querer fazer isso. _ comentou Lúcifer rindo. _Quando eu vencer aqui, a batalha lá fora e os reinos infernais que você conquistou não farão diferença alguma. Você sabe tanto quanto eu que no inferno o que conta é quem está no controle, e se você estiver morto ninguém se oporá a mim.

Balthazar parou onde estava e encarou a antiga esposa, que tinha um sorriso enorme no rosto enquanto ameaçava Emily com uma faca, de maneira sombria.

_Estou farto de seus jogos sujos irmão. Faça esse maldito voto perpétuo então seu traidor, e então nós três nos enfrentaremos. _disse ele friamente para os dois outros demônios. Azazel ficou pálido ao ouvir a ofensa, mas Lúcifer apenas sorriu ainda mais ao ver a expressão incapacitada do irmão. O fato de Balthazar não ter nenhuma saída parecia lhe dar prazer.

Azazel se pôs à frente do rei do inferno e usando o sangue que escorria de seus machucados desenhou um símbolo no pulso direito, murmurando palavras que Emily não reconheceu em seguida, seja lá o que representavam, fizeram Lúcifer sorrir amplamente logo depois. Provavelmente o voto perpétuo sendo selado. Agora Azazel não tinha outra saída além de fazer o que ele lhe ordenasse.

_Agora você não pode me trair ou se voltar contra mim. _murmurou o diabo sorrindo ainda mais contente. _Agora mate Nora. _ordenou friamente. Queria ter certeza de que o voto que o príncipe do inferno fizera havia realmente funcionado ou ele havia de algum modo o enganado. Apesar de tudo ele sempre havia sido muito próximo de Balthazar e uma traição daquelas era difícil de se acreditar.

_ Você prometeu. _lembrou Azazel com a expressão horrorizada. _Por favor... não me faça fazer isso.

Emily não se lembrava de já ter visto Azazel com uma expressão tão devastada antes e por um momento sentiu pena dele. Afinal ele não teria escolha além de matar a mulher que amava.

_ Você fez um voto perpétuo comigo, não o contrário. _justificou Lúcifer não parecendo nem um pouco penalizado, a expressão ainda sem resquício algum de misericórdia.  _Mate-a. _ordenou.

Primeiramente o príncipe do inferno de cabelos longos pareceu hesitar, mas com o olhar torturado assentiu, indo em direção a vampira que permanecia encolhida no chão, machucada demais para sequer se mexer, seus olhos acompanharam a aproximação dele. Apesar das lágrimas nos olhos do demônio ele ergueu a adaga que havia apanhado do chão no meio do caminho e avançou contra ela. Porém antes que Lúcifer ou qualquer um na sala pudesse interferir, Balthazar gritou algo na língua antiga dos demônios e a vampira simplesmente desapareceu, sumindo como se nunca houvesse estado lá, o que fez Azazel suspirar aliviado, deixando a adaga cair outra vez no chão tremendo.

_ Você é tão sem graça, é claro que faria isso. Provavelmente fez isso querendo que atingisse Emily também, a mandando para longe, mas como pôde ver isso não irá funcionar com ela. _murmurou Lúcifer desapontado, apesar de ainda ter no rosto uma expressão convencida, como se apesar de tudo já esperasse uma ação como aquela. _Ela está sob minha proteção Balthazar, salvou Nora, mas Emily ainda me pertence.

Balthazar não respondeu e não dando tempo para que ele sequer avaliasse a situação, Lúcifer avançou contra ele, o empurrando com tanta força contra a parede próxima a porta que onde suas costas bateram abriu-se uma enorme cratera, rachando boa parte da estrutura das paredes e do teto, causando um impacto tão poderoso que a espada nas mãos do demônio caiu no chão. Tirando proveito daquela vantagem o demônio apanhou a arma e sem hesitar a afundou com toda força contra o peito do irmão, causando um som que lembrava de algo sendo queimado, como se onde a espada tinha atingido começasse a queimar, em um fogo invisível, mas poderoso.

Emily deixou um grito escapar e tentou se soltar de Evelyn, se debatendo, pouco se importando quando a adaga afiada nas mãos da meio-demônio cortava seu pescoço levemente por causa da sua tentativa de se afastar dela.

_ Não!! Não por favor!!! _gritou ela chorando. _Balthazar! Não...

Ela não podia acreditar que aquilo estivesse acontecendo. Lágrimas começaram a descer por seu rosto sem parar e seus soluços quebraram o silêncio obscuro que a sala havia se tornado. Todos pareciam estar chocados, até mesmo Lúcifer parecia não acreditar no que havia feito. Era estranho, parecia ter sido tão fácil.

_Eu realmente achei que seria mais difícil. _ murmurou Lúcifer para si mesmo. _A espada sequer me afetou. _disse ele franzindo o cenho confuso, observando as próprias mãos que havia segundos antes tocado na espada de Miguel, espada que deveria afeta-lo mais do que a qualquer outro..., mas em suas mãos não havia rastros de queimadura ou de outra marca causada pelo contato com poder angelical.

A espada havia ido tão fundo que atravessará o corpo de Balthazar, a ponta se enfiando na parede atrás dele, o deixando preso contra a parede por ela. Sangue escuro jorrou do machucado e por sua boca e nariz, e a pele do demônio começou a ganhar um tom estranhamente cinza conforme os minutos se passavam. Havia sido um golpe certeiro, diretamente no coração. Não parecia restar-lhe muito tempo.

_ Vê Emily? Eu disse a você que ele não teria chance. No final das contas meu irmão não foi capaz de acabar comigo, eu venci. _apontou o demônio parecendo não acreditar no próprio feito. Sempre havia imaginado que Balthazar seria invencível, assim como ele, alguém quase impossível de se matar. Seus poderes sempre foram semelhantes aos seus, era um feito e tanto o que havia acabado de acontecer. Mas havia sido tão fácil acabar com ele. Fácil demais...

Enquanto Lúcifer encarava a figura de Balthazar, que parecia ficar com o tom de pele cada vez mais acinzentada a cada segundo, enfim se deu conta. Seu semblante se tornou uma máscara obscura quando tudo ficou claro, tão irritado que os olhos brilharam em um vermelho tão intenso que todos ali puderam sentir seu ódio.

_Essa não é espada de Miguel. _afirmou ele tremendo de ódio. _E este não é você. _sussurrou o rei do inferno para a figura presa contra a parede pela espada.

_Você achou mesmo que eu iria subestimar você outra vez, irmão. Está para nascer o dia em que farei isso de novo. _riu a voz perigosamente calma de Balthazar vinda agora de trás dele, vinda de onde Emily estava. _Prever seus passos não foi tão difícil, afinal.

Ao virar-se Lúcifer pôde ver que a figura de Balthazar presa contra a parede com a espada falsa na verdade era uma ilusão, muito bem-feita para parecer tão real. O verdadeiro Balthazar se encontrava agora em frente a Emily e Evelyn, próximo a janela no fundo da sala, havia entrado na sala sem que pudesse percebe-lo ou sentir sua presença e até mesmo Cérbero havia sido enganado e rosnava furioso.

Evelyn que minutos antes mantinha Emily prisioneira parecia ter trocado de lado e havia de algum jeito participado do plano de Balthazar para enganá-lo.

_Evelyn sua traidora! _rosnou enfurecido. _Tínhamos um acordo. O voto perpétuo...

_Seu erro foi ter feito um voto perpétuo com Leviatã e não comigo diretamente. _disparou a meio-demônio amargamente. _Você sabe que sou propensa a traições.

_Ele irá matá-la depois que conseguir o que quer. O que ele prometeu a você? Que tipo de pagamento ele lhe dará que eu não poderia ter lhe dado? _disse o demônio extremamente furioso por ter sido enganado.

_ Não fiz isso por pagamento algum. _respondeu Evelyn lançando a Balthazar um olhar intenso que dizia tudo. Fizera aquilo por ele, porque apesar de tudo realmente o amava. _Faço isso por perdão, ou talvez o início de um. Fiz isso por Balthazar...

_Afinal você realmente o amava?! Ah por favor Evie, nós sabemos que isso não é algo que seja possível vindo de você! _exclamou Lúcifer perdendo a paciência. Estava mais do que irritado, estava extremamente furioso.

Evelyn não respondeu e se pôs ao lado de Balthazar, mostrando a que lado servia agora.

Azazel que por causa do voto perpétuo feito momentos antes lhe devia lealdade se pôs ao seu lado, assim como o cão de três cabeças que rosnava de maneira impaciente, parecendo desesperado para que seu mestre lhe desse a ordem para que avançasse contra os inimigos.

_Um bom plano, confesso que me deixou surpreso. Mas ainda estou em vantagem. São três contra você e Evelyn. Emily não conta, ela é humana. _lembrou-o Lúcifer com a expressão extremamente doentia, encarando a humana que estava logo atrás de Balthazar de maneira sombria.

_Aí vem a segunda parte do plano irmão. Nunca pretendi lutar com você, mas sim te deixar fraco o suficiente para matá-lo. _esclareceu Balthazar.

_Como pretende fazer isso? _perguntou o outro demônio rindo secamente. _Vai usar a espada? Onde está a verdadeira espada de Miguel, afinal? sei que está com você. _quis saber Lúcifer direcionado seu olhar assassino ao irmão.

_Está aqui! _exclamou uma voz feminina vindo da porta da enorme sala.

Mistério Dos Sombrios Vol 1Where stories live. Discover now